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• Maju •

- Sei que você gosta da minha comida, mas tô sentindo que não foi só por isso que você veio aqui. - eu falei desconfiada da vista de Carlos.

- Pô assim tu me ofende, mas tá certa. O patrão tá cheio de teimosia com aquele curativo, e eu tenho certeza que o bagulho inflamou. - ele disse dando umas garrafas no macarrão.

- Eu sabia que ia inflamar. Deve tá se enchendo de droga e bebida. Bem feito.

- Não fala assim Maju, pelo menos ele te liberou. - deu de ombros.

- Não sei porque, mas tô sentindo que você quer me levar lá pra olhar o machucado dele.

- po gata, é rapidinho. Ele tá cheio de dor, sabe disfarça mas eu sei que ta. O que custa?

- sabia! Custa meu amor próprio, sabe muito bem como ele me tratou. Mas pra sua sorte e a dele que eu sou piedosa. Se não eu ia deixar ele com aquilo pobre até o braço cair.

- nossa, até eu fiquei com medo.- ele disse levantando aos mãos em sinal de rendição.

- Vamos, antes que eu mude de ideia. - peguei me kit e saímos.

• Filipe •

Faz algumas semanas que a Maria Júlia saiu daqui. Confesso que sinto falta da comida dela. Mas o bom que não preciso mas expulsar ninguém daqui quando eu quero transar com a piranha da favela. Mesmo com o braço fudido eu dou conta do recado. Mas hoje o bagulho ficou de verdade, a pereba tá latejando e doendo pra caralho. Minha mãe veio me visitar, tirou minha temperatura e eu estava com febre. Puta merda. Ela fez uma sopa e logo foi embora, disse que tinha muito serviço. Passei o dia enterrado na cama, não conseguia mexer o meu corpo.

- Patrão, aquela novinha tá aí. - Rogerinho disse entrando no quarto.

- Maria Júlia? - não sei se era a febre mas a única pessoa que me veio na mente foi ela, confesso que fiquei feliz quando Rogerinho disse que era ela.

Ela logo subiu.

- Você tá horrível, mas é bem feito. Eu avisei que você tinha que ter cuidados. Não por beber, fazer esforço, usar drogas nem pensa! Aposto que fez tudo isso e mais um pouco. - olhei pra ela sem graça confirmando. - Tá, deixa eu ver o machucado. Ela abriu o curativo revelando o desastre. Estava com sangue e pus.

- aí...- murmurei com dor.

- Vou lavar com água oxigenada e depois limpar com álcool. - ela disse começando.

Ela passou uma pomada para dor que logo fez efeito. Colocou um novo curativo e me deu alguns comprimidos.

- toma, antes de eu vir aqui, passei na farmácia. É um antiinflamatório, vai ajudar com a dor, febre e a inflamação logo vai cessar. - assenti com a cabeça.

- Obrigada Maria Júlia. - era primeira vez que eu chamava ela pelo nome.

- De nada, mas se cuida, não sou enfermeira particular de traficante não. - ela riu. Eu também.

- Quando precisar, estamos aí. - ela assentiu e desceu. Eu estava disposto a ajudar caso ela precisasse porque mesmo com tudo que eu fiz, ela ainda estava ali pra me ajudar.

1 mês depois

•Filipe•

Dia de baile, eu já tava praticamente bom daquele machucado infeliz. Me trajei. Desci pra pegar a moto e desci pra quadra. Cheguei no baile e subi direito pro camarote, várias piranha enchendo meu saco. Tava lá de boa com meu copão e respeitei as recomendações da Maria Júlia e não tava fumando. Vi ela e aquela amiga dela no meu da multidão. Fiquei observando ela dançar. Ela rebolava de um jeito tão sexy, fiquei ali vidrado olhando pra ela. Só que sai do transe quando dedinho chegou nela. Ele tocou sua cintura, dando um beijo em seu pescoço e dançando junto com ela. Me incomodei? Um pouco e nem sei por que. Continuei olhando o baile, com a cara fechada. Tô me estranhando, ultimamente eu tenho pensando nela, as vezes me pego dando um sorriso idiota lembrando de quando ela fez o curativo no meu braço. Mais que porra!!!

Caralho Filipe, bandido não se apaixona!

- Qual foi chefe, algum problema? - Tubarão perguntou.

- Nada. Tudo tranquilo. - menti. Eu tava incomodado com a aproximação da Maria Júlia e aquele filho da puta do dedinho.

Já era umas três da madrugada. Dedinho saiu da quadra de mãos dadas com Maria Júlia. Ok. Tô com ciúmes, e nem sei por que motivo, mas eu tô. Fiz um sinal prós caras e sai do camarote, logo os seguranças vieram atrás de mim. Cheguei na porta da quadra, vi dedinho tentando algo com Maju e ela desviando, acho que ele confundiu os sentimentos com ela.

- Ei, posso falar contigo? - chamei Maria.
Júlia

- Filipe? É...tá...- ela se afastou de dedinho vindo até mim. O babaca entrou de volta pro baile com cara de cu.

- oi, alguma coisa errada com seu braço? - ela perguntou meiga.

- Pô, não... Só quero trocar uma ideia contigo mesmo.

- Ah, então... Pode falar.

- Pode ser lá no casarão?

- É tão importante assim?

- Pra mim é, tem como? - ela revirou os olhos e nos fomos até minha moto. Subimos até o casarão.

• Maju •

Filipe colou em mim, disse que precisava conversar comigo e me trouxe pro casarão. Só tô aceitando falar com ele, porque ele foi educado. Mas na verdade mesmo assim eu não devia estar aqui, mas já que estou, vamos direito ao assunto.

- Fala Filipe?- sentei no sofá e cruzei os braços.

- Qual foi da tua com o dedinho? - ele foi direto.

- Porque se importa com isso? Pensei que eu era só uma fachada pra você.

- Pode me responder?

- somos amigos Filipe. Apenas amigos. Nem era pra eu te dar satisfações.

- E por que não diz isso pra ele? Ele parece bem interessado em você.

- não entendi porque tanta preocupação comigo e com o dedinho...

- Sou o dono dessa porra de morro, tenho que saber de tudo que rola aqui!- ele disse rude.

- Ok, agora já sabe, posso ir? - disse me levantando. Ele tava com uma cara de cu que só.

- Tá com pressa? Fica aí. Você já é de casa mesmo. - ele disse como se estivesse falando com uma namorada dele ou patente.

- Não, amanhã eu trabalho, tenho que ir. - peguei minha bolsa pra ir embora. - só fui pro baile por causa da Mariana, ela tava triste por uns problemas familiares, aí viemos pra descontrair.

- To ligado... - disse parecendo compreender. - Pode vir aqui amanhã?

- Pra que Filipe? - eu disse irritada.- vai ficar me perseguindo agora?

- Não pô, eu só quero te conhecer melhor. Começamos com o pé errado. - ele abriu um sorriso de desmontar qualquer uma. Disfarcei.

- Tá. Depois eu passo aqui. Tchau.- sai quase que correndo daquela casa. Gente o que tá acontecendo?











O herdeiro da FavelaOnde histórias criam vida. Descubra agora