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Andreza

Na manhã seguinte acordei ao som de uma grande azáfama, os regimentos estavam vivos e bem despertos ao que parecia, pelo menos a notar pelo barulho que faziam, era hoje o dia da reunião e decidiriam hoje para onde iriam, Seratoga, talvez e Sam iria com eles. Já Tinha decidido que não o deixaria ir assim sem mais, tinha de lhe dizer o que sentia.
Não o encontrei  durante o pequeno almoço, apenas Pulaski estava sentado à mesa da refeição, soturno.
-Bom dia General – levantou-se de imediato fazendo uma pequena vénia, puxou uma cadeira para mim e sentou-se à minha frente, comemos em silêncio, até que ele me perguntou efusivamente:
-Ama-lo? – olhei para ele, calmamente.
- Sim, acho.. Que sim.- E esperei.
-Eu também. – e vi que sim, era a mais pura verdade, nos seus olhos vi o meu sentimento reflectido. – Desde que o vi pela primeira vez, que soube que seria assim pelo resto dos meus dias, sente isso também?
- Sim, também. – tive a nítida sensação que também eu falava a  verdade – desde o primeiro dia que o vi.
-É uma pessoa arrebatadora, leva-nos consigo nas suas palavras, leva-nos a ultrapassar limites. – suspirei fundo, retive o ar por uns segundos, para tentar acalmar o meu próprio sentimento
-E ultrapassou os seus limites, General? - perguntei curiosa.
-  infelizmente não, senhorita, não me é permitido. – baixou a cabeça e continuou a comer.
-O que faria se lhe fosse permitido? – olhou para mim e suspirando respondeu-me.
-Tudo senhorita, tudo. – pediu licença e saiu deixando-me ali com um peso no estômago, com os meus olhos a acompanhá-lo até que saiu da sala. Então eu também tinha que fazer tudo, porque não o iria perder.
Depois de um dia atribulado em que não tive tempo de pensar em mais nada, senão no bem estar dos meus hóspedes, estava nervosa, todos os acontecimentos dos últimos dias estavam  a conseguir afetar-me, saí à rua e enchi os pulmões de ar fresco, mas o nó que tinha no peito não desapareceu, embrenhei-me nos acampamentos e olhei para as mulheres que estavam ali pelos seus maridos, filhos, eles eram o seu orgulho, a sua força, e estavam calmas, mesmo alegres, revigorei-me na sua coragem, eram pessoas especiais que não se abalavam, nem mesmo vivendo nas condições extremas em que viviam, não tinham medo, a coragem é o medo vencido, passava  por elas, cumprimentavam-me e continuavam nas suas conversas, a tarde começava a terminar e a noite chegava, ainda que lenta, na casa as velas do grande salão tinham sido acesas, iam dar inicio à reunião, voltei-me e  encaminhei-me para lá, agarrando nas saias com o cabelo quase solto dos ganchos, subi a estrada de terra, com a convicção presa na minha alma.
Entrei e todos se calaram,  a discussão estava  acesa, Sam estava no fundo da sala tinha o cabelo amarrado num rabo de cavalo e  vestia calças, colete e casaco à moda europeia, Dirigi-me para ele, sorriu-me-
- Agora não. - fixou-me, viu a minha decisão. Respirei fundo e  abri a boca para lhe falar.
- Agora não minha querida – e agarrou na minha mão – tudo o que tivermos a dizer um ao outro pode esperar - colocou um pequeno beijo na minha palma, fez-me uma pequena vénia e após um ligeiro assentimento de cabeça por parte de Washington  caminhou para o centro da sala e começou a falar – meus caros compatriotas, estamos hoje aqui reunidos, nesta bela propriedade que a nossa anfitriã, a senhorita Andreza Adams nos fez a honra de ceder por tempo indeterminado – virando-se e olhando em volta e para mim – o que desde já agradecemos Srta – fiz uma mesura para todos com um ligeiro sorriso e ouvi as palmas dos senhores e senhoras presentes – então, foi aqui que recebemos as informações que os Generais Lafayette, Greene, e o General Gates nos trouxeram ontem, de Boston, esta foi a primeira das muitas batalhas que se seguirão, estamos convictos que a independência é a questão prioritária temos de forçar os ingleses a evacuar a América, os Filhos da Liberdade, não mais fizeram que abrir os olhos de todos os que aqui estão, é preciso formar um novo comité de milícia, que reconheça que a presença dos exércitos e marinha inglesas mais não são que um acto de hostilidade e não de reconciliação, é chegado o momento da ação, três milhões de pessoas  armadas na Santa causa da Liberdade e um país como o que possuímos são invencíveis por qualquer força que o nosso inimigo possa enviar contra nós, Senhores, podem chorar paz, mas não há paz, a guerra está realmente a começar, o próximo vendaval que varre o norte trará aos nossos ouvidos o choque de armas retumbante - olhou à sua volta, todos estavam com os olhos postos em si, parou o seu olhar no meu e continuou, como se falasse só para mim, - a vida é tão cara, ou a paz é tão doce que pode ser comprada ao preço de correntes e escravidão? – engoli em seco, tinha o coração na garganta, voltou-se para os demais – Proibi-lo, deus todo poderoso – gritou como um grito de guerra – não sei que curso os outros podem seguir, mas quanto a mim – e olhando novamente para mim e com o punho levantado, na mão a sua adaga – ME DÊ A LIBERDADE OU ME DÊ A MORTE! – Ouviu-se um aplauso estrondoso, e vivas e hurras e Liberdade ou morte, Washington levantou-se da sua cadeira e abraçou  Sam, dando-lhe várias palmadas nas costas, rindo daquela forma que só um homem faz às portas da guerra. Sam desenvencilhou-se dos compatriotas, veio perto de mim, e abraçou-me, facto que não passou despercebido aos presentes, e enquanto uns ainda davam vivas outros comentavam entre si de onde tinha vindo aquela manifestação de carinho. Por mim, abracei-o de tal forma estava emocionada que quase o beijei na frente daquela gente toda, ele percebeu a minha vontade e afastou-se segurando-me apenas as mãos. Imelda ao meu lado,agarrou-me a cintura e levou-me dali para fora sem ninguém notar, coisa que no momento só me pareceu ser impossível. Agarrei-me a ela por falta de Sam.
     

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