XLI

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Sam partira , esteve durante mais uma semana connosco e depois partira, uma parte de mim foi com ele e outra parte ficou, entre noites e dias de promessas que tudo faria para que ganhássemos , iria continuar com a missão de espionagem, seria a única forma de vencer esta guerra, agora com os franceses desembarcados e o seu poderio militar juntar-seiam esforços para que tudo desse certo e os continentais saíssem vitoriosos e assim a liberdade de um povo se pudesse concretizar. Thomas foi uma companhia excelente sempre havia assunto, era um homem culto que sabia como entreter as damas à sua volta. O meu bebé ia crescendo, por vezes chegavam missivas de Sam, sempre que isso acontecia corria a resguardar-me no nosso quarto para que ninguém me interrompesse e pudesse eu ler e afagar as suas palavras, contava todas as peripécias do acampamento e quase palavra por palavra as reuniões em que entrava. Sempre que as cartas eram recebidas e entregues eu ficava no quarto não queria ver ninguém, como se ele tivesse chegado a casa e eu pudesse conversar com ele, passados três meses Patrick chegou, vinha com um ar cansado e nessa noite deixamo-lo ficar sozinho nos seus aposentos para que descansasse. De manhã não aguentando mais por saber noticias de Sam fui ter com ele.
-Minha querida, como está luminosa, e eu estou tão feliz. Não sabe a alegria que me dá por iniciar uma nova etapa na minha vida, sente-se bem? – abracei-o e senti os seus braços envolverem-me.
- Estou ótima Patrick, ótima se não fosse pela falta de Sam seria a mulher mais feliz à face da terra. Mas conte-me como estão as coisas. Falta muito? – sentamo-nos.
-Não, julgo que não. Howe ao que parece desistiu com a chegada dos franceses, mudou a natureza da guerra, sabe. Os ingleses sofreram as agruras mais que nós, estão longe de casa sofrem carência de provisões o comando está desunido, Cornwallis desistiu de perseguir Greene, e rendeu-se em Yorktown, julgo que o fim das hostilidades está próximo. E estou desejando, já não tenho idade para guerras e guerrilhas e estratagemas, quero descansar sob as árvores, cavalgar, mimar o meu neto.
-Ou neta. – sorri-lhe.
-Ou neta sim claro, - disse Patrick beijando a mão de Andreza - estou desejando ser avô. Posso enche-lo de mimos?
-Pode! Pode ser o avô mais mimoso de toda a Virgínia, com o meu consentimento, Patrick – e beijei de volta a sua mão. – então a volta de Sam está para breve, não acha?
-Bem, se Sam conseguir desviar as atenções de Washington da sua pessoa.
- O quer dizer com isso? – perguntei já ansiosa.
- Bem, Andreza, Sam é um homem jovem e sempre foi o companheiro mais leal de Washington, será que pode continuar sem ele e deixá-lo vir assentar arraiais para Monticello? As coisas não vão parar por aqui há muito trabalho pela frente, e Washington precisa dos homens mais leais junto a ele.
-Não tinha pensado bem dessa forma. – e baixei os olhos para as minhas mãos para Patrick não ver as minhas lágrimas que queriam saltar e rebolar pela minha face abaixo.
- Entristecia-a Andreza. Não queria, mas temos de pensar em tudo e o tudo é muita coisa, minha querida.
-Sim claro. Mas pensei que… 
- Que Sam iria ficar aqui, com tanta coisa por resolver em Filadélfia? Ou Nova York?, minha querida talvez o vosso reencontro, não esteja assim tão para breve, mas ele prometeu que viria para o parto do vosso filho, não é? Quem sabe que novidades nos trará Sam, eu sou um velho tonto que por vezes mete o carro à frente dos bois, provavelmente Sam quererá ficar, e ser fazendeiro, só lhe disse isto, porque Sam tem alma de guerreiro, ele é um cherokke no seu âmago, mas uma coisa eu tenho certeza, Andreza, ele não repetirá a mesma asneira do seu pai, ele não deixará a mulher que ama por nada deste mundo, poderá não voltar já, mas volta, não a vai deixar consumir-se de tristeza como eu fiz com a mãe dele. Ele é melhor homem do que eu alguma vez fui. – e com isso deu-lhe umas palmadinhas nas mãos e levantou-se com um sorriso triste no rosto. – permita-me ir descansar um pouco, sim querida.? – com a voz embargada de emoção disse-lhe que permitia.
Com aquele pensamento sabia que não poderia querer que Sam deixasse de ser quem era, senão perderia metade do homem que amava, nunca lhe poderia pedir que ficasse, que se tornasse um fazendeiro quando ele era o meu guerreiro de cabelos com tranças, ele era um homem de palavra acima de tudo e como ele antes já me tinha dito a sua palavra estava com Washington, com a revolução, não poderia nunca deixar Washington sozinho. E eu? E nós? Onde ficávamos nisto tudo. Foi assim que Thomas me veio encontrar na pequena salinha de chá, com lágrimas nos olhos e pesarosa como tudo.
-Andreza, que tem? – entrou e veio sentar-se ao meu lado. Não o afastei, sentia que precisava de uma palavra amiga de um ombro amigo. – aconteceu alguma coisa com o coronel? – parecia deveras preocupado.
- Não, não aconteceu nada, são os meus humores, é da gravidez, não ligue. – olhei para ele de lágrimas nos olhos.
-oh, não chore, por favor- deu-me o seu lenço – não consigo vê-la em tal aflição, por favor diga-me que não se sente mal. – E sem consentimento limpou-me uma lágrima com o seu polegar, descendo pelo meu rosto. Olhei para ele que pareceu sobressaltado.
-Perdão, não queria de forma alguma tomar alguma liberdade consigo. – o seu rosto era a verdadeira alusão à desolação.
- Ah Thomas, esqueça não foi mais que um gesto de amizade - Funguei e limpei o nariz – É  que Patrick estava aqui a falar comigo e disse-me que provavelmente Sam não poderia ficar para já aqui, que ainda há muita coisa a fazer mesmo depois do término da revolução. Só isso. – as palavras soaram-me como sinos de luto para as esperanças que tinha antes da conversa com Patrick.
- Sim, é uma verdade, mas ouça Andreza – e acolheu-me as mãos nas suas. – se Sam a amar como eu sei que ama, mas se ele a amar só metade do que eu a amo ele ficará. – levantei-me de um pulo.
-Thomas! – e afastei-me dele. – por favor não arranje mais problemas onde não os há. Esqueça que me ama, eu não poderei nunca, mas nunca devolver esse sentimento, mesmo que nada corresse bem na minha vida e espero que isso nunca venha a acontecer, eu nunca serei nada mais para si que uma amiga e se continuar a utilizar essas palavras para mim, até isso deixarei de ser. – e com isso virei-me para sair e a visão que tive abalou o meu mundo. Sam estava encostado à ombreira da porta com cara de poucos amigos. Lindo, corri para ele que me abraçou abarcando todo o meu corpo nos seus braços, olhei-o nos olhos e senti o seu amor por mim incondicional, forte como sempre.
-Amor da minha vida - disse-me beijando os meus lábios passando a sua mão pelo meu rosto, chegando-me com a outra para ele agarrando-me o traseiro. – morro de saudades – murmurou. Deixou de haver insegurança, deixou de haver Thomas, Patrick e as suas palavras, só Sam estava ali comigo e provei-lhe isso mesmo, beijando-o sofregamente procurando a sua língua na minha para que pudéssemos entrelaçar as nossas almas uma na outra. Não ouvi Thomas deslocar-se e sair.




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