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Filipe

Já tem mais de um mês desde a noite que passei com a Maria Júlia. Tô tranquilo, já coloquei na minha cabeça que bandido não se apaixona. Hoje chegava um carregando na favela. Tive que ficar rondando a favela e depois dar um pulo na base. Faz tempo que eu não vejo aquela garota, nem parece que mora no morro. Cheguei na base e dedinho estava lá com cara de cu, ainda deve tá com raiva de mim pelo que eu fiz, nem deve saber o motivo, mas continuo reforçando que o motivo foi ele ter saído da boca em horário errado.

- Boa tarde. - eu disse.

Boa tarde chefe. - alguns homens me comprimentaram mesmo Dedinho. Apenas ignorei. Tá com raivinha? Foda-se.

- O carregamento deve chegar mais tarde. Tubarão vai com o Dedinho buscar. Façam a divisão entre vocês pra verem quem fica de guarda, quem fica na entrada da favela, e quem vai ficar aqui. - ordenei e me preparei pra sair. Por mais puto que estivesse com dedinho, ele sempre esteve comido na caminhada, eu só confiava nele e no tubarão pra buscar os carregamentos que chegavam, ele entrou na fac tinha a mesma idade que eu, crescemos juntos, posso dizer que considero ele como um irmão. Mas a raiva que tu tô dele não é por causa da Maria Júlia. Disso eu tenho certeza. Hoje é meu aniversário, não ri nada animado. Cabeça cheia. Mas vou fazer um evento privado. Só os chegados, algumas mulheres, nada público e aglomerado.

[...]

- Parabéns filho, te amo. Como você tá? E o braco?

- pô mãe, já disse, não precisa se preocupar, meu braço tá bom faz tempo.

- Você pelo menos agradeceu a menina que te ajudou? Eu fiquei sabendo por aí que ela é sua namorada, é verdade?

- Não, claro que não. O povo dessa favela fala demais. -ela não sabia da fachada.

- Hum. Não sei quem ela é, mas se te ajudou, deve ser uma ótima pessoa. Deveria investir, você nunca namorou, e eu quero netos. - ela riu.

- já te falei mãe, bandido não se apaixona.

- Lá vem você com a mesma ladainha do seu pai, você se esquece que nos últimos suspiro dele, ele disse que me amava. - ela disse triste. - você já tem 25 anos, não tem filhos, não tem namorada... Não se sente sozinho?

Permaneci calado. Minha mãe sempre me diz isso quando vem me visitar. Ela não mora aqui. Vem as vezes me ver e depois vai embora. Ela tava certa, eu tinha que arrumar alguém, mas sei lá, não é muito minha praia ficar de laço com alguém. Esqueci essa merda toda e fui pro quarto. Eu precisava descansar, minha cabeça tá um verdadeira bagunça.

•Maju•

Eu e Carlos preferimos esquecer o acontecimento na praia. Somos ótimos amigos e deveria ficar desse jeito. Ia ter um evento aqui na favela hoje, mas é privado. Aniversário do Filipe. Tem tempo que não vejo ele desde a última vez que... Enfim. Eu e Mariana resolvemos morar juntas, ela tá com uns planos e precisou alugar a casa dela, não achei nada demais, minha casa é grande, tem espaço pra nós duas.

- Você foi convidada? - ela perguntou.

- Graças a Deus não. - eu disse.

- Eu fui...

- Oi? Ele convidou você?

- Na verdade quem me chamou foi o tubarão...- ela disse receosa.

- Desde quando você aceita convite dessa criatura? - cruzeis o braços e a encarei.

- Aí amiga, não me olha assim vai, você disse que ele não era tão ruim...- ela resmungou.

- É, mas não o suficiente pra ficar contigo.

- Mas ele beija bem.

- É O QUE MARIANA? - Gritei.

- Gente, que ataque é esse?

- É por isso que no outro dia você chegou com um sorriso de orelha a orelha né dona Mariana? Sua piranha, quando pretendia me contar? - me fingi de ofendida.

- Hoje...

- Mentirosa!- levantei da mesa levando meu prato até a pia.- pode começar a contar.

- Tá...- revirou os olhos. - Eu tava vindo do trabalho, aí cortei caminho pela rua 9...

- Você tem uma mania de passar nessa rua.

- Não não gosto de passar pela principal, um monte de moto pra cima e pra baixo. Enfim, continuando... Ele tava na boca daqui de baixo. Aí eu passei nem tinha visto ele, quando entrei no beco eu olhei pra trás e ele tava lá.

Olhei pra ela com cara feia.

- Aí amiga, não me olha assim, ele tava tão cheiroso que eu não resisti, na verdade eu nem raciocinei. - ela disse se fazendo de vítima. - Ele foi tão fofo, e a boca dele tava tão convidativa, aí aconteceu e ele me chamou pra festa.

- Não vou te julgar porque me identifiquei. Mas se não fosse isso, eu dava na sua cara.

- Se identificou é? Filipe...?

- Cala a boca!

Escuto umas batidas no portão. Pelo jeito que estava batendo eu já sabia quem era.

- Jantaram sem mim?- Carlos disse fazendo um biquinho.

- A panela tá cheia, serva-se oh passa fome. - Marina implicou.

- Não comecem vocês dois hein. - eu disse. - vou escovar os dente, já volto. - eu disse subindo as escadas. - NÃO SE MATEM. -gritei.

Fui até o banheiro e diz o que tinha que fazer. Sai e encontrei Carlos sentando na minha cama com o prato de comida na mão.

- O senhor abusado, tem uma mesa lá na cozinha, sabia?

- Eu sei, mas quero falar cntg. Sai comigo hoje? - ele se aproximou deixando o prato em cima da cama.

- Ca-carlos... - eu tentei resistir, por mais que ele cheirasse a comida, ele tava tão cheiroso. Meu Deus. - Já conversamos sobre isso não já? Se comporta. - ele ignorou tudo que eu disse me puxando pela cintura diminuindo o espaço entre nós e depositou um beijo em meu pescoço. MERDA. Fiquei toda arrepiada. - Aí meu Deus, me solta Cadu, por favor...- pedi com dificuldade, eu já tava ofegante e meu coração estava quase pulando pra fora do meu peito.

- Só se você for comigo na festa. - ele disse ainda colado em mim.

- Tá, eu vou. - me rendi e ele me deu um selinho, que logo se transformou em beijo. Um beijo até bom, mas aí, eu acabei me lembrando do beijo que dei em Filipe. Porra Maria Julia, se orienta.

- Vou me arrumar. - eu disse depois de parar o beijo e fazer Carlos abrir um sorriso tão lindo.

- Te pego as 21, tá?

- ok. - eu disse com um sorriso bobo na cara. O que eu tô fazendo????? Eu não sinto a mesma coisa, mas ele é tão lindo, tão fofo. Não, ele é seu amigo, e você tem que deixar claro que vocês não são um casal.




O herdeiro da FavelaOnde histórias criam vida. Descubra agora