Capitulo três

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POV.JOSHUA

- ESQUEÇA! Eu não vou inventar uma noiva apenas para tranquilizar Melrose! Joshua Beauchamp exclamou com indignação e acomodou o fone na curvatura do pescoço, enquanto se livrava da toalha de banho que estava nos quadris.

- Ele ficou uma fera depois do jantar social - revelou Noah Urrea, o gerente, de negócios que se encontrava em Nova Iorque.- Não estou brincando Josh! Ele está acusando você de estar seduzindo Raquel e ameaçou desfazer o acordo.

          Joshua apanhou a calça de moletom que estava dobrada sobre o sofá e conseguiu vesti-la usando apenas uma das mãos, enquanto se lembrava de Raquel Melrose, a mulher que nunca mais gostaria de ver na sua frente.

- Foi ela que ficou o tempo todo cutucando meus pés por baixo da mesa!- defendeu-se Joshua. Não que ele tivesse qualquer preconceito em relação às mulheres que tomavam iniciativas sedutoras, mas, no caso da esposa de Eldridge Melrose, era diferente. Ela será em cima dele por toda a noite e ele deixará bem claro que não estava interessado. Joshua não namorava mulheres casadas, muito menos uma que, bem ou mal, se tratasse da esposa do bilionário magnata com quem estava finalizando um importante acordo de negócios. E, além disso, ele não se atraia por mulheres que tinham mais botox e silicone no corpo do que juízo na cabeça. Contudo, Raquel parecia inconformada con a indiferença que ele demonstrava e, agora, o resultado estava sendo desastroso. O acordo que almejava há meses corria o risco de acabar em nada. E não era por sua culpa.

- Vamos lá, Josh! Se ele decidir romper o acordo, voltaremos para a estaca zero!

          Joshua cruzou a sala de estar até um canto onde ficava o bar e, apanhando um copo pequeno, respingou um pouco de uísque. O recinto estava iluminado apenas pelo reflexo dos raios de luar que atravessavam as imensas janelas envidraçadas. Ele evitara acender as luzes por receio de piorar a dor de cabeça que o atordoava.

          Por fim, pressionou uma têmpora e desabafou:

- Eu não pretendo simular um noivado apenas para satisfazer o ego de Melrose. Ele que se entenda com a mulher fogosa que arrumou.

          Aproveitou para aproximar o copo do nariz e sentir o aroma agradável do uísque caro e muito diferente do cheiro ácido da bebida barata que o acompanhara nos dias de sua infância. Saboreou um gole e sentiu a garganta dolorida se acalmar por um instante. Lembrou-se de como fora difícil chegar até onde chegara. Não estava orgulhoso das coisas que fora obrigado a fazer para poder sobreviver, e o prêmio teria que ser muito maior do que um simples acordo de negócios para que valesse a pena comprometer a sua integridade novamente.
- Mas que droga, Josh! O que lhe custaria fazer isso é salvar o negócio? Com certeza você tem uma agenda lotada de mulheres que se matariam para ter uma oportunidade de ficar duas semanas no The Waldorf simulando ser sua noiva. E aposto que não seria sacrifício para você também.

- Acontece é que eu não tenho nenhuma agenda lotada de fãs desesperadas. E, ainda que tivesse, eu não teria coragem de fazer isso. Basta você colocar um anel no dedo de uma mulher e ela já começa a ter ideias de casamento, independente do que você lhe diga.

          Joshua sabia bem o que estava dizendo. Há menos de dois meses passara um verdadeiro tormento para conseguir o namoro com Taylor. E tudo isso porque acreditara no que ela lhe dissera sobre não estar à procura de nenhum compromisso sério. Ele imaginava que ambos estavam satisfeitos com o bom companheirismo e sexo seguro. Até descobrir que ela já sonhava com o modelo do vestido de noiva que usaria e o nome que daria aos futuros bebês.

          Ele estremeceu com a lembrança desagradável do que precisou passar para acabar com a ilusão de Taylor. De maneira alguma exporia outra vez a uma situação semelhante.

- Não posso acreditar que vai jogar fora esse negócio quando a solução é tão simples- insistiu Noah.

-  vamos nos ater daqui a duas semanas e, se Melrose insistir nessa asneira, então pode esquecer o acordo- falou Joshua, para acabar com a polêmica de uma vez.

- Você está bem? Sua voz está rouca!

- Devo ter apanhado um resfriado no aeroporto de Nova Iorque esta manhã. Mas não deve ser nada sério.

- Aproveite para descansar uns dias- Noah sugeriu.- Faz meses que não tira uma folga.

- Vou pensar nisso.-Joshua prometeu encerrou a ligação.

          Depois se aproximou da janela e levou o copo até a testa para refrescar a pele aquecida. Os pensamentos divagaram. Havia gasto uma fortuna na compra da velha mansão e outro tanto na reforma e decoração. E tudo isso pela noção idiota que, aos 24 anos de idade, ele deveria manter uma residência permanente. E agora, que tudo estava de acordo como planejara, ele começava a reconhecer a mesma sensação de vazio que o acompanhava desde a infância. A grande
           Verdade era que permanecer no mesmo lugar por muito tempo fazia sentir-se como um prisioneiro. Contudo, a solução seria simples: venderia a casa e nunca mais cometeria a mesma estupidez de comprar um imóvel para fixar uma residência. Algumas pessoas sentem necessidade de criar raízes para terem estabilidade que precisava sentir.

          Ele estendeu o braço direito e depositou o copo num móvel próximo da vidraça. O simples movimento lhe provocou uma dor imensa na musculatura do ombro. Ele não sentia aquele tipo de sofrimento desde os tempos de garoto, quando acordava com os açoites inesperados do cinto de seu pai.

          Joshua apertou as pálpebras com força para afastar as dolorosas lembranças.

          No instante em um tornou a abrir os olhos, notou um movimento estranho no jardim. Piscou por duas vezes até ter certeza de avisar uma figura vestida com roupas escuras que parecia rastejar por baixo de um dos arbustos.

          Ele espalmou as mãos sobre a vidraça e praguejou:

- Mas que diabos...

          Ignorando as pernas doloridas e a cabeça explodindo de dor, Joshua disparou na direção da porta de saída da sala. Quem quer que fosse o intruso iria se arrepender amargamente de ter invadido a propriedade de Joshua Beauchamp. Apesar de, agora, ser um homem rico, ele crescera nas ruas mais perigosas de Dublin e sabia muito bem como obrigar se precisasse. Joshua podia não gostar de mansão, mais permitiria que alguém roubasse uma sua flor do seu jardim.

Charme Fatal  *beauanyDove le storie prendono vita. Scoprilo ora