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• Eric •

Eu nunca pensei que Quatro e eu fôssemos capaz de pensar e agir da mesma maneira em alguma situação. Quando sugeri reprogramar o Departamento e usar a arma deles contra eles mesmos, eu imaginei que seria massacrado por todos ali, mas invés disso, Quatro disse a mesma frase que eu ao mesmo tempo.
Assim que terminamos a frase, nos encaramos surpresos e nossos colegas nos encararam também. Alguns confusos por falarmos juntos e outros pensativos com relação ao que sugerimos.

— Tá falando de agir igual a eles? — Ali é a primeira a questionar — Isso é insano, galera. Estamos aqui para sermos melhores e salvarmos as pessoas desse tipo de tirania. Precisamos de paz.

— Os caminhos para a paz tendem a ser truculentos. — Maria diz enquanto encara o chão pensativa

Eu franzo o cenho. Maria está falando exatamente como Johanna, a representante da Amizade. Não me surpreende o fato de Maria ter espírito de liderança, mas me surpreende o fato como ela parece ser a fusão perfeita entre a Audácia, a Amizade, a Erudição e a Abnegação. Corajosa, gentil, inteligente e disposta a se sacrificar por aqueles que ama.
Sinto uma vontade enorme de ser melhor para ela. Por mim, é claro, mas pra ela principalmente. Maria merece o melhor de mim.

— Estamos falando de algo muito sério. — Tris diz — A pergunta que vocês têm que se fazer é, estou disposto a salvar milhares de inocentes?

— O soro da memória seria capaz de apagar todas as lembranças de cada indivíduo no Departamento, mas não afetaria em nada em suas tecnologias e não atrapalharia seus estudos avançados sobre a humanidade. — Quatro explica

— Eu já utilizei esse soro diversas vezes em algumas pessoas na cidade. — digo — O poder do soro é eficaz para apagar essa ideia idiota de separação entre danificados e puros, mas não para destruir por completo suas vidas. Eles terão a chance de recomeçarem e escolherem no que acreditar. Todos aqui foram induzidos pelo Departamento a escolher o lado Puro. Sem a interferência do Departamento, creio que caminharemos em direção a paz juntos.

— E você é defensor da paz agora? — Ezra me encara — Se começarmos uma revolução, estará cem por cento conosco, Eric?

— Mas que merda é essa? — franzo o cenho

— Ele tem razão. — Drew diz — Não dá pra gente organizar uma revolução contra o governo e, ao mesmo tempo, ter que se preocupar se você estará conosco ou nos trairá assim que o outro lado te oferecer poder.

— Você é a nossa maior ameaça interna, Eric. — Tris me olha

Todos estão me encarando, até mesmo Maria. Parece que todos estão inclinados a começar uma revolução, mas a minha presença os perturba. Reconheço que o poder me manipulou e só me ajudou a me tornar quem eu era. Eu gostava da ideia de ser temido, gostava da forma como as pessoas abaixavam a cabeça quando eu passava, de como se encolhiam ao ouvir minha voz. Pra mim, a ideia de um moleque fodido da Erudição chegar onde chegou era insana. Eu queria que as pessoas me temessem.
O que eu quero agora?
Eu não menti quando disse ao Quatro que havia encontrado um jeito de viver com o sangue nas mãos, mas é sangue demais. Mais uma gota de sangue inocente e eu desmorono de um jeito que nunca desmoronei antes. De um jeito em que nunca mais conseguirei levantar.
Eles podem contar comigo?

— Podemos contar com você, Eric? — Quatro pergunta me olhando nos olhos

— Eu posso contar com vocês? — pergunto receoso — Tirando Joanne e Maria, eu não me sinto seguro ao me imaginar numa situação de vida ou morte com qualquer um de vocês.

Danificado - Divergent FanfictionOnde histórias criam vida. Descubra agora