I- Nascer do sol

635 57 204
                                    

"Nossa existência não é mais que um curto circuito de luz entre duas eternidades de escuridão"

Abriu os olhos vermelhos vivos observando as ondas se desfazendo ao mar com sua expressão tão serena de sempre, considerava aquele fenômeno essencial para a vida humana, tinha a capacidade de acalmar qualquer um, como um calmante, dar o fim ao caos, ou na pior das hipóteses causar ele.

Caminhava vagarosamente pela calçada ao lado da areia, todo o local dava lugar ao caos. O último tsunami que havia passado ali há três dias destruirá tudo, mas mesmo assim não deixava de admirar o mar, ainda mais junto do pôr do sol. Não sabia o que fazia ali aquela hora no fim da tarde, talvez fosse a discussão com sua mãe que causará aquele acontecimento raro.

Passou as mãos pelos cabelos ruivos alvoraçando os mais do que já estavam. O quê viera fazer ali mesmo? A sim, veio espairecer as idéias. Viu um grupo de amigos se divertindo a frente, sempre desejou ter bastante desses com quem poderia conversar, desabafar, se divertir…

Nunca teve muitos amigos ou qualquer conhecido, talvez sua aparência não colaborasse tanto, certa vez uma pessoa lhe disse "ser diferente é bom". Não acreditava naquilo, por que o universo tinha que a ter feito dessa maneira? E como se para colaborar deu retoques ao seu rostos com "pequenos pingos de tinta" como dizia sua mãe, "malditas sardas!" Pensou a garota.

Colocou uma mexa do enorme ninho de passarinho que chamava de cabelo atrás da orelha. Passou tempo demais no Sol, parecia um camarão, decidiu por fim que estava na hora de voltar para casa, a essa hora sua mãe já deveria estar a fazer buracos no chão de tanto andar para lá e para cá, ela era doce e passiva, até certo ponto.

Procurava o chaveiro com um ursinho de vidro em sua bolsa, aquele era o seu bem mais valioso sentimental. O ganhou a dois anos atrás em seu décimo quinto aniversário junto da sua tornezeleira de estrelinhas de sua mãe. Abriu a porta não tão encantada com o que viu a sua frente, sua mãe estava em perfeito estado, calma como sempre. Quem não lhe conhecia muito bem poderia até dizer que tudo aparentava estar normal, mas não para Scarllet, sua mãe foi sua melhor amiga e única a vida inteira, conhecia cada expressão de sua mãe e aquela dali não era nada boa...

- Oi, está tudo bem? Deixou suas milhares de chaves junto de sua bolsa no sofá indo ao encontro de sua mãe na cozinha.

- Querida, que bom que chegou. Se virou em um ato repentino como se não soubesse que a filha tinha acabado de entrar em casa, possívelmente só estava distraída, o que era difícil de acontecer.

- Precisamos conversar. Seu semblante está confuso, como se estivesse com medo de algo ou alguém, sacudiu a cabeça levemente para os lados afastando esse pensamento.

- Se for sobre o mesmo assunto de antes nem valhe a pena tentar. Sua mãe prendia seus lindos cabelos loiros em um coque, ao contrário de sua filha, seu cabelo era totalmente alinhado e sem brilho. A garota sempre se perguntou de onde tinha herdado a enorme juba vermelha meio laranjada ou então sobre seus olhos, provavelmente de seu pai, porém aquilo era um enorme talvez. Não sabia muito do homem que a concedeu a vida junto de sua mãe, apenas o que ela nunca deixava de falar "Você é a cópia dele". Pegou um sachê de chá o entregando a sua mãe que já esquentava a água.

- É sério Scar, precisamos conversar, não é o mesmo assunto. Eu te amo meu raio de sol, e a certas coisas que você precisa saber antes que seja tarde demais.

Ignis - Amanhecer // A Filha Do Sol - Livro 1 da trilogia EclipseWhere stories live. Discover now