Sounds of Heart

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POINT OF VIEW JULIETA SMITH

"Bem-vindo á Wayne

População: 19.051 habitantes".

Já estava amanhecendo quando cheguei à outra cidade, dirigindo sem rumo, até parar em uma cidadezinha chamada Wayne. Eu estava cansada e sentia os meus pés inchados, vi o letreiro de Motel em vermelho apagar-se e estacionei na frente, descendo com o meu vestido de casamento, sua saia arrastando no chão sujando. Peguei a minha carteira no porta luvas, verificando se estava com o dinheiro e sim, eu estava. Entrei na recepção, vendo um homem adormecido e arranhei a garganta, o despertando e ele pulou, assustado.

- Sinto muito. - Disse baixo. - Não quis lhe assustar.

- Nossa, moça! Desculpa em falar, mas em que diabos você saiu? - Perguntou analisando o meu vestido e provavelmente meu rosto borrado pela maquiagem.

- Do meu casamento.

- Pegou o marido no pulo?

- O que? Não, mais ou menos. - Franzi o cenho. - Você tem um quarto?

- Claro! Vai ficar quanto tempo?

- Eu não sei. - Dei de ombros.

- É cinquenta reais, a diária. - Paguei o homem. - Bem vinda á Wayne, quer ajuda com alguma coisa?

- Não, mas obrigado.

Dei as costas e peguei a minha mala no porta malas, acionando o alarme do carro e procuro pelo quarto 3A, abrindo e entrando. Usavam um papel de parede florido, uma cama arrumada de casal e uma pequena televisão na frente. Havia outra porta, que deveria ser o banheiro e entrei no mesmo, acertando minha dedução. Coloquei a mala no chão, parando em frente ao espelho e vendo meu vestido de noiva amarrotado, debaixo dos meus olhos estava borrado pelo rímel, meus olhos marejaram ainda mais e respirei fundo. Retirei o vestido, ficando apenas de lingerie e entrei no banheiro, ligando o chuveiro e tomando um banho. Tirei a maquiagem debaixo d'água.

Eu não sabia como viveria daquele dia em diante. Sabia que se voltasse para Detroit, Justin tentaria falar comigo e provavelmente usaria uma das suas mais desculpas. Eu não aguentava mais estar em uma situação de montanha russa. Estar no ar era maravilhoso, você sentia o céu, mas então caia sem aviso prévio e sentia que cairia de cara no chão. Eu amava Justin, mas agora não se tratava de nós e sim de outra vida, outra vida que estaria no meio do caos que os seus pais eram. Eu não me sentia bem escondendo um filho dele, porém não sabia como me sentiria mostrando um para ele.

Minha cabeça estava completamente de cabeça para baixo, eu me sentia uma bagunça. Não sabia o que pensar, eu só queria chorar naquele momento. Jamais conseguiria esquecer aquela maldita cena, aqueles sons, como todos me encaravam. No dia do meu casamento, era para ser o dia mais feliz da minha vida e acabou tornando-se o meu pior pesadelo.

Traída.

Desliguei o chuveiro, me secando e visto uma nova lingerie, apenas usando uma camiseta larga e jogo-me na cama, cobrindo-me e esperando pelo sono chegar. Eu havia passado a noite toda dirigindo, apenas tentando pensar, mas quando vi estava fugindo de Justin e de todos. Eu não precisava de suas falsas desculpas e muito menos de olhares de pena para mim. Eu precisava de equilíbrio e não era ao seu lado que eu teria.

Lágrimas acumularam-se em meus olhos, vindo tão forte que foi impossível ignorar. Muito menos segurar. Eu sentia o oceano saindo dos meus olhos, tão profundo e tão cheio que não parecia ter fim o choro salgado. Mesmo que eu engolisse, o bolo na garganta não saia. Como se quisessem me mostrar o porquê de eu estar onde eu estou. Eu me sentia em constante movimento, movimentos em círculos. Sempre parando no mesmo lugar, na mesma dor. Era inevitável não sentir quando tudo que eu conseguia era sentir, sentir dor. Ele havia me destruído e nunca poderia me concertar. Poderia colar pedaço por pedaço, mas sempre faltaria um. Um pequeno que se espalhou e jamais será encontrado. Esse pedaço era importante.

Abstinence | CONCLUÍDADonde viven las historias. Descúbrelo ahora