XXVII

49 6 0
                                    

Já com os preparativos despachados para a nossa viagem, ao jantar todos estávamos eufóricos, Betsy esmerara-se no repasto que estava em cima da mesa simplesmente delicioso, dizia que se sentia um pouco triste por irmos embora.
- Senhora – Washington com o garfo a meio caminho da boca, dirigiu-se a Betsy, pousou-o e muito solenemente disse-lhe – a sua ajuda foi e será sempre imprescindível, não lhe posso prometer a volta de seu marido, que continua à guarda desses miseráveis, mas tudo farei para o trocar com um ou dois prisioneiros de guerra, se apanharmos algum homem de patente será a primeira coisa que farei trocá-lo pelo seu marido George Ross, tem a minha palavra.
- Agradeço imenso General , e poderá levar a bandeira consigo eu e as restantes senhoras já a terminámos, peço que aguardem aqui um pouco, Andreza venha comigo sim? – pediu-me, fomos à salinha onde costumávamos passar as tardes na costura.   -Andreza…
- Sim?
- Quero agradecer-lhe a companhia, foi mais fácil assim a perda do meu esposo. – baixou a cabeça, tinha nas mãos a bandeira que costurámos.
- Betsy - e abracei-a. – Betsy, não diga isso, não diga que já o perdeu, Washington prometeu ir resolver isso. E eu também lhe agradeço a companhia, você é uma mulher de armas, com muita sensibilidade e coragem, uma irmã, eu  é que lhe agradeço do fundo do coração, por tudo, pelo meu vestido de noiva –  dei-lhe um sorriso, agarrei nas suas mãos e beijei-as – você  ajudou-me muito. Obrigada. – limpei as suas lágrimas e disse-lhe – vamos, vamos mostrar aos homens o nosso parco mas lindo contributo à  revolução da liberdade. – entramos na sala de jantar e desembrulhamos o pano, e logo um “ohhhhh” se espalhou pelos presentes, era linda. – senhores aqui lhes apresento o símbolo da independência americana. – ouviram-se aplausos e “muito bem senhoras, maravilhoso”, Washington levantou-se e abraçou-nos às duas, foi até perto de Imelda levantou-a da cadeira e abraçou-a também.
-Credo General, não me aperte tanto que me sufoca. – disse-lhe ela e foi o bastante para todos irrompermos em gargalhadas.
Não dormi, não conseguia, vesti o robe e coloquei um xaile pelos ombros desci as escadas e encaminhei-me para a cozinha, um chá de camomila bem quente iria servir para me acalmar, estava nervosa e se Sam e Nathan falhassem? e se Burgoyne com os seus quase oito mil homens e canhões se conseguisse juntar a Howe?, seria uma chacina, os campos de Saratoga iriam vestir-se de vermelho, a causa americana não teria força para revidar, França voltaria atrás na sua palavra e todos nós iríamos ser julgados como traidores, estava já sentada com a caneca quente entre as mãos quando ouvi alguém assustar-se comigo na entrada da cozinha, também me sobressaltei e puxei o xaile bem para os ombros, não queria que alguém ficasse constrangido ao ver-me ali em trajes menores, lembrei-me da última vez que isso tinha acontecido e suspirei.
-Quem está aí? – era Thomas. – Ah é a Sra . peço desculpa – e já fazia menção de se ir embora - as minhas desculpas Sra. não a sabia aqui, também não consegue dormir?
-É, também não. – não me mexi do lugar – pode ficar Thomas há chá de camomila acabado de ferver, é bom para as insónias, pode sentar-se a tomá-lo não me importo.
- Obrigado, estou mesmo a precisar de algo que me acalme o espírito – colocou o chá em outra caneca e sentou-se do outro lado da mesa, ficámos em silêncio por alguns minutos, apenas apreciando a quentura da bebida. Até que Thomas falou.
- Se o seu marido e o outro homem..
-Nathan, Nathan Cole.
- Sim, se eles conseguirem esta façanha iremos sair vitoriosos Andreza, depois com o apoio de França tudo será mais fácil, e os homens honestos poderão vingar, a revolução será uma realidade para todos, os rufiões coroados perderão todo o valor, o povo não quer mais a submissão a um rei tirano ou a um governo desgastado, querem assim como nós, a liberdade e a felicidade numa república independente e auto-suficiente, as pessoas têm o direito de querer pertencer a Estados livres, a liberdade humana é já uma força dinâmica em todo o mundo, a roda iniciou o seu giro, já não há volta atrás, mesmo que algo se passe, se Burgoyne se conseguir juntar a Howe, e se por um acaso, algo parecido a uma chacina acontecer, a França já não volta atrás e os americanos podem mais uma vez insistir na defesa dos seus ideais, mesmo que não seja agora Andreza, já não há volta atrás, de uma forma ou de outra, a vitória será nossa.
- Eu sei – respondi-lhe, era uma outra forma bem mais positiva de ver a coisa, e ele como um homem de palavras insistia sempre em ver as coisas pelo lado mais positivo e continuou a falar:
- Os governos são instituídos pelos homens, para garantir esses direitos, e o povo tem o direito de alterar esse governo ou até mesmo de aboli-lo e instituir um novo governo fundamentado nesses princípios. – o silêncio agora colava-se aos nossos corpos, via a verdade nas suas palavras, mas o medo caminhava junto a nós. Com os olhos baixos assumi o rumo da conversa:
- Eu sei, sei que vai ser ruim se eles não conseguirem, muito mau para mim e para Sam, assim como para Nathan e a sua família, porque serão desmascarados com toda a certeza, mas sei que mesmo assim a roda já não pára, não tem como, o povo juntar-se-á às nossas fileiras e exigirá dos governadores a independência, sei que Sam, não irá sentir remorsos por todo o seu esforço, talvez pena por me deixar, uma dor enorme, mas não se arrependerá, porque ele conhece-se e sabe que nunca poderia ser de outra forma, ele tem plena consciência do que é, um guerreiro acima de tudo, um homem solidário e de respeito, ele não espera que as coisas aconteçam como deseja, mas sim que elas aconteçam como tem de acontecer e para isso faz o que for necessário, mesmo até deixar-me para trás, sozinha. – Thomas tocou na minha mão e eu deixei estar, precisava de sentir alguém neste momento.
- Eu não conheço o Coronel Heughan.. Sam…  mas virei a conhecer com toda a certeza e já o respeito e admiro, não só pela  confiança e amor que tem por ele que deixa transparecer o homem de valor que ele é, mas também pelas palavras de amizade e respeito dos restantes, ele não se arrependerá com certeza de seus actos, mas pelo que Lá Fayette diz e Washington também, ele tem um amor enorme por si Andreza, ele não se vai deixar apanhar, porque ele quer viver para sempre consigo, Lá Fayette fez crescer em mim o pior dos ciúmes em relação ao Coronel, talvez nem tanto pela vossa relação, mas por saber que eu nunca vivi algo assim, o meu curto casamento foi a pior coisa que me aconteceu na vida – e deu um leve sorriso, olhou-me profundamente – eu amo-a não o negarei, mas a sua felicidade com o coronel, que com toda a certeza irá acontecer, faz-me feliz mesmo nas circunstâncias mais desfavoráveis.

Onde Tu Fores... IreiWhere stories live. Discover now