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• Maria •

Eric havia me dado muita coisa pra pensar. Nossos pais foram amigos em comum e de Jeanine. Ambos foram manipulados por ela e sua obsessão doentia por poder. Eric estava cheio de ódio, rancor e mágoa. Ele queria matar Jeanine, mas não percebeu que, após anos sendo manipulado por Jeanine, acabara se transformando em alguém parecido com ela. Alguém que ama o poder e que faria de tudo por ele. Se eu realmente planejava investir, então eu precisava fazer valer a pena. E fazer o Eric enxergar que o poder ainda irá destruí-lo e levar tudo que ele tem.
O problema, é que ele não tem mais nada.

Entrei no refeitório da Audácia e pude sentir todos pararem o que estavam fazendo para me encarar. Senti vontade de abrir um buraco no chão e me esconder dentro dele.
Enchi minha bandeja com apenas um pedaço de bolo, uma garrafa d'água e respirei fundo. De longe, na mesa que costumávamos sentar na nossa época de iniciação, vi Drew, Jessie e Sam sentados. No lugar que Ali costumava ficar, Tris está sentada e Christina ao seu lado.
Do outro lado do refeitório, Joanne, Quatro e Tori estão comendo e conversando baixinho. Não sei o que estão tramando, mas tenho medo que seja sobre a execução de Eric.
Drew acenou para mim e, ignorando os olhares em cima de mim, caminhei até lá, me sentando ao lado de Sam. O assunto da mesa se calou e eu via Jessie inquieta ao lado de Drew.

— Dormiu bem, Maria? — Tris pergunta

— Sim. — murmuro

— Ah, não importa. — Jessie respira fundo

— Jessie, por favor. — Drew parece exausto

— Eu não consigo. — ela me olha — Você impediu o Eric se ser morto.

— Não, os líderes da Audácia decidiram isso.

— É, sob sua influência, já que um deles é seu irmão e a outra é melhor amiga daquele demônio. — ela parece indignada — Maria, ele fez o Ed de alvo.

— Eu não estou dizendo que tudo o que ele faz é certo, estou dizendo que ele estava sob uma simulação durante o ataque à Sede da Franqueza.

— Simulação? Sério? — ela franze o cenho — Ele andava e falava. Pra mim, era o mesmo Eric de sempre.

— Acredite ou não, aquele não era o Eric. — Tris interfere

— Eu o conheço desde a minha iniciação e, tá pra nascer alguém com a mira mais focada que a dele. — Christina também se envolve na discussão — Eric não é de tremer daquele jeito com uma arma na mão.

— Eu confesso que ainda não sei o que pensar a respeito do Eric. — Sam diz

— Será que a gente pode não falar daquele cara em pleno café da manhã? — Drew se irrita

— Vocês gostando ou não, Eric estava sim sob simulação! — afirmo segura — E escolhendo a execução sem um julgamento justo, estariam fazendo exatamente como Jeanine, queimando arquivos. Será que vocês podem deixar o ódio de vocês de lado e raciocinar?

— Não, Maria! — Jessie me encara — Não dá. Você é divergente, não é? É graças a pessoas como você que todo esse inferno começou. Eu só sei pensar como alguém da Audácia, porque é tudo o que eu sou!

— Chega, Jessica! — Drew bate a mão na mesa, chamando atenção de todo o refeitório

— Eu ainda sou a mesma Maria que venceu o caça-bandeira com você. — digo a olhando — A mesma que segurou sua mão enquanto você fazia uma tatuagem e chorou a morte do Ed com você. — me levanto e pego minha garrafa d'água — Mas tá tudo bem, eu não vou ficar brava com você. E não é porque eu sou divergente, é porque eu sei reconhecer quando alguém só está bravo. Com licença.

Ainda consigo ouvir Sam, Christina e Tris pedindo para que eu fique, mas estou chateada demais para ficar. Saio do refeitório marchando firme.

— Maria! — ouço a voz de Quatro

— Me deixa em paz, Quatro. Eu quero ficar sozinha.

Vou caminhando pelo complexo e recebendo olhares por todas as pessoas que passam por mim.
Na Torre da Liderança, caminho até o apartamento de Eric, sabendo que ali é o único lugar onde vou conseguir ficar sozinha para pensar.

★★★

— Imagino que ainda esteja dividindo dormitório. — Eric murmura sentado dentro da cela

— Acredite ou não, não me é mais tão ruim. — dou de ombros

— É, mas Drew ainda pode te ver trocar de roupa. — resmunga

— Pra sua informação, todos os rapazes até que são bem gentis. Nós nos revezamos, então só quem já me viu nua foram Jessie, Ali e as meninas.

— E eu. — ele sorri presunçoso

— É. — sinto meu rosto esquentar — E você.

— Se quiser um refúgio, é só ir ao meu apartamento. 1327. — ele acaricia minha mão e eu sinto o gelado da grade em meu braço — É o nascimento e a morte da minha mãe.

★★★

Digito a senha no painel e entro no lugar, sentindo cheiro de coisa guardada. Está tudo fechado aqui há, pelo menos, uma semana. Há uma fina camada de poeira sobre os móveis e, diferente da primeira vez em que estive aqui, a cama está impecavelmente arrumada.
Abro a porta da sacada e sinto o vento entrar e invadir tudo, dando um pouco de vida ao local. Me jogo de costas na cama e chuto os sapatos pra longe, me agarrando ao travesseiro e sentindo o cheiro de Eric. É maravilhoso. É quase como se ele ainda estivesse aqui.
Me encolho na cama ao recapitular tudo o que vem acontecendo desde minha iniciação e sinto as lágrimas arderem meus olhos quando me lembro das palavras duras de Jessie no refeitório. É por culpa dos divergentes todo esse caos.
É por minha culpa.
Afundo o rosto no travesseiro e me permito chorar livremente, como há muito tempo eu já não chorava. Chorei com vontade, deixando sair tudo aquilo que eu vinha prendendo.

Eu estava em um lugar devastado, quase deserto. O chão era de terra batida, haviam crateras no mesmo e um calor infernal. Na minha frente, havia um homem e esse homem era meu pai. Eu sorri ao vê-lo, mas me assustei ao ver um outro homem ao lado dele. Eu não conseguia ver o rosto desse outro homem, mas eu consegui reconhecer a mulher com eles.
Jeanine.
O homem que eu não vi o rosto me pegou pelos cabelos e me colocou de joelhos no chão quente. Minhas mãos estavam amarradas na frente do meu corpo.
Meu pai ergueu a mão e apontou uma arma para a minha cabeça. Eu senti as lágrimas quentes molhando meu rosto.

Mate-a, Logan. — Jeanine sussurra em seu ouvido — Mate-a.

Chorando, eu pisco e, de repente, meu Eric toma o lugar do meu pai.
Eric segura a arma na minha direção e Jeanine permanece em seu ouvido.

Mate-a, meu filho. — ela sorri — Mate-a!

***

Abro os olhos e pulo na cama, sentindo todo o meu corpo em alerta. Foi um sonho terrível!
Meu rosto está molhado e eu sinto meus olhos inchados, tanto pelo sono quanto pelo choro.
Pela sacada, a luz do dia já não ilumina mais. Já está quase na hora do jantar e eu sinto meu corpo dolorido, por eu ter ficado encolhida na cama enorme.
Respiro fundo e prendo o cabelo firme com um elástico. Sento na cama, calço as botinas e amarro os cadarços ainda pensando em tudo o que Jessie me disse.
Jeanine quer os divergentes, então eu me entregarei para ela. Vou acabar com esse caos antes que ela use mais alguma coisa contra mim.

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AquelaAutora

Danificado - Divergent FanfictionOnde histórias criam vida. Descubra agora