Necromante 6 - A batalha por Neuri

4 0 0
                                    

A manhã cheirava a orvalho e Fingordil estava impaciente, se o ataque realmente fosse acontecer hoje, ele já estava atrasado, nenhum sinal de movimentos de tropas, nem na floresta, nem na cidade, ou nos arredores. O palácio de inverno estava completamente protegido, talvez enviar Vick para o meio da Floresta tenha sido burrice, pensava Fingordil. Ele mesmo já havia sido enganado por visões antes, essas coisas não eram extremamente confiáveis, na verdade tinham se mostrado confusas na maior parte das vezes. Mas, ele devia isso a Vick, por sua vida, então porque não?

Fingordil foi até a cozinha procurando Clara, ou alguém para poder bater um papo enquanto o tal ataque não acontecia, mas chegando lá não encontrou ninguém, decidiu pegar um café, no lugar de um chá, pois tinha passado a noite em claro esperando o que não vinha. Boa parte dele já estava convencido que Dormos ainda demoraria algumas semanas para chegar até ali, Neuri era muito bem defendida, com cadeias de montanhas ao redor e com acesso um pouco difícil. Claro, existiam os túneis, mas os túneis poderiam levar a armadilhas piores que a morte se o usuário não soubesse de antemão como navegar. Era muito arriscado mandar um exército por ali, ele mesmo já havia falhado nisso algumas vezes e não se orgulhava nenhum pouco de ter perdido soldados importantes para elas.

Depois de terminar seu café ele tentou voltar ao centro de operações, mas encontrou Clara no caminho, ela sorriu ao ver seu amado, deu-lhe um beijo na boca apaixonado, Fingordil retribuiu e a abraçou forte. Quando eles finalmente se soltaram ele olhou para ela e disse.

- Você realmente me ama para me beijar com esse bafo de café.

- Por favor Fingor, você parece esquecer dos nossos tempos no Front.

- Verdade, era bem pior, como vai meu amor?

- Acho que ta tudo bem, por enquanto. Essa batalha vai acontecer hoje mesmo?

- Eu não tenho tanta fé assim, mas Vick teve a visão.

- Já fomos enganados por visões antes.

- Meu pensamento é o mesmo, amor.

- Mandei uma carta para nossos filhos, deve demorar algumas semanas até que eles recebam, mas contei do que está acontecendo aqui e os mandei ficarem em segurança.

- Espero que eles obedeçam essa sábia mãe que eles têm.

- Nós sabemos que eles podem ser tão teimosos quanto o maldito do pai.

- Ei, eu não sou maldito.

- Não mesmo, mas é um turrão. Que gosta muito de entrar em aventuras, mesmo com a idade.

- Acho que eu não tenho o que contra argumentar aqui.

- Ainda bem que você sabe.

Clara deu um beijo nele, um selinho e foi em direção a biblioteca.

- Um dia não será mais assim amor... – Disse Fingordil sem Clara conseguir ouvir.

Um de seus sonhos secretos era abrir mão de tudo quando Fernando fosse uma pessoa responsável. Ele iria com Clara para os campos de algum país pequeno, longe dos interesses Galianos, ou do Império do sol, ou dos espanhóis. Onde iria passar todas as noites amando, pescando, lendo e escrevendo, a vida simples, que ele jamais poderia ter enquanto fosse Vizir e general da Galia. A galia, a grande colônia espanhola com seu próprio príncipe, as vezes Fingordil pensava no quão insana era sua realidade, era só olhar para o que estava acontecendo nas outras colônias, se ele tivesse em qualquer uma delas, já teria morrido por insubordinação, isso é certo.

Assim que voltou ao centro de operações, ele percebeu a presença de Vânia sentada na janela olhando para fora, com um olhar distante. Ele já havia visto este olhar antes, na última guerra, trazia memorias ruins para ele, de um tempo onde tudo era incerto. E, ele entendeu que para ela, esses tempos poderiam estar voltando.

As Relíquias de JerusalémWhere stories live. Discover now