Necromante 1 - Perigos em Jerusalém

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Augusto nunca foi como as crianças normais de sua vila, ele tinha uma ligação especial com a fauna e a flora, graças a isso as vezes ouvia vozes de coisas que não deveria ouvir. Ele sofria uma certa perseguição, era sempre tratado como um monstrinho. Seus cabelos loiros como o sol não ajudavam em nada a diminuir sua estranheza, essa característica havia herdado de seu pai, um soldado templário, que estuprara sua mãe em uma das muitas guerras santas em busca dos tesouros da Terra prometida.

Viver nos arredores de Jerusalém, com suas características europeias não foi fácil, mas Augusto sempre tentou ser o mais feliz possível mesmo com as limitações. Sua mãe, enojada por sua existência e sem querer o menino, o abandonou a sorte quando ainda era um pequeno bebê. Augusto foi encontrado num cesto com uma carta explicando tudo e pedindo para que cuidassem muito bem dele, graças a tremenda sorte do menino, ele foi adotado por uma senhora meio doida chamada Safira, ela era uma cigana que sabia um pouco de tudo do mundo lá fora e explicava para Augusto que não importava o que as pessoas pensavam dele, ele não era mal, ele não era a imagem de quem o fez. Safira tinha um carinho gigante e era uma das pessoas mais divertidas para se ter por perto, mas tinha muitos segredos, em seu tempo livre ela ensinava a Augusto truques, que chamava de mágica, eram palavras, ou orações a entidades que ajudavam os perdidos, os santos e aqueles que a sorte amava. E Safira dizia que a sorte amava Augusto, pois, tinha colocado o menino sob seus cuidados.

O menino não acreditava muito em nada que a velha Safira dizia, mas sempre que ouvia as vozes dos animais e dos galhos do deserto, tentava fazer a conexão com os ensinamentos da mãe postiça, era quase natural para ele imaginar que a tal magia que Safira falava era isso, esse talento de se conectar a natureza. Contudo, ele tentava não deixar isto subir sua cabeça, Augusto via-se numa posição inferior a tudo e nada que ele fizesse estaria à altura do mundo ao seu redor, ele era um grande erro na existência. E, foi para tentar lutar contra esse complexo de inferioridade que Safira ensinou o menino. A cada nova habilidade aprendida Augusto sentia sua ligação ao mundo se estreitar mais e mais, ao passo que finalmente tomava forma os ensinamentos da sabia cigana.

Safira tinha uma grande tenda numa parte desértica fora da cidade, feita de um pano roxo com ornamentos dourados, dentro dela havia um pouco de tudo desde estantes com livros em dezenas de línguas diferentes até kits alquímicos, a Cigana sabia um pouco de tudo e sempre dizia a Augusto que ele precisava saber também. O colocava para ler livros e aprender as línguas, embora este último ele não o fizesse, graças a um encantamento de tradução que aprendeu enquanto tentava ler um romance. Safira também dizia que Jerusalém era um lugar mágico, ele não conseguia enxergar isso muito bem, a princípio. Mas, magia estava ao seu redor, a Terra santa na qual Augusto vivia era um dos centros de poder mais fortes do mundo antigo, e mesmo depois que magia vinda de outros mundos chegou ao nosso, energias de todo tipo continuavam a emanar para dentro e fora de Jerusalém, isto atraia os mais diversos grupos de pessoas, magos, guerreiros, charlatões e o Império. Oito guerras santas foram travadas por aquele território, muito sangue foi derramado, muitas vidas que não tiveram a chance de contribuir para o mundo. Augusto tinha nascido após a nona guerra santa, aquela tinha sido a última, mais desastrosa e que havia deixado para trás muitas feridas abertas, afinal os tesouros de Jerusalém permaneciam perdidos. Grupos de saqueadores de todo o mundo conhecido tentaram a sorte na busca aos tesouros da Terra prometida.

Ao passo que, mesmo passados redondos 20 anos do fim dela da última grande guerra, ainda existiam homens gananciosos em busca de Deus sabe lá o que, por algum motivo que Augusto a princípio nem suspeitava, alguns sempre acabavam indo na tenda de Safira, interrogar a pobre cigana. Claro, ela era uma Cigana poderosa pelo que ele sabia, mas o motivo sempre escapava, as vezes ele esquecia, pois, mesmo as visitas sendo constantes elas não eram numerosas. E sempre que ele lembrava e tentava perguntar a sua mestra o motivo daqueles homens irem até ela, Safira desconversava. Em uma dessas enquanto eles estavam arrumando a tenda depois de uma tempestade de areia, Augusto exausto, ouvi Safira ruminar.

As Relíquias de JerusalémDonde viven las historias. Descúbrelo ahora