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Na manhã seguinte acordei com disposição para comandar os destinos de Monticello, depois de um pequeno almoço revigorante e descansado, pois nem Thomas nem Sam estavam à mesa. Perguntei a Imelda :
-Onde está Sam? Por acaso viu-o esta manhã?
-Saiu cedo com Thomas, levaram os cavalos disseram qualquer coisa sobre visitar a plantação. - não querendo alarmar Imelda com os meus sustos, agradeci e disse-lhe que ia também dar uma volta e aproveitar para falar com o capataz. Se não tivesse ido também este com Sam, mas desconfiava que não.
Sam ia calado, absorvendo o ar, estava um dia menos frio e luminoso, cheirava a verde, se as cores têm cheiro, o verde era uma cor prazerosa e depois da noite de amor e carinho com Andreza sentia-se verde, Thomas ia a seu lado também introspetivo, mas olhando de lado para ele via-se amarelo, pardacento, talvez para ele o dia estivesse amarelo, ainda bem, não o queria confortável, chamou-o para cavalgar consigo mais para se desculpar perante o homem pela forma nada polida com que mandou o homem para a sua própria casa em vez de ficar em Monticello com Andreza, queria que fosse o seu pai a ficar ali, não só por Andreza mas pelo próprio Patrick, o seu pai merecia ficar mais resguardado já tinha o seu quinhão de guerras e batalhas, não seria essa a ideia de Patrick mas era a ideia de Sam queria-o ali, iria mais descansado se assim fosse. Pigarreou e voltou-se para Thomas.
- Thomas, quero pedir-lhe desculpa pelos meus modos ontem durante o jantar.
- Não tem de quê coronel, entendi perfeitamente que prefere que o seu pai venha para perto de Andreza, uma troca justa, Sr.
-Sem dúvida, mas mesmo assim espero que me perdoe, não quero de forma alguma ser injusto com quem sempre foi tão prestativo, para todos. Você é um homem de valor não merece ser destratado por uma crise de ciúmes.
-Ciúmes sr?, muito me lisonja, não há nada para ter ciúmes, sou um desditado, nada na minha vida merece que alguém como o sr coronel, tenha ciúmes.
- Mas tenho... tenho ciúmes de poder fazer os seus préstimos a esta revolução no sítio que entender, acho que foi isso que me enciumou, ou há mais alguma coisa para enciumar?
-ah, claro que não, que ideia, já lhe disse senhor nada mesmo. - Sam reparou que ele ficou vermelho da face às orelhas. Sam apeou e prendeu o cavalo a uma árvore olhando para que Thomas fizesse o mesmo.
- Se ficar Thomas, não me importo sinceramente, mas saiba que fica à guarda dos seres mais preciosos que tenho desde Andreza a Imelda e agora também com o meu filho a caminho. Entendeu? - e olhou para ele de sobrolho carregado dando a entender que o próximo passo era dele.
- Sr. Será uma honra, antes de mais sei o valor que a honra tem para si, o mesmo que para mim, que a Sra da casa e o seu filho, assim como Imelda fiquem à minha guarda a pedido da sua pessoa, é um dever para mim, sei que Andreza, desculpe que a sra Heughan, o ama acima de todas as coisas e prometo-lhe que esse amor será sempre resguardado de todas as más intenções enquanto eu estiver por perto, será uma questão de honra para mim a sua defesa. - concluiu fazendo uma mesura a Sam. De braços cruzados atrás das costas Sam olhou de frente para Thomas.
- Acredito em si. Amo Andreza mais do que poderia algum dia pensar em amar uma mulher, ela é o meu mundo, a minha vida. - deu uns passos para longe - Assim que chegar a Filadélfia farei todos os intentos para que o meu pai regresse a Monticello, mas será apenas mais um ser precioso à sua guarda, sei que os vai cuidar para mim. Mas se lhe estiver a pedir demais, terá com certeza todo o à vontade para partir quando entender. - um silêncio - Outra coisa, faça com que os panfletos que enviar para fora de Monticello não sejam detetados como enviados da plantação, por cuidado, claro. Não quero que venham estranhos ou que apareçam os ingleses à sua procura e magoem alguém aqui dentro. Peço-lhe isso, esse cuidado por favor.
- Sim claro, terei todo o cuidado pode ficar descansado e sr... mais uma vez quero reiterar a minha promessa, tudo farei para que a sua esposa e o seu filho, estejam em perfeita saúde quando voltar.
- E Imelda. - disse-lhe num sorriso.
- E Imelda, claro - sorriu de volta - e o seu pai, quando chegar.
- Não sei como vai fazer tudo isso. Mas espero que a promessa seja cumprida - e estendeu-lhe a mão para que a apertasse. E Thomas emocionado assim o fez. Visitaram a plantação vendo que apesar dos donos das terras não estarem presentes, tudo parecia estar em perfeita sintonia, viam-se pequenas cercas a limitar quadras de terreno, deveriam ser os pequenos quintais que Andreza dera aos trabalhadores, pensou Sam. Tudo estava semeado, a terra para a plantação de tabaco alindada já pelas largas folhas ao longo do rio. Homens e mulheres a trabalhar espalhados pelo campos, adoraria saltar do cavalo e ir para o seu lado e meter as mãos na terra ao lado dos seus iguais, ele era um homem do povo, agora sabia ao lugar onde pertencia, foram anos e anos em que não sabia se era Índio se era Inglês, americano, se era apenas uma mistela de cor e raça, até que com mais idade e mais entendimento compreendeu que era isso que fazia dele um homem, honrado, justo solidário com os seus semelhantes. Todos eles. Passando por aquela gente parava para dar uma palavrinha aqui e ali.
Thomas, pensou para si que estava na frente de um homem deveras inteligente e com muita capacidade, sempre pensou nele como sendo presunçoso, por ser o braço direito de washinghton, mas o homem era humilde ao mesmo tempo que passava a perceção de ser alguém maior que o ideal que defendia, Thomas tinha agora a certeza disso, era um homem de valor o que tinha ali a cavalgar ao seu lado a ser tão prestativo tanto com negros, como com Índios, como com o homem branco. Não havia diferença para a forma de tratamento, Monticello era uma verdadeira obra de arte carregada de jóias preciosas, bem valeria a pena dar o seu corpo e a sua mente ao manifesto da defesa daquela joia rara.

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