XXXIII

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Já mais calma e com a ajuda de Pulaski, lavei o rosto no riacho. A água estava fresca e senti-me melhor. Ainda um pouco nauseada, mas com o coração já mais descansado, se Sam não estava morto ainda havia soluções.
-Bem – Arnold Benedict estava sentado numa pedra a comer um pouco de pão e queijo, do nosso, mas não lhe disse nada, queria apenas que ele contasse sobre Sam – como eu estava a dizer, quando o General Howe me levou para conhecer a nova aquisição do exército Britânico, qual não foi o meu espanto de ver o nosso querido Coronel, daquele lado, pois muito, fiquei sem pinga de sangue, porque de inicio acreditei piamente na palavras de Howe que não se cansava de elogiar o homem. Até que reparei que o meu ex-compatriota estava tão exangue quanto eu, não disse nada mantive-me calado pois se eu sabia dele ele também sabia de mim e eu ainda não me decidi bem onde quero pousar,
- humpf típico de uma pessoa sem espinha dorsal – disse-lhe.
- Humm sra, não sei bem para que serve isso, o que eu vejo é que há aqui dois lados cada um com a sua razão e que simplesmente não me ouvem, aquele que me ouvir ganhará o prémio, que sou eu, se me permite auto avaliar.
- Permito, mas eu não quero saber de si, quero saber onde posso encontrar o meu marido – insisti.
-Calma que já lá vamos. Estava eu a dizer que eu não contei quem ele era. E fiz por me encontrar com Heughan, fui até a sua tenda depois, o que vi é que ele não estava só, tem o seu tio, vim a saber ser seu tio.
-Tio, que tio, Casimir quem é esse tio? – mas Pulaski levantou os ombros dando a entender que também não era do seu conhecimento qualquer tio.
-Não sei, julgo que  Patrick não tem irmãos. Quem é esse tio?
-Um índio, ah pois nada mais nada menos que um índio, irmão da mãe, um chefe dos Cherokees, eu sabia que ele era filho de uma Índia, Patrick teve uma grande paixão por uma Índia linda na sua juventude, mas nem um nem outro quiseram abandonar os seus, assim Sam cresceu entre os dois mundos, todos nós sabíamos a sua história, mas quando Sam abandonou a tribo depois da morte de sua mãe, pensamos que ele tinha rompido relações, ao que parece nada disso, continua a ser querido lá, por eles. – enquanto falava de boca cheia ia fazendo gestos de incredulidade – o tio Índio parece gostar muito dele e também não contou quem ele era a Howe. Um cretino o General Howe, que acreditando em tudo o que Heughan lhe disse partiu para Filadélfia, e já não vai chegar a tempo de ajudar Burgoyne em Saratoga, que deve chegar por estes dias a pensar que Howe lá está e que Washington está em Villey Forge, dois burros isso sim.
- Mas você sabe de todas as movimentações porque não avisou um ou o outro? – perguntei-lhe já bastante confusa.
-Porque quero que os dois explodam – e riu-se- eu vou ser o herói da batalha e como está visto que Washington ganhará é para lá que vou. Depois logo se vê. – ele não sabia e nós não lhe dissemos que Washington já sabia quem ele era. Acreditou que Sam não contou a ninguém.
-Mas vejo que a senhora soube logo quem eu era – fez-se luz naquele cérebro de minhoca.
- Sim, eu vi Sam ele foi ter comigo e contou-me. Mas Sam não chegou a contactar Washington, não teve tempo. – e sorri-lhe o meu melhor sorriso de senhora tímida.
- Acredito, qual era o homem que deixava uma senhora como você, para ir fazer cusquices  com um homem como Washington, embora eles fossem muito amigos, tem a certeza senhora que eles não falaram um com o outro? – a sério? - Este homem não existe.
- Sei, de fonte segura Sam não chegou a falar com Washington, pois não Casimir? – este estava como que petrificado, e admirado com a minha habilidade para mentir, abri-lhe os olhos para que continuasse com a farsa.
- Não, não falou eu estive sempre no conselho e não ouvi nada parecido.
-Muito bem, pronto mas Nathan foi apanhado, enforcado e com provas incriminatórias de Heughan e dele próprio, ninguém faz isso. Era muito jovem, coitado ao que parece era muito valente.
- E honesto! – disse-lhe.
-Está bem, olhe onde o levou a honestidade, a ele à ponta da corda e ao seu marido às portas da morte. – sobressaltei-me e levantei-me de um pulo.
- Você disse que ele não estava morto, pensei que estivesse bem. – Pulaski seguiu-me os passos, agarrou-me a mão.
-É, eu disse, mas está mal, o tiro atingiu-lhe uma artéria e perdeu muito sangue.  Foi de imediato assistido, porque Howe esta possesso e quer vê-lo na ponta da corda. Mas como lhe disse, o tio, Águia no vento assim se chama, têm cada nome estes Índios – girando o dedo indicador perto da sua cabeça indicando que eram doidos – Águia  conseguiu fugir com ele, e pediu-me que a encontrasse em troca de não contar a ninguém dos meus planos, quando viesse para Saratoga, lhe contasse que o vai levar para Cahokia, uma tribo nas elevações junto ao Mississippi. Satisfeita senhora?
-Meu Deus, sim obrigada, tenho mesmo de lhe agradecer. E já agora…  - e virei-me para Pulaski, pedindo conselho diria ou não a verdade a Arnold?. Pulaski simplesmente abanou a cabeça em negativa. Senti-me mal afinal de contas o homem era um interesseiro mas toda aquela história parecia-me verdadeira, o que é que ele ganhava mandando-me para Cahokia, onde quer que aquilo ficasse. Não o podia deixar na ignorância. – General você fará o que entender, mas visto ter tido a atenção que teve para comigo, devo dizer-lhe que está em maus lençóis, peço desculpa mas… Washington sabe da sua situação, sim.
-Ora bolas e agora?. – não ficou muito assustado, não me pareceu.
- Bem o senhor saberá, eu e o General Pulaski vamos embora, já mas, mais uma vez agradeço a sua boa vontade para com Sam e comigo. – Montamos nos cavalos e partimos, ainda olhei para trás mas já ele montava a caminho e ia por onde tinha vindo, voltava para Howe, pelo menos esse já sabia quem ele era.
Foram dias e noites que fizemos seguidas, parando aqui e ali com alguns sobressaltos no caminho, nenhum de nós falou em desistir de tal demanda, íamos carregados de esperança em encontrar Sam vivo e bem, quando a insegurança me afetava , Casimir Pulaski demonstrou-me com palavras e gestos de afeição que era um homem digno de um grande amor, fazia-me avançar com determinação nunca deixando que o medo avançasse sobre mim, foi o melhor companheiro de viagem que eu poderia ter encontrado. Por vezes errávamos o caminho, tivemos várias vezes de voltar atrás, nunca desanimou pelo contrário incentivava-me, o frio estava novamente  a chegar...

Onde Tu Fores... IreiWhere stories live. Discover now