XIX

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Passámos mais uns dias  conturbados, eu tinha a ideia mas não os planos de como se realizaria uma façanha do género as reuniões entre Washington, Gates Lá Fayette, Greene e o soldado Nathan Hale eram à porta fechada, a única pessoa com autorização para entrar era eu para lhes servir um chá, uns biscoitos mas nem mesmo nesses minutos davam por mim, até Sam por vezes tão envolvido nas discussões dava pela minha presença, não  fosse por um simples roçar por ele ou apertar-lhe um braço para que dé-se por mim, senti-me afastada posta de parte, não gostava da sensação, como se não confiassem em mim, todos sabiam que Sam me contava os seus planos de noite quando chegava já tarde para se deitar, outras vezes eu fingia que dormia, ouvia-o chamar por mim e não lhe dizia nada, levantava-me mais cedo ia tratar dos meus afazeres com as outras mulheres e ia entendo o sentimento delas quando se lamentavam de que os seus homens não falavam de mais nada do que da guerra e das batalhas, senti-me triste porque Sam nunca tinha agido assim comigo e nestes dias quase que sentia o mesmo que elas, o mais triste de tudo era que Sam desistia rápido de me acordar apenas enroscando-se em mim e dormia. Uma das vezes em que pediram chá para a sala, pedi a Imelda que fosse por mim, já que nem notavam que era eu que entrava, podia ir outra pessoa, Imelda contrariada assim fez e eu fui para a biblioteca procurar um livro para ler, já sabia que a noite ia ser longa, sentia nos ossos a proximidade da missão. Peguei um livro de Rosseau “a nova Heloisa”, entretanto quando saía da biblioteca a porta  da sala das “conjurações”, como lhe chamava Imelda, abriu-se e Sam olhou para mim, parei ali a fixar-lhe o olhar.
- Porque não foste levar o chá? – perguntou-me
- humpf… porque não sou vossa criada, e fui buscar um companheiro para a noite visto passá-la sozinha. – dei-lhe as costas e rumei para as escadas. Ele deu umas passadas longas e rápidas e agarrou-me o braço.
- E isso agora é o quê? – de sobrolho levantado, depois de eu me ter desprendido dele.
-Isso o quê? – virei-me para ele no primeiro degrau, os olhos ao mesmo nível, a boca ao mesmo nível, olhar para a sua boca sempre me traía, forcei-me a olhar para a testa.
-Andreza porque não foste levar tu o chá? – Insistiu.
- Para quê?  Dás por mim alguma das vezes que lá entro?
-Como podes pensar que não te sinto? Mesmo que não olhe para ti a tua presença abraça-me sempre, embora, em abono da verdade ultimamente não te tenho sentido muito quente. – e aligeirou um sorriso
-Ah espera além de te levar o chá ainda tenho de me sentir feliz e esquentar-te a cama?, não sabia que isso eram requisitos de uma boa esposa, peço desculpa, senhor, nunca tinha sido esposa, fui amante de um homem sensível e generoso super terno, mas acidentalmente algo aconteceu e esse homem, desapareceu, viu-o por aí senhor? , é que desse homem do meu amante sinto falta, do meu esposo, nem por isso.. – voltei-lhe as costas e subi as escadas sem as ver devido as lágrimas que me inundavam os olhos. Fechei a porta do quarto com força. Sam não subiu atrás de mim como eu esperava, despi-me a arranjei-me para me deitar peguei no livro, coloquei uma vela nova e comecei a ler Rosseau era um escritor do iluminismo e sempre me dava alento, o livro tratava sobre o valor da amizade, da importância do convívio familiar e da vida simples,  a relação entre os impulsos sexuais, a temperança e a prudência no agir, nada do que eu tinha feito até ali, falava do conflito entre o amor e o dever, Julia a personagem do livro era mais como Sam do que eu, com o seu amante  também viveu uma ardente paixão e buscavam a felicidade no quererem viver um para o outro, Julia não se deixava levar pelos arroubos da paixão, colocava a razão em primeiro lugar, bem nada como eu, deveria ter lido este livro há um ano atrás, Julia é como Sam com uma sensibilidade extrema, que exerce sobre os outros uma espécie de atração, eu que o diga, ajuda as pessoas influencia-as, tem uma combinação de encanto e lucidez  que o torna muito especial, a quem todos recorrem, se gosto tanto da personalidade dele porque é que me  queixo, se foi por essa personalidade pela qual me apaixonei? Porque o queria só para mim, e para que raios fui eu inventar a espionagem e o incentivei a isso? Porque o amo, porque sei que ele é assim, porque sei que vai ser bom, melhor ainda que numa batalha, é engenhoso e fiel, oh deus amo-o tanto, saí  da cama vesti um robe calcei as pantufas e fui à cozinha arrumei uma bela bandeja de chá bem quente com uns bolinhos de manteiga e lá fui, bati levemente e ouvi Washington
-Entre. – entrei e como não me movi da entrada da porta todos os olhares se viraram para mim, esbugalharam os olhos,  Nathan ficou da cor de uma beterraba a olhar para mim, Lá Fayette sorriu, mas ao ver o olhar de Sam depressa ficou sério e olhou para os documentos em cima da mesa, só Gates teve a coragem de dizer espantado
-Senhora! - Sam que estava de costas para a porta estava com o corpo retorcido as mãos em cima da mesa a olhar-me de boca aberta, como quem não acreditava no que estava a ver, Sabia que por debaixo do fino robe só existia uma fina combinação e por baixo dela nada, só o meu corpo.
-Andreza, por deus.- E ficou ali parado a olhar para mim, fiquei sem coragem de avançar e foi Washington que foi buscar o tabuleiro.
- Bem, o-obrigada senhora, ficamos muito agradecidos pela gentileza, não é senhores?
-Sim, sim – disseram em uníssono, apenas Sam continuava já virado para mim sem nada dizer com os braços estendidos ao longo do corpo. Fiquei vermelha de repente e prontifiquei-me a sair quando Lá Fayette disse
- Bem caros amigos já é tarde, neste momento o melhor conselheiro é o travesseiro, o melhor que temos a fazer é ir dormir., Sam por favor acompanhe a sua esposa e até amanhã… deu um pequeno empurrão a Sam e ele encaminhou-se atrás de mim, não me disse uma palavra, entrámos no quarto, fechou a porta atrás de si.
-Andreza, endoideceste mulher? – olhou pra mim com as mãos nas ancas.
-Sim, por ti, endoideci por ti – e agarrei-me a ele – e já não há volta a dar – ouvi uma pequena gargalhada e os seus braços enlaçaram-me, beijando-me a cabeça.

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