As Relíquias de Jerusalém

Vick 5 - Aqui jás

Vick estava totalmente de ressaca pela noite anterior, sua cabeça latejava e ele sentia vontade de beber litros de água. Na noite anterior tinha bebido muito com Bianca no bar da Estrela Latina, lembrando de suas melhores histórias com Mariana e tentando consolar sua irmã. Por algum motivo ele nem lembrava como tinha chegado na cama, mas sentia que havia um dedo podre de Romana no meio disso tudo. Ele tinha a vaga lembrança dela chegando a mesa, então deduziu que ela havia levado ele até a cama, talvez tenha levado Bianca também.

Ele levantou da cama, ainda zonzo, foi em direção ao banheiro onde jogou água na cara para ver se ajudava a passar a cara de ressaca. Depois ele tomou um banho bem gelado, voltou ao quarto e colocou seu único terno, azul escuro com detalhes dourados, com o qual ele havia ido ao enterro de sua mãe, ainda cabia nele, por que homens gatos geralmente não se desenvolvem muito depois de entrar na adolescência. Assim que colocou o terno a lembrança de sua mãe sorrindo brotou em sua cabeça. "Ela estaria em prantos se soubesse o que aconteceu" Pensou Vick, o pai de Vick, matando uma de suas amigas mais queridas, "Sim, com certeza ela estaria devastada", pensou novamente. Seu peito apertou, e então ele sentou na ponta da cama, juntou suas patas e deixou algumas lagrimas caírem, lembrando dos seus momentos com Mariana.

A memória com Mariana que ele mais gostava, era uma de quando eles ainda eram adolescentes, a mãe de Vick ainda estava viva e eles estavam numa das antigas varandas da Estrela Latina, Mariana tocava Viola e Vick sentava a sua frente ouvindo os acordes suaves da moça, a música estava toda errada, pois ela ainda estava aprendendo, mas aquilo sempre trazia uma certa calmaria ao coração de Vick. Ele achava que sempre teria momentos como aquele ao lado de Mariana, mas assim que chegou, mal tiveram tempo de conversar sobre, bem, sobre tudo. Era injusto, Vick Velardo, Dimas, não aceitava isso, ele queria matar seu pai, mas em seu âmago sabia que isso não traria Mariana de volta. Entretanto ele queria ver seu pai novamente, preso, onde não poderia nunca mais fazer mal algum para os seus amigos. Vick queria sentir esse gostinho de vitória. Ele saiu de fininho sem ninguém ao menos perceber sua falta.

Andando pelas ruas de Drios ele sentia um certo pesar, sim ele desejava ver seu triunfo, mas isto estava misturado com o medo do que o encontro poderia despertar. Talvez fosse melhor ele não ir, pelo menos não hoje. Vick sentou num banco, ficou ali uns minutos pensando se essa era a melhor decisão a se tomar, entrou num parafuso de ansiedade, mas não era sua primeira vez sofrendo, ele conhecia os sintomas, por isso respirou fundo, tentou de tudo para mandar sua ansiedade embora, pensou em gatinhos fofos, outros animais que ele gostava e comidas que ele adorava comer. Não demorou muito até os bons pensamentos entrarem e ele recobrar sua calma. Assim que o fez, levantou do banco e foi em direção a cadeia que seu pai estava.

Chegando ao local, ele reparou que havia algo estranho, a porta estava aberta e não haviam guardas na entrada. Vick sacou sua carta de espadas e entrou, não tinha ninguém no balcão de informações, nenhum guarda, nem outro tipo de profissional. Vick começou a ficar preocupado e sua ansiedade ameaçou voltar, mas ele não podia se deixar vencer, ele não sabia o que poderia ataca-lo. Ele então pulou o balcão de informações e abriu a porta que dava em direção as celas.

No lugar de alguns prisioneiros ele encontrou um guarda élfico amarrado e amordaçado numa cadeira, quando o homem o viu ele começou a se balançar para tentar chamar a atenção de Vick.

- Eu já te vi, calma. Tem mais alguém hostil aqui?

O guarda balançou a cabeça dizendo que não, Vick confiou no homem, colocou a carta de volta no baralho e foi prontamente ajudar o guarda assustado. Assim que ele retirou a mordaça o homem sorriu e disse.

- Muito obrigado, achei que ficaria ali até de noite quando há a troca de guardas.

- Não há de que senhor Guarda, o que aconteceu aqui?