VI

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Mais tarde encontrei em casa muito do que fazer, nas minhas andanças, encontrei uma biblioteca recheada e pus-me a vaguear por ali tirando um ou outro livro e colocando-os novamente nos mesmos sítios, estavam por ordem de conteúdo, numa prateleiras mais acima onde tínhamos que subir numa pequena escada encontrei uns com umas capas desenhadas a carvão, pareciam meio abstractos os desenhos, mas dava para perceber que eram mulheres nuas agarradas a homens nus, olhei para a porta para ver se via alguém e abri um dos exemplares, eram posições sexuais, credo, como era aquela? virava e revirava a minha cabeça achando impossível alguém fazer o que estava ali desenhado.
-Sim também acho impossível - assustei-me e deixei cair o livro das mãos indo parar ao chão.
- Santo deus - e coloquei as mãos no coração - Sam, assustaste-me - desci as escadas rapidamente para apanhar o livro do chão, mas Sam foi mais rápido e apanhamos o livro ao mesmo tempo, estava aberto numa página onde se via uma mulher deitada de pernas abertas e o homem com a cabeça entre elas," cunnilingus ", dizia por baixo da imagem, olhámos e olhámos de volta nos olhos um do outro.
- Esta é bem mais fácil - desceu o olhar sobre a minha boca e passou um dos dedos que agarrava no livro por um dedo dos meus, sem notar estava bem perto dele e olhei também para a sua boca, era linda muito bem desenhada, àquela distância conseguia ver os pelos hirsutos da sua barba, loiros, como o cabelo, sem me desviar recebi os seus lábios nos meus, deu-me um beijo apaixonado, nada mais no nosso corpo se tocava apenas a boca e parecia que de nada mais precisava, continuámos a beijarmo-nos, entreabri os lábios para receber a sua língua, sabia a doce, deixei-me envolver e ouvi lá muito longe um murmúrio, assustei-me e desviei-me dele deixando-o ficar com o livro e saí a correr da biblioteca.
-Senhorita Andreza, eu... - era o General, mas eu não parei subi as escadas o mais depressa que pude entrei no meu quarto e encostei-me na porta agarrada à boca. Meu Deus, meus santos todos poderosos, que raio de sensação foi aquela, como fui beijar o Sam, ainda ontem o conheci, o meu decoro não deve ter acordado hoje, ficou com o de Imelda, meu Deus que beijo foi aquele, nunca tinha sido beijada desta forma. Senti-me uma jovenzinha parola do meio do mato. Eu era uma mulher de Inglaterra, por Deus, tinha atravessado o oceano sozinha, como era possível sentir-me um prato de geleia, sem discernimento, sem controlo. Não desceria para jantar, não podia encara-lo.
Imelda já tarde da noite, subiu ao meu quarto com uma travessa recheada de acepipes que devorei enquanto ela me arranjava a cama.
-Querida, porque não desceu para jantar, estou a ver que não foi por falta de apetite, não acreditei nem um pouco nessa enxaqueca que disse ter, nunca foi dada a esses piripaques. - Levantei os olhos para ela, mas ela continuava a arrumar a cama.
-Ah! Doía-me mesmo a cabeça, a sério, ainda não recuperei da viagem.
-Hum... está bem, se é isso que quer dizer, eu não pergunto mais nada, chegue aqui que eu ajudo-a a trocar de roupa. - fui até ela e virei-me de costas, de frente para o espelho.
-Imelda.
-hum?
- Acha que sou bonita? Não diga só por dizer, diga a sério, se me conhecesse agora, diria que sou bonita?
- E isso agora, é porquê? - perguntou-me espreitando por cima do meu ombro, olhando para mim pelo espelho.- acaso julga que não é? Já se mirou bem, minha querida, ou alguém lhe disse que era feia? - e com cara de má, parou de me despir e meteu as mãos nas ancas - diga quem foi que eu vou lá e coso-lhe a boca, por mais bonita que seja.
-Boca bonita? - e fiquei vermelha, tinha de aprender a controlar as minhas emoções - não, perguntei só por perguntar.
- Hum... sei, essa dúvida não tem nada a ver com um certo guerreiro de milícia?
-Guerreiro - disse com ar sonhador, tornei a olhar para ela pelo espelho e Imelda estava fixa no meu olhar, com um pouco de zombaria. - claro que não, só perguntei por.. Nada, deixe estar, já consigo despir o resto, vá dormir, obrigada. Até amanhã. - deslocou-se para a porta com um leve até amanhã, com a mão ainda na maçaneta da porta, virou-se para mim
- Menina, você é linda, tal e qual como era a sua mãe, uma perfeição de mulher, mas como ela, o que tem de mais bonito em si é o seu coração, que é grande e puro. E se eu a conhecesse só de hoje, diria que era a pessoa mais sortuda no mundo por poder travar conhecimento consigo. Até amanhã querida sonhe com os anjos, ou...bem sonhe com quem quiser...
Sonhei com Sam, novamente, um sonho atribulado onde eu e ele nos entrelaçávamos de várias maneiras em abraços esquisitos, e ele mordiscava-me aqui e ali e eu contorcia-me de uma forma que não entendia, acordei a suar e totalmente esbraseada. Era manhã, Puxei as cobertas e saltei da cama, passei-me por água e penteei os cabelos, poderia deixá-los soltos, afinal sendo solteira ninguém me obrigaria a colocar uma touca, nem depois, disse para mim, agarrei neles e fiz uma trança, não tinha enfeites para lhe colocar como Sam, mas caía reluzente pelas minhas costas até à cintura, coloquei-a de lado. Desci, e ouvi vozes no salão, uma voz quase feminina, ouvia-se do lado de lá da porta, tinha de me habituar seria assim até que as coisas se resolvessem e o exército encontra-se outro pouso. Entrei e todos se voltaram para mim, fazendo uma pequena vénia a que correspondi, logo o General veio até mim.
-Minha querida anfitriã, srta Andreza, chegue perto de nós quero apresentar-lhe o General Pulaski. - fui para perto do homenzinho que não chegava sequer ao meu ombro e dei-lhe a mão onde ele prostrou um pequeno beijo, ou teria só encostado os lábios, sim só isso.
-General, é uma honra conhecê-lo e recebê-lo em minha humilde casa. - disse-lhe galante.
- Senhorita Adams, um gosto enorme e obrigada por me receber, temo que terei de ficar uns dias, se não for incomodo e olhou ao redor detendo-se em Sam, que estava encostado à parede como se quisesse fazer parte dela.
-Bem srs já tomaram o pequeno almoço? Eu estou faminta. - sentei-me à mesa e todos me seguiram menos Sam que se sentou não à minha frente como de costume mas ao meu lado, deixando o General Pulaski sozinho do outro lado da mesa. Enquanto os ouvia falar comecei a comer até que senti uma mão chegar-se à minha saia, baixei a minha e dei-lhe um safanão que fez com que o bolinho que Sam tinha na outra mão caísse na mesa em frente de Pulaski, o qual agarrou no bolinho prestativamente e o entregou a Sam com um sorriso enorme, olhei de um para outro, Sam estava branco, parecia que lhe doía alguma coisa, olhei para o General Washington, que sorria cabisbaixo, já o Pai de Sam, Patrick, olhava com quase fúria para o general Pulaski , que raio se passava ali? Bem não interessava, quem ele pensava que era para lhe fazer festas por baixo da mesa? Por mais bonito que fosse, nunca mais lhe iria tocar.
-Bem, estou satisfeita vou falar com o pessoal, peço que me desculpem. - mas o general Washington pediu para ficar só mais um pouco pois queria comunicar-me que:
- Sabe srta, não é só o general Pulaski que vai ficar aqui hospedado, estamos à espera também do General Lee, do comandante Nathaniel Greene, do Marquês de Lá Feyete, e do coronel Horatio Gates - perante o meu assombro por tanta gente a ser recebida, olhou para mim pegando-me nas mãos - cara senhorita, quero que fique a saber que estes homens trazem consigo mantimentos e que os seus regimentos ficarão acampados pelos jardins, peço imensa desculpa pelo facto, mas é irreversível e tremendamente necessário, espero que entenda, irá acontecer na sua casa a mais importante reunião do exército continental, precisamos de chegar a bons termos, entende? - empertiguei-me
- Bem General, sua Exa já disse tudo não é? como não tenho voto na matéria, mesmo sendo a propriedade da minha pessoa, que quer que lhe diga, pois só espero que os compatriotas tragam mantimentos suficientes. Agora com sua licença, senhores. - e afastei-me, não estava zangada por ter tanta gente em casa, o meu problema é que não me avisaram antes de acontecer, deram-me um facto consumado, não discutiram comigo as possibilidades. Isso é que me deixava furiosa.

Onde Tu Fores... IreiOnde histórias criam vida. Descubra agora