Se pudesse ver Emilie outra vez...

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No dia seguinte viu Marinette entrando na sala de aula alheia a sua outra identidade. Ainda assim, desta vez ela o olhou e abaixou a cabeça, talvez tivesse corado um pouco. Como tinha sido completamente cego para tantas coisas durante tanto tempo?! A identidade da Ladybug, de Hawk Moth, o afeto que Marinette tinha por Adrien... Despertou dos próprios devaneios com o Nino a lhe chamar atenção.

— Você dormiu essa noite, bro? Sua cara de sono é tão evidente! Espero que não tenha sessão de fotos tão cedo, ia ser difícil disfarçar essas olheiras...

— Problemas com meu pai, Nino.

— Seu pai é um problema! — Adrien ficou com vontade de rir de desespero. Sim de fato Gabriel era um problema. O que faria?

A tentação havia sido grande demais, uma coisa era uma amiga, uma pessoa que tinha conhecido por alguns meses, outra era sua mãe. Chat Noir pediu a Marinette os brincos e ela, alheia a sua identidade como Adrien e sem saber de todos os detalhes daquela situação entregou a ele. Nada mais natural, afinal de contas havia sido ele a trazer os brincos para ela.

Quando ele estava em seu quarto olhou os brincos, sem desfazer a transformação de Chat Noir, não queria ouvir Plagg ou não faria. Olhou para os brincos sem saber ao certo o que fazer então um estalo em sua mente fez com que intuísse o que faria! Os brincos tinham as pontas afiadas, como daqueles que são usado para furar a orelha Ele tirou as tarrachas e pressionou a ponta nos próprios lóbulos perfurando a região. Sangrou um pouco, mas ele meteu a tarracha sem se importar, quando usasse o poder aquilo não teria importância alguma. Quando Tikki surgiu tentou lhe falar.

— Não Adrien! Você não sabe! Não deve, isso é tão errado! Você não pode...

— Spots on! — Não havia o que conversar com a kwami ele não seria dissuadido e ela era compelida a obedecer à vontade do portador. Sua transformação se fez mesclando o uniforme negro de Chat Noir ao vermelho com pintas da Ladybug. Sua imagem ficou um tanto estranha, ele pode ver pelo reflexo nas janelas do quarto.

Tinha pensado que fosse sentir algo... Tentador, o poder avassalador de mudar o universo. Mas sentiu-se apenas... Estranho.

Ainda não sabia ao certo como faria então pode perceber a realidade na ponta dos dedos, algo que lhe dava a sensação de massinha de modelar, como se pudesse dar aquilo a forma que achasse melhor. Mas não queria muito, na verdade queria muito pouco até, Emilie... O que deveria fazer? Então tinha um fio nas mãos, como se houvesse um enorme carretel de linha do tempo da existência do universo. Então, ao invés de puxar o fio fazendo com que se desenrolasse que seria o movimento natural ele pegou a linha e enrolou uma volta.

O traje estranho sumiu em mistura de luzes verde e vermelha. Mas os kwamis não estavam ali. Levou a mão às orelhas e percebeu que não apenas não doíam mais, mas que os brincos haviam sumido e elas não estavam mais furadas, o anel não estava mais em seu dedo. Como tinha sumido sem que percebesse? Ele estava menor?!

Então ouviu uma discreta batida a porta do quarto e Emilie entrou em seguida.

Mal podia acreditar que ela estava ali!! O mesmo sorriso doce do qual se lembrava! Céus! Que saudade! Foi em sua direção abraçando forte ao alcançá-la.

— Nossa Adrien! Nem parece que sai do seu quarto a quinze minutos! Já está pronto? Você sabe que seu pai odeia que atrasemos, na ópera a sala é fechada depois do inicio do espetáculo.

Ele estava com uma bota de imobilização no tornozelo e terno. Mal se lembrava de que usava terno aos treze para ir para a ópera com os pais! Saia tão pouco na época! Recordou-se do seu acidente na esgrima, foi no dia que os pais deveriam viajar para o Tibet, e eles não foram!

Apresentação de ópera era bem mais chata do que se lembrava, mas isso não tinha a menor importância, passou a maior parte do tempo assistindo sua mãe, seus pequenos gestos as vezes que cochichava algo para Gabriel, provavelmente relacionado à peça que assistiam. O tempo voou e logo eles voltaram para casa.

Os dias passaram como se tudo tivesse sido daquela forma sem que nada houvesse interrompido aquela rotina.

Emilie tocava piano, coordenava os afazeres da casa e saia eventualmente em companhia de Gabriel. Adrien nunca havia notado antes, mas agora as coisas lhe pareciam mais claras, sua mãe sempre saia de casa em companhia do pai. Nunca tinha visto desta forma, mas pelo visto, Emilie era tão prisioneira quanto ele ali.

Seja lá o que tivesse acontecido no Tibet para que o pai retornasse sozinho daquela viagem, não ocorreu desta vez. Aquelas joias mágicas realmente haviam existido ou tudo não tinha passado de uma fantasia maluca? Ninguém, exceto ele, tinha qualquer recordação dos dias que deveriam ter acontecido, mas tinham sido mudados.

No começo do ano, apesar ele tivesse tentado estratégia similar para ir ao colégio, desta vez, não funcionou. Gabriel se menteve irredutível.

Quando o carro com o motorista se afastava do Dupont ele pode ver pela janela Chloé e Sabrina tomando o material escolar de Marinette e jogando no chão, de forma que folhas, lápis e canetas se espalharam pelo calçamento de fronte ao colégio. Mas o carro já ganhava velocidade e ele não pode ver mais nada.

Os dias passavam em tédio absoluto para ele, tirando os momentos que estava com Emilie, estava estudando ou lendo. Não se lembrava de que nessa época, estudava muito mais do que quando ingressou no Dupont e se antes não sentia falta dos demais alunos do colégio, pois não conhecia ninguém, hoje tinha plena noção do que havia fora daquela casa e o contato que ele perdia.

Será que Marinette havia conhecido a Alya? Será que ela tinha alguma recordação, ou seria como todos os outros? O anel não surgiu em sua mesa quando deveria, será que alguma outra pessoa estava com ele ou será que não seria usado, será que o anel existia?

Nesta data Ladybug e Chat Noir já teriam feito algumas aparições, mas até o momento, Paris desconhecia qualquer um dos heróis. Era como se a caixa dos miraculous nunca houvesse existido.

Um dia, farto daquela gaiola de ouro, Adrien tentou sair pela janela do quarto. Iria a até a casa do Mestre Fu, precisava avisar o senhor e Claire que fizessem testes de sangue nela e procurassem um doador compatível, mesmo que e se a doença não tivesse ainda se manifestado. Foi muito mais difícil do que quando era Chat Noir, quando desceu ao chão quase caiu de mal jeito.

Quando chegou a casa de Mestre Fu notou que algo estava errado, naquele local havia um consultório psiquiátrico. Não conseguia compreender! A única coisa que deveria ter mudado deveria ter sido a viagem dos pais. A consequência de sua mãe estar viva e talvez por isso ele não conseguir ir ao colégio era uma coisa, que estava relacionada, mas não o Mestre Fu! O senhor deveria morar ali! Quando olhou para a sala de espera viu Claire sentada em uma das cadeiras esperando junto com sua mãe. Ela olhou em seus olhos disse em alto e bom tom, chamando um pouco a atenção de sua mãe e da recepcionista.

— Você não deveria ter feito isso, Adrien! Tudo está errado agora! — Mas logo sua mãe a segurou pelo braço chamando sua atenção enquanto falava com Adrien.

— Aaah, me desculpe! Às vezes ela fala algumas coisas sem sentido... Sinto muito, ela não vai mais lhe dizer nada, certo, Claire?

Quando ele saiu à rua novamente tudo estava estranhamente quieto. Algo estava muito errado? Então ele se virou para trás e viu Hawk Moth na outra calçada, olhando para ele.

— Adrien! Adrien! Caraca, mano acorda! Ou a Profa. Mendeleiev vai notar que está dormindo! Na aula da Bustier ela notou, mas deixou porque você parecia muito cansado, não dá para dormir na primeira carteira seu idiota!

Adrien sentiu seus braços formigando por ter dormido sobre eles. Caralho! Sua mente já estava tão confusa que nem sabia mais no que acreditar. Os sonhos, o acidente com sua Lady, Mestre Fu, Claire! Procurou pelo anel e sentindo-o no dedo e se moveu na carteira sentindo o kwami se remexer no bolso. Sentia um enorme desejo de olhar para trás para ver se Marinette usava os brincos, mas a Profa. Mendeleiev havia acabado de entrar na sala. Ele balançou a cabeça para despertar melhor, e então a textura que havia sentido nos dedos o fio da passagem do tempo, tudo aquilo lhe pareceram coisas absurdas demais para serem realidade. O que não era absurdo demais na sua vida de um ano para cá?!

Não iria pedir o miraculous a Marinette, e não deixaria mais Hawk Moth agir. Tinha um plano e precisava conseguir por em prática logo.

Fatalitéحيث تعيش القصص. اكتشف الآن