Capítulo cinco

4.7K 398 38
                                    

POV.ANY

Assim que entrou no minúsculo aposento, ela ouviu o som de miados e baixou o
olhar para uma cesta grande no chão, forrada com um cobertor velho, onde se aninhavam quatro gatinhos junto com o senhor Pootles, que agora estava mais para senhora Pootles, pensou Any admirada, enquanto dobrava os joelhos para observar os bichinhos.

— A gata apareceu por aqui logo nos primeiros dias em que me mudei. Ela não tinha nenhuma coleira de identificação e não permitia que eu me aproximasse dela.
Por isso providenciei aquela cesta para que ela se abrigasse.

Any notou o pires com leite ao lado da cesta. Talvez o homem não fosse tão mau
quanto aparentava. Ela analisou enquanto estendia uma das mãos para acariciar os
minúsculos gatinhos.

— Ela teve os gatinhos faz uns dez dias — ele prosseguiu, com o tom de voz tão
rouco que mais parecia um sussurro. — A minha diarista tem cuidado deles desde que nasceram.

Any ergueu-se. Porém, antes teve o cuidado de segurar a cintura larga da calça para que não acontecesse de deslisar

— Eu peço desculpas novamente pelo transtorno, senhor...?

— Beuachamp. Joshua Beauchamp.

— O que eu fiz foi imperdoável, senhor Beauchamp. Espero que não haja ressentimentos.

Ele curvou os lábios num sorriso tão amável que as linhas rígidas do rosto se
suavizaram e o fizeram parecer ainda mais bonito. Se é que isso fosse possível, Any pensou, enquanto prendia um suspiro de admiração.

— E como é o seu nome?

— Any Gabrielly.

— Foi um prazer conhecê-la, senhorita Gabrielly.

— Será que poderei vir buscar os gatos amanhã?

— Claro que sim. Mas, antes que saia, gostaria que me respondesse uma pergunta.

— Sim?

— Por acaso perdeu seu sutiã quando pulou o muro? — ele questionou com um riso debochado.

Ela corou.

— Ainda bem que acha isso divertido, senhor Beauchamp.

— Não imagina o quanto! — exclamou ele, alargando o sorriso e exibindo um brilho travesso no azul cristalino do olhar.

— Estou indo — ela declarou por entre os dentes cerrados. Poderia estar errada
quanto ao cuidado que ele demonstrara com os gatos, mas não se enganara ao rotulá-lo de arrogante, egocêntrico e autoritário, concluiu, enquanto rumava na direção da porta de saída e era seguida por Joshua.

Um protesto angustiado dele a fez girar a cabeça para trás em tempo de vê-lo
cambalear e cair de joelhos no piso vitrificado do hall.

Ela recuou rapidamente e inclinou-se ao lado dele. A raiva que sentia se desvaneceu ao notar a palidez do rosto dele e os tremores involuntários do corpo volumoso.

— O senhor está bem?

Ele acenou positivamente com um gesto de cabeça, mas a camada fina de suor que lhe inundava a testa demonstrava o contrário. Any repousou o dorso de uma das mãos entre as sobrancelhas grossas e exclamou assustada:

— Está queimando de febre, senhor Beauchamp!

— Por que não me chama de Joshua? — protestou com um fio de voz.

— Está bem, Joshua. Mas isso não muda o fato de estar precisando de um médico
urgentemente.

— Já disse que estou bem. — ele insistiu e ergueu-se com dificuldade. — Agora, já
pode ir para sua casa.

Charme Fatal  *beauanyOnde histórias criam vida. Descubra agora