XXXVII

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Todo o ambiente que me envolvia era de felicidade, sentia-me bem aqui, a tribo era composta por pessoas simples e muito alegres,  organizados, mas sabia que não podíamos ficar, Sam teria de voltar para Washington ele esperava por ele e eu também sentia falta de Imelda, para irmos tinha de ser agora depois seria mais complicado,. Sam queria que eu fosse para Monticello até ao final da gravidez a guerra pelo que ouvia entre sussurros estava praticamente ganha pelos continentais a estratégia de Sam tinha dado resultados, Howe não esperou por Burgoyne, marchou para Filadélfia para cercar Washington mas este já tinha saído para Nova York e quando Burgoyne chegou encontrou um exército desesperado por ganhar e acabar de vez com os ingleses, Howe ainda tentou voltar para trás mas quando chegou já não encontrou senão Washington vitorioso e Burgoyne de malas feitas, a França veio em auxílio dos continentais e Lá Fayete foi um dos gloriosos e isso assentava-lhe bem.
Cahokia estava em festa, sabiam que apesar de alguns dos seus membros terem lutado ao lado dos ingleses, a luta que viria seria só deles, e estavam prontos para o que viesse, na noite anterior à nossa partida, assaram-se búfalos no espeto havia fartura e danças, as mulheres estavam juntas numa roda  e eu com elas, deram-me cestos cheios de pequenas vestimentas feitas de pele de animais para o bebé, elas eram mães muito protetoras as suas crianças andavam sempre com elas numa espécie de tipoia enquanto realizavam os seus afazeres as crianças iam mamando dos seus peitos enquanto quisessem, as crianças eram de todos, quando uma das vezes me sentei junto de Sam e coloquei essa questão, porque ao início parecia-me esquisito, as outras mães não sentiriam ciúmes umas das outras? Ou parecia-me que não se preocupavam, as crianças que já andavam passavam o tempo a brincar não tendo qualquer responsabilidade, Sam riu-se :
-É Andreza, muito diferente de Inglaterra mas onde os pais entregam as crianças desde cedo a preceptores e damas de companhia, e as mães nem dão os seus peitos aos filhos, tu não queres amamentar?
-Ah, bem eu tive uma ama de leite, mas julgo que quero sim, Maora diz que é a melhor sensação do mundo – olhei para ele que me fixava com um sorriso – como foi contigo viveste aqui, até que idade?
- Bem... nasci aqui, fui criado por todos até as 14 anos, nós aqui sabemos que é importante para uma criança ter a avó para tomar banho, ou outras mães que te dêem de comida, a criança relaciona-se com os vários irmãos…  porque isso é um apoio, e como já viste por ti elas também se preocupam, também choram quando os filhos se magoam mas a palavra de ordem é : “têm de aguentar”, como resposta às adversidades, para poderem sobreviver, serem bons caçadores, bons pais e bons maridos. – passou-me uma mão no cabelo – sei que é difícil de entender, sei melhor  porque tive os dois mundos, e os dois são bons eu quero o mesmo para o nosso filho Andreza, que conheça as suas raízes as tuas e as minhas, ou tu não queres assim? – perguntou-me com imensa ternura.
- Quero, Quero Sam e se for mulher quero da mesma forma, porque estas são mulheres de muitos ensinamentos e coragem e tudo o que advém delas é benéfico. – beijei-lhe os lábios e sorri-lhe – e que estás a fazer? Isso é uma tanga? Vais vestir isso?
- Hum hum – assentiu – é  para hoje à noite temos uma festa em nossa honra. E foi uma festa bonita sem salões engalanados nem vestidos sumptuosos, mas cheia de alegria, a meio da noite os homens juntaram-se junto à fogueira e ao som de tambores começaram numa cantoria e rodopiavam entre si  à volta dela Sam juntou-se a eles, o som dos tambores marcando o compasso dos seus pés que batiam com força na terra girando e girando numa conexão com a natureza, senti-me arrepiar, ali Sam não era mais que um índio era mais um irmão de todos eles, sentia o som vibrar nos meus ossos e estava maravilhada com toda aquela demonstração de poder e força, ele olhou para mim enquanto se movimentava ao som dos tambores senti a sua força, como se me estivesse a amar no chão, senti a sua energia fluir por mim e no momento que caíam junto ao fogo senti o meu filho na minha barriga como se também dançasse junto ao seu pai naquela reviravolta ensinada por séculos, quando por fim fomos para a tenda dos casados, não éramos só nós os que se procuravam entre as mantas como se a dança tivesse continuado agora com mais corpos, mais gemidos  cada qual procurava a sua força vital e não me senti constrangida em nada, como se laços nos envolvessem debaixo da lona, como o fogo envolveu os homens na roda da fogueira horas antes.
Fomos embora nessa manhã com os alforges dos cavalos cheios, Hidalgo parecia um cavalo feliz, como se tivesse também sentido a falta do seu dono no lombo, marchamos  os dois para Monticello.

Onde Tu Fores... IreiDove le storie prendono vita. Scoprilo ora