XXXIX

69 7 0
                                    

Deitámo-nos um pouco para descansar até Imelda nos vir chamar para o jantar, Sam ajudou-me a vestir e eu a ele em silêncio apenas com um toque aqui um olhar acolá, deu-me a mão e descíamos as escadas quando me lembrei.
-Sam – parei-o na escada – olha Imelda veio com Thomas Paine, falei-te dele lembras-te?
-Sim, um estudioso que esteve aqui com Washington quando eu parti? Mas o que tem? – um pouco encabulada, lá lhe expliquei que Thomas nutria uma certa afeição por mim, nada de grave nem desrespeitoso, mas que tinha feito com que os meus dias após a sua partida fossem menos dolorosos. Olhou-me muito sério e desceu mais um degrau
-Bem, se não te desrespeitou e se sabe que és casada comigo não vejo problema, estás-me a contar agora porquê? Há alguma coisa que te incomoda afinal, senão não terias agora sem mais nem menos puxado esse assunto. – colocou-se muito direito a minha frente.
- Não, não é que me incomode, quer dizer incomoda um bocadinho, porque sinto. – torcia as minhas mãos um pouco nervosa.
-Não entendi, queres explicar-me de novo? – estava tão sério como quando discutia estratégias com Washington.
- O que eu quero dizer – e coloquei-lhe as mãos nos ombros, ele ainda se colocou mais direito se tal era possível – sinto que Thomas olha para mim de uma forma mais calorosa embora nunca tenha dito nada, percebes?
-Hum, bem…  hum percebo, sim acho que percebo como Pulaski comigo?. – e descontraiu.
-Isso como Pulaski contigo – abanei ligeiramente a cabeça – talvez não tanto. – sorri-lhe – mas sim, parecido com algo assim.
-Hum certo, vamos lá então, estou esganado.
Adentrámos na sala, ainda Imelda e Thomas nos esperavam de pé, viraram-se para nós, felicitando-nos por estarmos novamente em casa, fiz questão de salientar a minha barriga que ainda mal se notava. Reparei que Thomas tinha  o olhar cerrado em mim, e fez menção de se chegar a mim, mas Sam foi mais rápido adiantando-se, colocou-se entre nós de mão estendida para o cumprimentar
-Finalmente que o conheço tenho ouvido falar muito em si Thomas, Washington tem-o em grande consideração, é muito bem vindo à nossa casa. – acentuou o nossa casa, Thomas aceitou o cumprimento com um aperto de mão e uma mesura
-É uma honra conhecê-lo finalmente coronel. Desde já lhe agradeço tudo o que tem feito em prol da defesa dos nossos ideais.
-Também lhe agradeço Thomas por isso e pela companhia que fez a Andreza, minha esposa, enquanto estive fora. – rebolei os olhos para Imelda pareciam dois galos na disputa de um pedaço de milho.
- Bem senhores vamos comer? – Thomas aproveitou para me agarrar a mão e beijá-la.
- Andreza como sempre a luz da casa, linda e maravilhosa.
-E minha – Disse Sam baixinho, agarrando-me pela cintura e levando-me com ele para me sentar ao seu lado. - Então diga-me Thomas como estão as coisas com Washington? Sei que Burgoyne se demitiu e partiu para Inglaterra onde está estacionado Howe? – olhou-o, como lhe dizendo que mudasse de assunto e se concentra-se  em outra coisa que não a minha pessoa.
-Hum, ah bem – Thomas percebeu a dica e entre uma e outra colherada de sopa, lá se dirigiu a Sam – Burgoyne sim partiu, diz-se que o homem por pouco não matou Howe, se o tivesse apanhado, mas por sorte nossa e de Howe, nunca se encontraram, então Washington que aproveitou e muito bem toda a situação está em Filadélfia novamente, mas tem à perna Howe, em defesa deste homem tenho de dizer que é como um cão que não larga o osso. – deu um pequeno arroto – perdão.
-Perdoado – disse-lhe sorrindo, pousou novamente os seus olhos em mim como se não houvesse mais ninguém na sala. Fez-se silêncio, Sam pousou a mão na minha perna, acariciando-me levemente coloquei a minha mão por cima da dele e sorri-lhe. Thomas olhou de mim para ele e pigarreou.
- Querida Imelda dê os parabéns à cozinheira o repasto está excelente. – e voltou-se novamente para Sam- Imelda foi uma excelente companheira de viagem, até me curou de uma constipação, os dias esfriaram de repente – e comemos em silêncio durante uns minutos.
- E porque veio? Imelda poderia ter vindo com o meu pai. – questionou Sam, olhando-o fundo nos olhos.
-Aahh, bem o seu pai teve de ficar com Washington, muito mais necessário que eu neste momento – disse-lhe, estava um pouco vermelho nas faces – o seu pai é um homem que faz os dois papéis o de soldado da pena e espada, enquanto eu apenas domino a pena, e isso posso fazê-lo em outro sítio qualquer. – olhava para mim e Imelda fugindo do olhar semicerrado de Sam.
- Está muito longe de sua casa? – Sam perguntou  e eu senti uma certa inquietude  e respirei fundo sem notar, passou a sua mão na minha perna de cima para baixo, como que pedindo a minha serenidade, coisa impossível estava com um nervoso miudinho.
- Thomas – olhei de um para outro, Sam tinha cerrado os lábios numa linha fina e olhava fixamente para mim, retirei a sua mão da minha perna  e olhei para Thomas que estava com um semblante aflito – o que Sam quer dizer é que por ter sido tão gentil tanto comigo como com Imelda, e estando sim – olhei para Sam – longe da sua casa pode ficar connosco o tempo que entender, será muito bem vindo.
-oh Andreza obrigado, não quero de forma alguma causar transtornos. – tinha as duas mãos colocadas em cima da mesa nervosamente.
- Eh, a minha esposa é de uma gentileza suprema, eu não diria tanto, julgo que quando fosse oportuno deveria fazer as malas e trocar de lugar com o meu pai. Com a licença das senhoras, senhor – levantou-se da mesa e de passo duro saiu da sala sem olhar para trás, fiquei ali especada, ruborizada com vontade de correr atrás dele e dizer-lhe que não fosse tão casmurro. Olhei em volta da mesa e Imelda comia demoradamente a sua sopa com os olhos postos nas costas do meu teimoso marido, olhou para mim e fez-me saber mentalmente que além de teimoso estava muito ciumento, fez-me sinal para que fosse atrás dele, fechei a cara, também tenho direito a opinião não? Estávamos assim neste diálogo silencioso com um Thomas amedrontado.
-Peço desculpa não queria de forma alguma criar constrangimentos, Andreza, amanhã mesmo irei embora.
- Thomas, não vai ser assim, com licença – e num marulhar de saias levantei-me da mesa e fui a procura do meu marido, pensando que se tinha retirado para o quarto passei pela sala da biblioteca e reparei que as velas estavam acesas no aposento, devagar entrei e Sam estava sentado na secretária com as mãos na cabeça, com um livro aberto à sua frente. Parei a uns passos.
-Sabes que não tens razão, aliás não há razão alguma para tratares Thomas dessa forma. – fiquei parada com as mãos cruzadas na frente da minha barriga, ele levantou os olhos para mim. Tinha as pestanas molhadas e o meu coração deu um pulo tive de colocar um punho sobre ele com medo que levantasse voo de tão leve que o senti. Andei devagar até chegar perto dele, rodou a cadeira para me ver, e eu sentei-me no seu colo. Acariciei-lhe os longos cabelos, macios.
-O que foi aquilo, Sam? Até parece que não confias na tua esposa. – beijei-o no nariz.
- ah Minha querida, conheço-te sei que me amas, sei que amas as palavras também inflamadas de liberdade, sei como és capaz de te colocar em perigo por amor ou amizade. – ia responder-lhe colocou-me um dedo nos lábios – ouve-me, não quero Thomas aqui por várias razões, a primeira porque ele vai continuar a escrever, a fazer o seu trabalho, como deve de ser… para isso alguém vai saber onde ele está, ele é procurado pelos ingleses, vai chamar a atenção para Monticello e eu não te quero em perigo, fico muito mais descansado se o souber dentro do campo de batalha, mesmo que não saiba pegar numa espada ou numa carabina, ali não faltam homens que o defendam, e o meu pai aqui contigo sei que estás protegida de todas as formas.
-Mas não podes expulsa-lo assim, Thomas é um amigo.
-Ah Andreza.. – e retirou-me do seu colo andando de um lado para o outro na sala – és  uma mulher muito teimosa, sabias?
-Sabia, e ainda Bem que o sou. Não podes decidir sozinho, eu existo e tenho opinião, sim quero o teu pai aqui comigo., aliás queria-te a ti aqui comigo, mas estás a ser injusto com Thomas, parva fui eu que te contei como ele se sentia, se não soubesses nada tratava-lo bem – empertiguei-me na minha opinião.
- Injusto? Eu estou a ser injusto? Para tua informação a vida é injusta., Andreza, quem deveria ficar aqui era eu e não Thomas, sou egoísta? Talvez… mas  tu és minha e o filho que esperas é meu, eu é que deveria ficar ao teu lado e não aquele.. Aquele.. Poeta. – ele estava correto, não a forma como se explicou mas o que queria dizer, porque não seria ele a ter descanso e paz, porque é que tinha de ser ele a ir para a  batalha quando a sua vida ia começar agora, e se acabasse de repente? Apressei o meu passo e abracei-o.
-Pára, pára Sam. Olha para mim, está bem tens toda a razão do mundo, quer dizer, não tens, mas eu vou relevar, essa tua atitude para com Thomas porque sei o que querias para nós neste momento. Abraça-me. – E ele assim fez, abraçou-me enterrou o seu rosto no meu pescoço e senti-o estremecer – Oh Sam, por favor, tu és o homem mais corajoso que conheço, tens de ser forte por nós os dois, por nós os três- e coloquei-lhe uma mão na minha barriga, colocou-se de joelhos agarrado a mim beijando-me por sobre a roupa, baixou as suas mãos e subiu-as pelas minhas pernas acima descobrindo a minha intimidade.
-Andreza, amor meu já me sinto morrer sem ti. Não quero que ninguém te olhe como só um homem te pode olhar e esse homem sou eu, mais ninguém, levantou-me uma perna por sobre o seu ombro  e esgueirou-se por debaixo das minhas saias.
- OH Sam…… - fechei os olhos sentia-lhe os cabelos macios nas minhas mãos - porque é que as nossas discussões acabam sempre assim.? Tiras-me a razão de pensar, oh meu deus Sam. – e nisto abri os meus olhos e enrijeci, Thomas estava parado na porta da biblioteca branco como a cal da parede de boca escancarada, como se fosse um peixe e de repente tivesse vindo a tona de água e lhe faltasse o oxigénio, apertei os cabelos de Sam, mas ele não percebendo o que se passava puxou-me mais para si, e meteu a sua língua mais fundo, e eu deixei sair um suspiro profundo, um eco do meu desejo, tornei a fechar os olhos, e chamei muito ao longe o nome do homem por debaixo das minhas saias, quando os abri de novo a porta estava fechada, e Thomas tinha desaparecido, sem forças nas pernas deitei-me o chão e Sam concluiu com mestria o que tinha começado, não mais me lembrei de ninguém exterior a nós.

Onde Tu Fores... IreiWhere stories live. Discover now