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— Você começa. — ela afirmou, se sentando em um banco de uma parada de ônibus não tão distante da rua de minha casa.

— Nem morto, é você. Yeojin, está rolando um furdunço sobre sua suposta saída no colégio e eu quero saber se isso é verdade. — ela suspirou fundo, colocando as mãos sobre as coxas aconchegadas.

— Você fala muito imprudente. — ela me olhou, previsivelmente surpresa com meu tom de voz.

— Você nem sabe o que imprudente significa! — me sentei ao seu lado, voltando o assunto — Vamos, responde.

— Você sabe que eu nunca saío. Apenas dou uma sumida por alguns meses e depois volto. — deu de ombros — Apenas um detox social.

— Yeojin, é o ensino médio. — murmurei, irritado — Você não pode ficar sumida desse jeito, do nada! Tem quase dezoito anos e ainda está tentando terminar o primeiro ano. Eu digo isso porque me preocupo com você, e ainda mais porque odeio ver as pessoas falando o que quiserem sobre você e não poder fazer muita coisa pra calar a porra da boca...

No meio daquela avenida, no meio de todo aquele escuro do meio da noite. O silêncio se instalou e não se restava mais nada entre nós do que apenas angústia e receio.

Eu entendia o ponto de Yeojin. Eu sabia que a vida dela era difícil e blá blá blá, mas porra?! Nem ela se ajudava, isso estava me irritando.

— Tudo bem... — ela tombou a cabeça para trás, apoiando os cotovelos nas costas do banco onde sentavámos — Você está certo.

— É claro que eu estou, caralho... — franzi o cenho, visando meus pés.

Era ainda estranho a sensação de ter Yeojin por perto, enquanto estivesse de mal com Jeno. Não existia semelhança alguma entre um e outro.

Ela facilmente me irritava, porque era extremamente importante para mim que estivesse segura das pessoas ao nosso redor. Já Jeno, ele fazia isso comigo.

— Agora diz você. — limpou a garganta, franzindo um pouco suas sobrancelhas uma na outra e me encarando — O que houve com você e Jeno?

— Vamos resumir... — respirei fundo, olhando para a avenida vazia, tentando encontrar um modo fácil de explicar — Eu gosto de Jeno, faz muito tempo, você sabe. Nós concordamos em algo; mas então eu fiz bobagem e em uma enlouquecida disse os meus sentimentos. Ele não corresponde da mesma forma, está chateado comigo e agora estamos sem nos falar... Tudo por burrice e impulsividade minha.

— Poderia ser mais direto, para eu poder ver como te ajudar?

— Nós nos beijamos, então rolou outros rolo com o Renjun e eu desabafei sobre isso tudo com Chenle. Era tudo segredo, então é meio óbvio que ele ficou puto da cara comigo. — ela inspirou alto.

— Aí é foda... Mas veja pelo lado bom, você pelo menos pode beijar ele. — tentou articular e ver as partes mórbidas da história.

Mas esse era o problema. Eu não queria ver as partes mórbidas. Tudo aquilo me pesava, era uma culpa inadmissível. Eu me via em uma direção, sem poder olhar para os lados e ver em novas perspectivas. Quem conseguiria enganar? Eu me sentia a pior pessoa do mundo e tudo em mim poderia doer por isso.

— Não... Consigo... — senti a ponta de meu nariz esquentar, bruscamente, minha garganta se fechou outra vez ao refletir sobre tudo.

— Você pode chorar se assim se sentir melhor, primo... — ela enroscou o braço no meu, pegando em minha mão e a acariciando, com atenção.

— Eu não consigo mais... — fechei meus olhos com força, suspirando fundo e engolindo meu choro de vez.

Minha prima me puxou e abraçou com carinho e afeto. Acariciava minha mão, desajeitada pelas nossas posições. Sentia ela respirar fundo entre a curvatura de meu pescoço, se permitindo negar a todo custo a dor que compartilhava.

— Tenta organizar essa sua cabecinha e se entender com ele, caso seja esse o motivo de toda sua dor, pequeno. Eu apenas quero que você fique bem, e nada mais.

blue diary | nominOnde as histórias ganham vida. Descobre agora