Carteira vazia

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— Viu, minha pequena? Não foi assim tão difícil...

— Não sei Biso... E você? Quando vai melhorar?

Fu estava deitado na cama e Claire segurava suas mãos. Biso era a forma carinhosa que a garota chamava por ele. Quando a bisavó ainda era viva, ela era muito pequena, e a chamava de Bisa e naquela época acabou criando o apelido carinhoso para ele. Ele era o Biso, seu Biso.

Ela se sentia muito estranha naquela família, era filha única havia sido como um milagre para os pais. O casal perdeu bebês antes dela nascer, mais do que poderiam suportar. Então, já tinham desistido de tentar quando ela veio. Demoraram para perceber, pois, achavam que sua mãe já não teria mais filhos. Seus pais poderiam se passar facilmente por seus avós... Os avós já haviam morrido, todos eles. Também foi um milagre que ela tivesse chegado a conhecer sua Bisa.

Na noite anterior ouviu o pai discutindo com Biso. Ficou assustada, eles dificilmente se exaltavam. Biso deitado, explicava que não poderia ter feito diferente e Chang falava em tom mais alto que o normal, que ele sabia das consequências.

[...]

Após a luta quando Adrien já estava deitado sonhava acordado que, amanhã, Marinete estaria na escola! Não tinha lógica, não tinha sentido! Ele sabia que não era ela, ele mesmo tirou os brincos... Ainda assim não conseguia evitar pensar nisso e sabia que se decepcionaria. Mas depois de tanto tempo sem Ladybug e sentia-se tão mais leve! Era como se o miraculous dela pudesse ter resolvido todos os problemas de Paris dos últimos dias. Era como se tudo tivesse sido um enorme sonho ruim que tivesse acabado. Ele sabia que não era verdade. Antes mesmo de deitar viu as notícias sobre a reaparição da heroína e o alívio que pairava por Paris depois de tanto tempo de sua ausência. Porque Paris só havia sentido a falta da heroína e não da garota. Apenas alguns sentiam falta da Marinette, mas quem sentia, sabia que seria insubstituível...

Quando a mãe dela avisou, disse que havia sido um acidente de carro e claro que a notícia logo se espalhou pela sala e pela escola inteira. Não era comum um acontecimento desses. Mas as pessoas precisavam voltar aos afazeres. Era como se tivessem jogado uma grande pedra em uma bacia cheia até a borda. A pedra submergia causando ondas na superfície da água e o derramamento pela borda, mas depois de algum tempo a água voltava a ficar calma. A escola em si já começava a ter o aspecto de normalidade, a maior parte dos alunos não fazia mais referências ao acidente, outros tantos ainda tentavam esquecer ou apenas ignorar. Já na sala deles o "clima" continuava pesado, alguns alunos já agiam com maior naturalidade enquanto outros ainda pareciam estar descobrindo como encarar a sala com aquele lugar vazio. Era estranho, mesmo quando faziam trabalhos escolares em grupo na sala, ninguém sentava no lugar dela, era como se fosse desrespeitoso por não ter ninguém ali para pedirem licença. E Adrien a via com frequência lá, mas na escola, ela não conversava com ele, só olhava. E ás vezes isso lhe dava uma enorme agonia, pois, sem tocar não poderia dizer se realmente poderia estar ali mesmo sabendo que não estaria...

Alya estava na fossa, muito na fossa. Tinha brigado com o Nino naquele dia e não estava muito interessada em nada. O sorriso e as brincadeiras eram agora, muito raros. Ela ainda atualizava o Ladyblog, mas não se empolgava mais com isso. Apesar de Paris ter comemorado em muitas reportagens a volta da Ladybug o Ladyblog só atualizou poucas notas. Algum seguidor fez o upload de um vídeo amador da batalha. Os detalhes eram poucos, mostrava apenas o final da luta quando ela apareceu capturando o akuma, mostrava também quando ele foi suspenso no ar. E realmente, não se lembrava de ter encerrado tantas lutas sozinho quanto o número de borboletas que via subindo e sumindo no céu ao final. Naquele mês ele estava desatento das tarefas e trabalhos, mas Alya, ao contrário, parecia prestar mais atenção, talvez por sentir tanta falta preferisse enviar a cara nos livros e trabalhos para não se lembrar. Mesmo assim... não era nada bom, por que ela não conversava quase com ninguém.

E lembrou-se do rosto da Marinette quando a visitou no dia anterior. Tão calma! Pensava como passou tanto tempo sem perceber que ela sempre sumia quando surgia um akuma, bem não era tão difícil assim que ele não tivesse notado, pois, precisava se transformar também. Não era uma questão de covardia, mas de necessidade. Não adiantava correr como Adrien até um akumatizado. Se alguém está se afogando, não adianta pular na água se você não sabe nadar. Era um movimento calculado, frio até, mas necessário. Policiais, bombeiros... vários faziam esses cálculos de alguma forma quando se arriscar demais não dava nunca bons resultados. Mas só agora, livre daqueles akumas, conseguia pensar um pouco melhor sobre aquilo, com menos dor e com mais esperança. Marinette não morreu, estava em coma, mas seu quadro era estável. E ele teve certeza que ela iria acordar e com o pouco que conhecia dela. Não iria gostar ver as coisas como estavam agora.

[...]

No dia seguinte acordou tarde, já com Nathalie batendo a porta, não sabia se porque só conseguiu dormir muito tarde ou se porque quanto antes chegasse, antes veria que ela não estaria lá.

Quando entrou na sala, não conteve um olhar de decepção para o lugar vazio. Nem ela, silenciosa, estava ali naquele momento, se estivesse poderia até ter se confundido. E em seu lugar havia uma grande caixa de som, provavelmente porque Nino pensou que não viria (tinha faltando alguns dias, depois que Gustav se afastava de carro ele saia da escola) e achou que não teria problema em apoiar o equipamento ali. Mas na hora que notou não conseguiu pensar em nada mais certo do que sentar ali do lado da Alya. E claro, muitos olharam de forma estranha para ele. E Alya, bem, Alya parecia querer fuzilá-lo com o olhar. A professora que estava virada para o quadro olhou após ouvir a movimentação na sala, mas não disse nada.

— O que você está fazendo aqui, Agreste?! – murmurando irritada.

— Esse lugar estava vazio e eu quero assistir a aula. Precisamos conversar, mas não agora, não daria certo, então fica calma.

Ela não aceitou e continuava irritada, mas Adrien simplesmente ignorou e começou a prestar atenção na aula. Era a primeira aula que não tinha vontade de simplesmente sumir dali desde o acidente. E sentiu que estava certo quando a viu no canto da sala próxima a lousa acenando para ele em incentivo.

No intervalo, vários alunos saíram rapidamente para o pátio, mas Adrien notou que Alya não se preparava para sair e decidiu ficar ali com ela para trás. Nino também queria ficar por ali, mas tinha que levar a enorme caixa de som que trouxe por causa do evento que o terceiro ano iria fazer no dia seguinte. Então saiu levando o equipamento da sala. Talvez Chloé tivesse pensado em ficar por ali também, mas desistiu, ainda não se sentia muito bem e não queria ver a Alya e o Adrien discutindo por conta de um lugar...

— Então, o Nino já levou a caixa de som embora, você pode mudar de lugar.

— Posso, mas não quero. Qual o seu problema? É só uma carteira...

— É a carteira dela, você não é assim tão meu amigo, prefiro ficar só do que na sua companhia.

— Porque, claro, ela iria querer que você ficasse guardando o lugar dela para que ninguém pudesse usar. Você nota como isso é esquisito? O que você acha que ela iria querer se estivesse aqui?

— Iria querer sentar no lugar dela, Agreste! Você poderia ter sentado do lado do Ivan ou do Nathaniel. O que você acha que sabe dela para dizer sobre o que ela iria querer ou não? Vocês nem nunca conversaram direito!

E aquilo doeu, muito! Porque ele não teve assim tantas chances de conhecê-la. Talvez devesse ter deixando mais compromissos agendados pelo pai de lado, para poder ver Mari, Alya e Nino com maior frequência. Mas agora nem sabia quando veria Marinette realmente desperta novamente. E todas as vezes que ele tentava falar com ela antes, ou ficava quieta ou saia rapidamente, como se não quisesse ficar perto dele. Quando perguntava algo, mesmo que alguma coisa banal ela falava algo engraçado, ou gagueja e acabava não respondendo. Já as respostas dela como Ladybug eram sempre diretas e determinadas e as palavras sempre positivas e encorajadoras! Bem talvez não tanto para o Chat Noir porque ela nunca iria encorajar todo aquele atrevimento... Adrien levantou e levou suas coisas. Depois do intervalo iria sentar com Nino, já que a caixa de som não estava mais ali.

FatalitéWhere stories live. Discover now