Capítulo nove

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POV.JOSHUA

Joshua se sentia um tanto contrariado duas horas depois, quando se encontrava na porta da casa vizinha e mantinha em uma das mãos a cesta com os gatos dentro. Havia tido um enorme trabalho para conseguir acomodar os bichinhos, sem contar com os inúmeros arranhões que ganhara nos braços. Infelizmente, aquele não fora seu único problema nos últimos minutos. Após receber uma ligação preocupante de seu arquiteto no projeto que mantinha em Paris, fora obrigado a fazer uma reserva para um voo naquela mesma tarde. E, tão logo desligou o telefone, uma nova chamada de Noah o comunicava que o contrato com Melrose corria o risco de ir por água abaixo se ele não tomasse uma atitude urgente.

Joshua não estava com disposição de manter outra discussão com o seu assistente a respeito do ridículo plano do noivado simulado e preferiu concordar em fazer uma visita a Manhatann depois de resolver o assunto em Paris.

O inesperado acontecimento prejudicara seus planos em conseguir ter Any Gabrielly de volta em sua cama. Contudo, ainda restava a possibilidade de deixar o caminho preparado para quando retornasse. Conhecia um restaurante acolhedor em Notting Hill, onde ele e Any poderiam discutir a relação entre eles, enquanto apreciassem o famoso escalope, que era a especialidade da casa, e uma taça de vinho pouilly Fume.

Após o almoço, ele chamaria um táxi e iria direto para o aeroporto St Pancras International.

Retornando os pensamentos para o momento presente, ele apertou a campainha pela segunda vez. Por que Any estaria demorando tanto para atender? Eram dez horas da manhã de sábado e ela passara a noite praticamente acordada. Com certeza deveria estar em casa. Percorreu o olhar pela fachada da antiga mansão e, a julgar pelo estado lastimável, deduziu que o lugar estava sendo negligenciado há anos. Quem sabe Any não se interessaria em morar na casa dele enquanto estivesse fora?, ele se perguntou, esperançoso. Talvez precisasse demorar mais do que imaginava para resolver os negócios, mas gostava da ideia de saber que ela estaria esperando pelo retorno dele.

Estava justamente imaginando como seria bom estar de volta e encontrar Any, quando a porta foi aberta.

— Ora, ora... Se não é o nosso misterioso vizinho exclamou a senhora de meia-idade, robusta e quase tão alta quanto ele. Usava um vestido largo de seda e um turbante na cabeça do mesmo tecido da roupa e que lembrava os filmes antigos de Hollywood. — Finalmente resolveu se apresentar?

Como Joshua não conhecia a mulher, ele imaginou que ela o estivesse confundindo com outra pessoa.

— Meu nome é Joshua Beauchamp e estou com o gato que pertence à dona desta casa.

Ele colocou a cesta próxima aos pés dela e afastou uma parte da toalha que usara para cobrir a abertura, o suficiente para que o gato pusesse a cabeça para fora.
A mulher deu um grito de surpresa e colocou as mãos sobre as faces.

— Você encontrou o senhor Pootles? — Com o olhar iluminado como o de uma criança que acabou de receber um presente de Natal, ela inclinou-se sobre a cesta e apanhou o gato, aninhando-o no peito. — Como posso agradecê-lo, meu jovem? Acaba de fazer uma velha mulher muito feliz! — Ela tornou a erguer-se e beijou o animal como se fosse um filho querido. — Onde foi que o encontrou?
Estamos procurando por ele há semanas!

— Eu não o encontrei. Ele simplesmente apareceu na cozinha da minha casa — revelou e enfiou as mãos nos bolsos do jeans. — E há uma coisa que preciso lhe avisar. O senhor Pootles se transformou em mãe de quatro gatinhos há onze dias — e, afastando o restante da toalha, descobriu os minúsculos bichinhos.

— Oh...! — A mulher quase engasgou de susto. Em seguida, ergueu o gato no ar e o roçou com a ponta do nariz. — Seu danadinho! Por que não me contou que você era uma menina?

Joshua sorriu ao assistir a conversa da mulher com o gato e, retirando um molho de chaves do bolso, afirmou:

— Agora acredito que gostará de ficar com os filhotes também. Vou lhe deixar as chaves da minha casa para que possa retirar do armário da cozinha o estoque de alimentos para gatos que armazenei.

— O senhor é muito gentil — ela enfatizou enquanto aceitava as chaves que ele oferecia.

— Não precisa me agradecer. Foi um prazer. — E, com certo embaraço, ele perguntou: — Será que eu poderia falar com a Any?

— O senhor conhece a Any?

— Sim... Somos amigos — declarou, sentindo um calor esquentar-lhe as faces.

— Eu jamais imaginaria que fossem amigos. Principalmente depois das tolices que Any andou falando sobre você.

— Tolices?

— Sabe como ela é... — apontou com um sorriso que o deixou ainda mais confuso.

— Adora expressar a raiva dizendo coisas sem sentido. Ela vivia dizendo que você era arrogante demais para se preocupar com um gato perdido. E agora que o conheço, estou vendo que nada do que ela disse era verdade. Por acaso vocês tiveram algum tipo de discussão?

Joshua  negou com um gesto de cabeça e estreitou os lábios até formar uma linha fina. Então, Any falara mal dele sem nem mesmo conhecê-lo. Joshua detestava pessoas que julgavam as outras antes de saber como eram. Porém, embora o tivesse abalado um pouco, ele não iria ficar zangado por conta de uma opinião tola de uma garota. E, se ela achava que era boa demais para ele, poderia se preparar para uma grande surpresa.

— Any está no quarto?

— Não. Ela e Joalin estão trabalhando na The Funky Fashionista.

— Onde?

A mulher lhe lançou um olhar suspeito antes de responder.

— No estande dela no Portobello Market.

— Ah! Claro! — Ele disfarçou e fez menção de se retirar. Portobello Road Market não era longe dali e ele não levaria muito tempo para descobri-la.

— Senhor Beauchamp... — a mulher chamou antes que ele se afastasse. — Como farei para lhe devolver as chaves?
— Pode ficar com elas. Se acontecer de eu esquecer as minhas chaves em algum lugar, será útil ter uma cópia com a vizinha.

E, com um sorriso amável, ele acenou e apressou os passos na direção de Portobello.

Enquanto caminhava, imaginava o que deveria fazer para punir Any por ter denegrido a imagem dele antes de conhecê-lo, E a ideia que acabou por surgir em sua mente ele poderia apostar que não agradaria nem um pouco a ela.

Mas, se havia uma maneira de matar dois coelhos com uma só cajadada, era exatamente o que ele faria. E, depois da maneira como ela o abandonara naquela manhã, era o mínimo que ela deveria fazer para recompensá-lo.

Charme Fatal  *beauanyWhere stories live. Discover now