Romana 8 - O muro de Morgana

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A serpente Crowley estava no pátio central do palácio de inverno esperando Fingordil, ele parecia descontente com algo, percebeu Romana. Talvez, a ideia de uma guerra mesmo pequena por algo que não era muito de interesse dele estivesse o deixando com raiva. Inicialmente Romana pensou em tentar puxar algum assunto com ele, já que ela era quem havia trazido a guerra para Neuri de alguma forma. Mas, quanto mais perto Romana chegava de Crowley, ele discretamente se afastava mais ainda dela. Romana percebeu isso, sentiu-se mal, como se tivesse algum tipo de doença incurável e transmissível. Pensando bem, a tragédia era sua maior doença. As vezes pensava com veemência que isso era verdade, havia perdido quase todos a quem um dia ousou amar, todos de maneira trágica e horrendas, tudo indicava que o ciclo iria se repetir.

Quando ela viu Vick indo embora para a floresta, percebeu que aquela poderia ser a última vez que ela teria a chance de ver o Yolcameh e mesmo assim ela não conseguiu se despedir, seria demais para ela realmente assumir que poderia ser a última vez em voz alta. Romana se contentou em se despedir ao longe enquanto ele saia em cima do cavalo pelo portão. Ela então voltou para dentro do palácio e foi tomar um chá, para tentar relaxar. Depois disso ela iria afiar a mantedora de sonhos, pegar um escudo. A guerra estava batendo a porta e ela precisava mais do que nunca estar preparada.

Dentro do palácio ela viu novamente Clara, dessa vez ela estava dando ordens para alguns empregados sobre o que fazer para o jantar e em como limpar as persianas frontais, no fim a ordem era não limpar e fazer sopa. Eles poderiam ter pensado nisso sozinhos, mas ela queria se sentir importante, por que num geral ela era, Clara era a líder do palácio e sua chefe comandante enquanto Fingordil não estava ali. Ela viu Romana e a chamou.

- Oi minha querida, como você está?

- Olá mestre Clara, eu estou bem na verdade, acho que na medida do possível. – Ela respirou fundo – Vi vick ir embora, mas não consegui me despedir.

- Ah, sinto muito, ele é seu amante?

- Não... Não, ele é meu amigo, eu não gosto de homens.

- Entendo, tive algumas amigas assim. Contanto que você esteja bem com isso.

- É bem normal, no império, pessoas como eu, então acho que é mais uma questão de pessoas fora do meu mundo aceitarem ele.

- Como uma ogra, eu posso afirmar que isso é extremamente difícil. Minha tribo foi dizimada a algumas décadas por que fomos acusados de algo que não cometemos.

- Sinto muito madame.

- Eu acho que já superei, mas as vezes dá uma saudade dos meus irmãos e do meu pai.

- Você era da vila do caldeirão, não é?

- Sim, sim, confirmei com Augusto. Existem muitas tribos de ogros pela Galia, a maioria bem escondida e marginalizada, eu tento da minha posição mudar a realidade deles. Mas, mesmo tentando por décadas, eu fiz muito pouco.

- Eu já conheci alguns outros ogros, eles geralmente tratam não-ogros como se fossem o inimigo.

- Acho que você também faria isso, se todo mundo tentasse te matar só por você parecer diferente.

- Desculpe.

- Não, tudo bem, você não entende, e eu espero que você nunca tenha que entender. – A cara dela fechou – Agora se me dá licença, tenho que fazer algumas coisas.

Clara deixou a sala, Romana percebeu que a irritou e voltou a sentir mal, ela as vezes tinha esse talento de irritar as pessoas sem querer, como fazia com Vick e bem, todos os outros. Isso levou ela a uma espiral sobre ela ser uma pessoa horrível e inconveniente, lembrou de todas as vezes que disse coisas ruins sem querer para Carina, todas as vezes que elas brigaram por besteira. Ela balançou a cabeça, e foi para a oficina afiar a espada.

As Relíquias de JerusalémWhere stories live. Discover now