Capítulo vinte e oito

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POV.JOSHUA

— Eu vou matar aqueles pequenos bastardos!

Joshua estremeceu diante dos gritos furiosos e o som metálico da fivela de um cinto batendo contra a madeira rústica da porta. O suor umedecia a camiseta que usava e provocava ardor nos ferimentos provocados pela surra que sofrera duas noites antes.

— Ele vai fazer isso, Jake. Dessa vez, ele realmente pretende nos matar! — Jaden sussurrava amedrontado.

Joshua envolveu o irmão pelos ombros e o instruiu em tom baixo de voz:

— Assim que ele conseguir entrar, você sai correndo. Leve as meninas para a senhora Flaherty. Eu tratarei de segurá-lo aqui comigo.

Ambos pularam de um salto quando um som mais alto eclodiu no ar.

Joshua mantinha o olhar fixo no trinco da porta, que agora parecia fragilizado pelas duas últimas investidas. A sensação de medo e a lembrança da dor sofrida pelas constantes agressões lhe tencionavam a musculatura. No instante em que a porta cedeu e ficou escancarada, ele ergueu os braços e se levantou. O grito agudo e aterrorizado de Jake ecoou na penumbra, enquanto a silhueta do homem enfurecido avançava na direção deles. Joshua se atirou na frente dele e sentiu a pele arder por conta dos golpes cruéis e dilacerantes.

Joshua sentou-se na cama e abriu os braços na escuridão do quarto tentando se defender de algo que não estava lá, o coração disparado e os pulmões ansiando por ar, além do som da fivela do cinto contra a pele sensível ainda vívida na memória.

Tratava-se de mais um daqueles pesadelos que o perseguiam sem piedade.

Gradualmente, os olhos azuis começaram a se adaptar à penumbra e afastá-lo do horror daquelas cenas.

Pareceu transcorrer uma eternidade até que conseguisse normalizar a respiração e descobrir que a única coisa que existia ao seu redor era a sensação de vazio e uma tremenda solidão.

Por que Any não estava ali com ele? Ele precisava tanto dela... Depois de cobrir o rosto com as mãos, ele correu os dedos nervosos pelos cabelos por várias vezes.

Já haviam se passado dois dias inteiros desde a última vez que a vira e a imagem dela não lhe saía da mente. E a falta que ele sentia da presença dela parecia atormentá-lo mais a cada novo dia.

Liberando o ar com força, Joshua finalmente encarou a verdade. Ele conseguira estragar tudo. Como pudera ser tão estúpido? Por que diabos tinha que ter jogado tudo fora? Fugira de algo que, na verdade, deveria estar correndo atrás.
Recostou a cabeça no travesseiro macio e tomou a cobrir o corpo com o lençol ainda úmido pelo suor provocado pelo terrível pesadelo. Cerrou as pálpebras e tentou conciliar o sono novamente, jurando para si mesmo que, no dia seguinte, iria cuidar de recuperar o que havia perdido. Ele faria qualquer coisa que precisasse para conseguir que Any voltasse para o lado dele. O lugar a que ela pertencia.

POV.ANY

— Precisamos conversar.

Any olhou espantada para o último homem que ela esperava ou desejava ver estacado na frente do quarto que ela ocupava.

— Vá embora! — ela gritou e tentou bater a porta. Porém, ele a impediu com a palma da mão estendida sobre a madeira.

— Não — ele se recusou e, escancarando a porta, entrou no pequeno aposento.

— Não pode invadir meu quarto dessa maneira! — protestou ela, sentindo uma nova onda de enjoo na boca do estômago. Já havia tido duas crises desde que se levantara, uma hora antes.

— Tarde demais! Já estou aqui dentro!

Joshua se posicionou no meio do recinto. Os ombros largos e uma ruga de determinação entre os olhos fazia o lugar parecer ainda menor do que era na realidade.

Charme Fatal  *beauanyUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum