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• Quatro •

Eric observava os primeiros raios solares nascendo, iluminando aos poucos e preguiçosamente todo o lugar. Eu estava sentado em uma das cadeiras velhas que rangiam a cada vez que eu me mexia. Eric não parecia nem mesmo se lembrar de que eu estava ali, o encarando.
De repente, algo me chamou atenção. Eu não sei nada sobre a vida de Eric, antes da Audácia. Ele, por outro lado, sabia tudo sobre mim. Sabia que meu pai abusava de mim e da minha mãe quando eu era criança, sabia que minha mãe fingiu estar morta para fugir e me deixou pra trás. Ele sabia que esse era o motivo de eu ser mais calado e reservado, mas eu não sabia o que o tinha feito ser assim. Frio, distante, calculista. Pensei que talvez fossem apenas os genes da Erudição, mas então pensei em Cara. Cara é da Erudição, mas não estava com Jeanine e sua corja. Ela ajudou Tris e Maria a fugirem, ela está no grupo dos Leais. Ela não é fria e calculista como ele. Alguma coisa dentro dele foi quebrada, mas o que de fato aconteceu?

— Então você e eu vamos para Chicago enquanto o ataque acontece? — ele murmurou baixinho, a voz saindo rouca e cansada

— Precisamos impedir a guerra civil em Chicago. — digo — Depois que voltarmos, tudo estará certo e poderemos negociar com o governo. Quem sabe, ter a cidade de volta, mas de forma aberta. Escolher onde vamos viver, acolher as pessoas da Margem.

— E as facções não voltam. — comentam

— É, não voltam. As facções eram apenas uma forma de nos controlar, controlar toda essa história de genes puros e danificados. Não precisaremos mais delas.

Eric, ainda com o ombro encostado no vidro, vira o pescoço e me encara. Eu vejo cansaço em seus olhos e olheiras em seu rosto.

— Sem Audácia? — ele pergunta — O que eu vou fazer?

— Ainda precisaremos nos policiar, Eric. Talvez possamos continuar trabalhando no que trabalhávamos.

— Tanto faz. — ele murmura e volta a encarar a paisagem — Não é como se fossem me deixar impune pelas merdas que eu fiz.

— Se Chicago cai, então tudo cai. — digo — E o seu passado fica no passado, desde que esteja disposto a ser uma nova pessoa.

— Não vou conseguir ser uma outra pessoa. — murmura — Não sabendo das coisas que fiz por Jeanine e pela minha liderança.

Fico em silêncio.
Por que Eric aceitava ser igual a Jeanine? O que aconteceu no passado deles dois?

— Eu posso perguntar sobre você? — pergunto e ele me olha

— O que quer saber? — franze o cenho

— Sua história. Você sabe a minha, todos sabem. — o encaro — Uma vez me disse que eu não era o único com fantasmas no passado.

— E não é. — ele volta a encarar o sol nascendo — Mas meus problemas vão parecer pequenos perto dos seus.

— Nenhum problema deve ser comparado. Cada dor é única e não significa que eu sofri mais ou menos. Todos sofremos.

— Discurso de um Careta. — ele me olha com a sombra de um sorriso no rosto

— Não posso evitar. — sorrio — Não posso e nem quero.

Danificado - Divergent FanfictionWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu