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- O QUE? NÃO CREIO! - gritou Mariana. Essa garota é uma escandalosa.

- Amiga, ele é um bebê. Me trata tão bem. Mas não quero ficar com ele.

- Não entendo você amiga, o cara sendo mó príncipe contigo. O que tá faltando?

- Reciprocidade. Eu só vejo ele como um amigo.

-E porque deixou ele te beijar? Vai acabar magoando ele, não vou com a cara dele, mas coração partido e osso. - ela disse pegando uma roupa no armário.

Fiquei pensativa. Eu não queria ferir os sentimentos do Cadu. Ele era tudo que uma mulher poderia querer, mas eu só sentia amizade por ele, nada mais. Enfim, é só dizer a ele Maju.

- Vai com que roupa? - mudei de assunto.

- Vestido.

- Também vou.

[...]

Tinhamos chegaso faz tempo, lancei alguns olhares pro Filipe que olhava a festa lá de cima do camarote. Cadu não saiu de cima de mim nem um minuto. Tava ali dançando colado comigo, e eu até que tava gostando dessa atenção.

- Essa música é muito velha. - comentei enquanto tocava eu vou te pegar do MC Pedrinho. Comecei a rebolar com Mariana conforme a batida. Daí sinto uma mãos em minha cintura e a voz suave de Cadu invade meus ouvidos. Eu vou te pega mulher, eu vou te pegar. Ele cantava no meu ouvido e eu ria tímida com o gesto. Eu tô fazendo tudo errado, mas ele é muito convidativo, é fofo, bonito, gentil. Socorro.

•Filipe•

Não queria aglomeração, mas o bagulho tava cheio. Eu até me animei um pouco. A mesa do camarote tava cheia de bebida de marca, várias novinhas dançando. Todo mundo embrazando. Peguei meu copão e encostei pra ver a festa. Meus olhos encaram algo que eu preferia ter morrido sem ter visto. Dedinho sarrando na Maria Júlia enquanto cantava uma música no ouvido dela. Tá achando que isso é pagode irmão? Fiquei incomodado, e eu queria interferir. Quanto mais raiva eu tinha, mas ele sarrava nela e ela ria. Respirei fundo. Mas não adiantou. Bufei e fui até a escada do camarote na intenção de acabar com aquela putaria. Tenho que admitir pra mim mesmo que eu quero aquela mulher pra mim.

-Oh chefe, vai aonde? - Um perguntou.

- Vou fazer o que eu deveria fazer a muito tempo. - eu disse determinado.

- Possi saber que porra e essa? - perguntei desgrudando aquele imbecil da Maria Júlia.

- Qual foi?

- Filipe? - ela disse assutada.

- Qual foi foi ontem. Tá aí se achando o fodão com a mulher alheia né. - bati palmas. - Vaza.

- Tá com confundido patrão? Não tem mulher sua aqui não. - ele se fez de besta.

- ah não tem?- dei um empurrão nele que se armou pra me dar um soco e assim ele fez.

- FILHO DA PUTA. - gritei. - quando eu ia pra cima dele, Maria Júlia se enfio na minha frente me impedindo.

Logo a música foi interrompida e a atenção da festa era eu e aquele imbecil. Eu queria matar ele.

- Maria Júlia sai da minha frente, eu vou matar esse arrombado!

- Filipe, vamos embora! Olha pra mim!- ela disse puxando meu rosto, me fazendo encarar seus olhos marejados.

Respirei fundo. E sai da quadra.

[...]

- Porra, isso dói. - eu reclamei enquanto ela coloca gelo no meu olho roxo.

- Problema seu, vem cá que show foi esse Filipe? Tava tudo tão bem, você estraga tudo! - Maria Júlia disse com um tão de desapontamento. Permaneci calado.

- Você não vai falar nada? Sério isso? Ficou com ciúmes do Dedinho?- continuei calado. - Tem como abrir a boca? Pensei que que eu tivesse sido apenas uma fachada pra você e por causa da minha burrice, também fui apenas uma noite como qualquer outra. Tô errada?

- Está. - respondi. - Eu nunca disse isso Maria Júlia. Eu queria te conhecer melhor, apenas isso.

- Porque se afastou então?

- Você que saiu correndo daqui naquele dia. Eu me afastei porque achei que você não quisesse nada sério. E eu não queria criar sentimentos por você, então coloquei na minha cabeça que deveria esquecer aquilo. Bandido não deveria se apaixonar Maria Júlia. Somos de mundos diferentes mas...- ela me interrompeu.

- Então não tô errada. Você viu o jeito que me tratou quando eu tava sendo obrigada a ficar aqui? Me bateu, me chamou de piranha, e mesmo assim a otária te ajudou quando você levou um tiro, e ainda transou contigo.  - ela riu pelo nariz enxugando as lagrimas, pegou a bolsa e foi até porta.

- calma aí Maju. Deixa tentar explicar...- eu disse seguindo ela até a porta e pegando em seu braço. Ela se virou pra mim com o rosto repleto de lágrimas. - meu pai sempre dizia que "bandido não se apaixona". E eu cresci com esse conceito na cabeça. E dizia isso pra mim todo dia. Toda noite, principalmente depois de pegar alguma mina. Mas...- ela me interrompeu.

- Seu pai está certo. - ela saiu e bateu a porta.

• Maju•

Sai do casarão em prantos. Porque caralhos o Filipe tinha que reaparecer na minha vida? Tava ótimo, sem ter que ver ele, sem ter que olhar na cara dele e sentir mil e um topos de sentimentos que eu nem sei explicar. Depois daquela noite, eu nunca mais fui a mesma. E tudo voltou agora depois desse momento que tive com ele. Péssima ideia ter me enfiado naquela festa. Agora eu não tava chorando igual uma otária por um cara que pode ter qualquer mina da favela e não está nem aí pra mim, QUE ÓDIO.

" Bandido não deveria se apaixonar"- murmurei. Ah vai pra cada do caralho.





O herdeiro da FavelaWhere stories live. Discover now