XXXII

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Cavalgamos o resto do dia e uma parte da noite, entretanto tivemos de parar, não estava habituada a cavalgar com uma perna de cada lado estava dolorida. Ajudei a catar uns paus para fazer um lume, enquanto Pulaski arranjava a tenda para que não dormíssemos ao relento. Imelda sempre precavida tinha colocado pão, queijo e uma espécie de bacon nos alforges e foi o nosso jantar acompanhado de um vinho, que por sinal era muito bom, e que Pulaski trazia com ele.
- Oferta de Lafayette - disse quando viu que eu suspirei ao primeiro gole.
-Muito bom, LA Fayette tem um otimo gosto para vinho, ou não seria ele um francês refinado - sorri, e ele abanou a cabeça sorrindo também. Pouco falamos enquanto comemos, guardamos o resto do repasto, pois não sabíamos quando iríamos poder aumentar o stock de comida.
- Onde acha que deve estar Sam? Ainda não deve ter tido tempo de chegar a Filadélfia, não concorda? - Ele brincava com o lume, arrumando as brasas com um pau.
- Não, sei Hidalgo é um cavalo veloz, mas provavelmente neste momento também estará parado em algum canto a descansar. - agasalhei - me no meu xaile dobrando-o , olhava o lume como se pudesse ver o rosto de Sam a emergir diante de mim, a sorrir-me.
-Ele sabia, que poderia não voltar e não me contou. - deixei cair uma lágrima - porque é que não me contou?
-Talvez porque soubesse que a Andreza o iria impedir, e ele deve ter algum compromisso com Benedict, julgo que não irá querer pôr-se em perigo, ele não é homem disso. De todas as vezes que lutei ao seu lado, mesmo que parecesse em perigo a sua mente já estava na parte de como sair ileso de qualquer conflito, mas desta vez... - e olhou directamente para mim - desta vez acho que ele não pensou bem no assunto, Se Benedict é o espião ele ao retornar ao exército britânico está a colocar-se em perigo, tenho a certeza que Benedict irá desmascara-lo.
-Ai meu Deus, que aflição - e retorci-me abraçando-me mais ainda - que deus não permita. - ficamos a remoer pensamentos, cada um de nós com o seu, olhei para o homem à minha frente que estava de semblante carregado, com a cabeça apoiada num joelho. - conte-me - disse-lhe - conte-me como o conheceu e se enamorou dele. - de olhos muito abertos e com uma expressão de surpresa, nunca pensou que lhe perguntaria . - não vou recriminar, acredite, se o que sente por Sam é tão forte como o que sinto, como poderei recriminar, ninguém manda no coração. - disse com muita suavidade.
- Bem só que fiquei espantado, afinal ele pertence-lhe, não tem ciúmes?
-Não. - franziu-se - oh mas não, pelo que está a pensar, é porque sei que o meu sentimento é recíproco, tenho a absoluta certeza do amor dele por mim, só por isso.
- E tem razão, nestes anos todos em que pairei à sua volta nunca o vi apaixonado por ninguém, é um homem que dá nas vistas e já vi mulheres a babarem-se literalmente por ele, peço desculpa - abanei a mão em sinal de que não importava, que continuasse -, que fizeram de um tudo para se deitarem com ele, ele recusou algumas, para minha alegria, a outras aceitou, mas no dia seguinte não dava mais valor, e sempre voltava para o nosso círculo de amizade, senti desde o primeiro momento que vos vi juntos que o sentimento dele por si era forte, não sei dizer porquê, desculpe, mas já o vi com mulheres mais bonitas - não sei se me queria magoar, mas quase que estava a conseguir - talvez não como a senhora uma mulher de armas, de luta com um espírito forte quando bateu no dele encontrou páreo, talvez tenha sido isso, dizem que o amor também é uma questão de pele de química, eu vejo faíscas entre os dois, electricidade pura, talvez seja isso tudo junto, é que o tenha feito fixar-se em si e...
-Amar-me!
- E amá-la! - continuámos a falar de como o tinha conhecido, que aquela aura de guerreiro o apaixonou, sabia que nunca teria uma única oportunidade na vida com ele, mas que era feliz, quando o via feliz, quando ele falava aos seus homens com aquela intrepidez que lhe era característica, o seu sangue fluía depressa nas veias e os batimentos cardíacos aumentavam, Patrick sabia, bastou-lhe apanhá-lo uma dessas vezes a olhar para Sam, uma daquelas vezes que não conseguia mesmo que quisesse disfarçar o que estava a sentir, e o homem nunca mais gostou dele, de cada vez que estavam juntos conseguia colocar-se sempre entre ele e Sam.
- E Sam, nunca desconfiou.? - perguntei-lhe.
- Ahahah, acho que sim, embora nunca demonstrasse nada, fez sempre por fingir que não via nada, foi sempre educado, por mais jocosos que fossem às vezes certos comentários, os dos outros - olhou-me de sobrancelha erguida - Sam nunca, por nunca fez como se entendesse, sempre foi um cavalheiro.
-É, isso ele é, também. - ficamos calados a ouvir a natureza à nossa volta até que eu abri a minha boca escancarada de sono - desculpe - e sorri-lhe - parece que o cansaço me está a alcançar, vou-me deitar, você não vem? - ficou muito sério a olhar para mim. Levantou-se sacudindo a roupa.
- Senhora, julgo não ser próprio... eu dormirei por aqui, junto ao fogo, assim poderei tomar conta de... - afastei-me um pouco dele empinado o pescoço, se ele dissesse que ia tomar de mim, levava com o tacho. - do acampamento, dos cavalos - disse com as bochechas vermelhas.
-Hum, bem você é que sabe, por mim não há qualquer constrangimento, se sentir frio ou assim poderá ir para a tenda, certo? - cruzei os braços no peito à espera de algum conselho de bom senso ou coisa que o valha, mas ele simplesmente baixou a cabeça com um sorriso nos lábios.
- Certo! Boa noite Andreza.
- Boa noite... Casimir. - deitei-me vestida, estava muito frio e não valia a pena constranger o homem, se ele se quisesse deitar-se ao meu lado. Adormeci num instante.
Já era manhã, senti uma mão por cima da minha cintura e uma respiração na base do meu pescoço, sentei-me assarapantada, olhando ao meu redor, e o meu companheiro de viagem, fez o mesmo.
- Onde, diga-me depressa que eu vou atrás dele. - tateava o chão da tenda à procura com certeza dos seus óculos, sabia que não via um mosquito sem eles.
- Calma, Casimir, não é nada fui eu que me assustei porque você tinha... estava.. - e fazia um gesto como a abraçar-me - não há problema nenhum, está tudo bem.
-oh perdão Andreza, não sei como vim parar aqui dentro e ainda por cima abraçado a si, não tive intenção, só me lembro de acordar com frio e vi a tenda, deitei-me e adormeci, peço que me perdoe. - ouvimos barulho fora da tenda, de imediato puxamos cada um de sua pistola, olhando-nos com cautela, Pulaski saiu primeiro e eu fui rastejando devagar, mas não se ouvia senão um cochichar e de seguida uma alta gargalhada, não reconheci aquela voz. Saí da tenda e pus-me de pé num salto, de pistola apontada
- Quem é General? - apontava a minha pistola para um homem alto, a dar para o gorducho pelo menos na barriga.
- Bem, este é Arnold Benedict, Andreza, General Arnold Benedict. - a minha intenção era já disparar, mas olhei para Pulaski e este estava calmo como se nada fosse, como se tivesse encontrado um amigo de armas, então baixei a pistola e segui o seu ritmo. - o General estava a caminho de Saratoga quando viu a tenda e estava sentado à espera para ver quem sairia de lá de dentro. General apresento-lhe a sra Heughan, Andreza Adams Heughan.- O homem ficou espantado a olhar-me, até que Pulaski fez um som com a garganta indicando que estava a ser desrespeitoso por me fixar.
- Sra Heughan, - fez uma vénia perfeita - Sra Heughan, as minhas desculpas, não sabia que havia uma sra Heughan, do filho ou do pai? - estava com um sorriso de escárnio no rosto.
- Sra Coronel Sam Heughan - disse-lhe.
-OH, claro, o Patrick já não tem idade para casório quanto mais com uma senhora tão jovem, claro, esposa de Sam, e já que mal pergunte-virou-se para Pulaski - o que estava a fazer com a Sra Andreza Adams Coronel Sam Heughan, - continuava no gozo - na tenda?
- Como ousa senhor? sou uma mulher de respeito assim como o General Pulaski é um homem respeitador, como pode ver estávamos em viagem e havendo uma só tenda, o general deitou-se também lá dentro, mas não lhe devo explicações. Diga antes o senhor o que faz por estas bandas - julgava-o no exército britânico. - pronto agora já lhe disse que sabia, vi que Pulaski não ficou contente com as minhas palavras mas o homem era asqueroso só em palavras, quanto não seria em actos, quanto mais depressa soubesse que conhecíamos os seus intentos menos conversas haveria. Senti a pistola na minha mão de novo a tomar forma, agarrei-a bem para que se fosse o caso, estivesse segura.
- Senhora, não há necessidade de animosidade, o General Arnold, faz o papel dele e nós continuaremos no nosso caminho. - Pulaski já desamarrava as cordas da tenda, mas eu não me mexi.
- Onde está Sam? - perguntei-lhe directamente e apontei a arma ao seu peito - saiba que sei utilizar esta arma muito bem até mesmo em distâncias mais longas. General Pulaski, por favor continue a desmanchar o acampamento - disse-lhe sem tirar o olhar de Arnold - então diga-me onde está Sam? - Arnold Benedict, ficou sem o sorriso no rosto e olhava para mim de alto a baixo, tentou andar uns passos à minha frente mas puxei o gatilho da pistola - não ouse dar um passo General, saiba que sou uma mulher de palavra e com kilos de coragem, atravessei um oceano, conquistei um exército inteiro, vim para a guerra, e agora vou atrás do meu marido, antes que você tente alguma coisa, sei que reconheceu Sam, entregou-o aos britânicos? - e movimentei novamente a pistola. - Houve um espaço de tempo, apenas uns segundos até que ele respondeu.
- Não, não o fiz, não tive tempo. Sam foi alvejado à entrada do acampamento britânico, Howe soube através da famigerada "confissão" de Nathan Hale.
- Nathan nunca o faria. - gritei-lhe
- Não o fez intencionalmente, mas tinha um caderno com as anotações, onde constava o nome de seu marido, senhora. Desta vez não fui eu. - Pulaski já me agarrava no braço, porque de repente deixei de ver, e senti-me tonta deixei cair a pistola,.
- Não, não Casimir, NÃO!!! - Nesse instante larguei-lhe o braço e corri para o arbusto mais próximo onde caí de joelhos e vomitei, largando a ânsia que me afrontava. Ouvia Pulaski questionar Arnold como se as vozes viessem de detrás de uma casa.. Ao longe.
- O que disse? Foi alvejado, morreu? - Pulaski agarrado também ao estômago como se lhe doesse. - diga onde está o corpo?
- Ele não morreu, eu disse que ele morreu por um acaso? - Arnold empertigou-se. - Ajude ali a senhora a levantar-se e a lavar as faces que eu espero.

Onde Tu Fores... IreiWhere stories live. Discover now