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(capítulo especial de estreia) 

A nossa pequena cidade, perdida no meio das montanhas rochosas do Colorado, tem sete tipos de céu no verão. É por isso que ela tem esse nome. Seven Heavens. As pessoas acreditam que cada um deles é uma porta de entrada para o paraíso. É a forma como você vai ser recebido pelos anjos.

Às vezes você pode ver uma ou outra variação de céu ao longo das estações. Mas é no verão que os sete céus disputam os melhores dias do ano. Infelizmente ainda estamos nos contentando com os céus do início de uma primavera retraída e algente que empurra o rigoroso inverno da região para longe, mas em passos vagarosos.

Já é quase noite do lado de fora e eu estou parada atrás da caixa registradora do nosso cybercafé, olhando para o céu número três. Há pinceladas em tons de damasco e lilás no seguimento inferior das nuvens espaçadas. É o céu de Sorbet. A neve ainda está cobrindo parte de Seven Heavens e faz com que o céu tenha uma textura cremosa incrível, como um sorvete italiano legítimo.

Um único teclado de um dos nossos velhos computadores está sendo batucado ao fundo. Ele quase é abafado pelo chiado de um country antigo que soa no fone no meu ouvido esquerdo. Deito a cabeça um pouco de lado, sobre a mão apoiada na bancada e canto um pedaço da música.

Eu não faço ideia de como aquela música se chama, mas todas as pessoas em Seven Heavens sabem cantar as músicas da nossa única estação de rádio: a rádio fantasma. Ela funciona sintonizada sozinha. Vinte e quatro horas por dia e ninguém nunca encontrou uma maneira para desativá-la.

Quando a Sra. Dixie finalmente termina de digitar a sua vigésima receita e se encaminha para o caixa, empurro o fone para o lado e lhe dou um sorriso.

― Como foi o trabalho hoje? ― Eu estranhamente pergunto, afinal, sou eu quem está trabalhando, de fato.

― Muito bom, Liv. Ainda faltam trinta e duas receitas, mas tenho fé que consigo terminar o meu livro até o verão.

A senhora Jolene Dixie afofa o seu corte mullet ruivo para baixo. Eu a conheço desde que nasci e nunca a vi com outro tipo de cabelo. Acho que ninguém nunca viu, aliás. O mais surpreendente é que quase não há cabelos grisalhos no mullet da Sr. Dixie. Ela sempre diz que é efeito das cenouras orgânicas do seu quintal.

Mordo meu sorriso, contendo a minha vontade de dizer à Sra. Dixie que não me importo em digitar todas as suas receitas infinitas. Mas o papai já me alertou que ela tem um prazer especial em ficar o dia todo na nossa loja. E quanto mais a Sra. Dixie passa na frente do computador, mais dinheiro a família Wilder e seu cybercafé recebem.

― E o seu trabalho, querida? ― Ela puxa sua pequena bolsa felpuda cheia de dinheiro.

― A mesma coisa monótona agora que os turistas foram embora, Sra. Dixie.

Mexo os ombros, contando as notas que ela me passa. A verdade é que Seven Heavens só recebe turistas no inverno e no verão. No inverno por causa das estações de esqui e no verão por causa das inúmeras festas adolescente sob os sete incríveis céus. E como a nossa casa de informática é o único ponto de Seven Heavens com internet, estamos sempre cheios nas altas temporadas.

Quando eles vão embora, faturamos com os estudantes e com pessoas como a Sra. Dixie. Os estudantes demoram demais fingindo que estão estudando quando estão vendo qualquer outra coisa inútil e os mais velhos passam o dia todo tentando executar uma simples tarefa.

― Mas o negócio vai bem. ― Pisco um dos olhos, erguendo uma nota de vinte dólares. ― Seu troco.

― Oh, não, querida. É a sua gorjeta. Você merece, Liv. Para o fim de semana.

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