Capítulo dez

2.9K 284 14
                                    


POV.ANY

— Não me admira que esteja exausta! — Joalin protestou, exibindo uma ruga profunda no meio da testa, enquanto terminava de ajustar o balcão do estande.
— Não deveria ter perdido a noite toda para cuidar de um estranho. Você não deve nada a ele. E aposto que o homem nem mesmo lhe agradeceu!

Any corou ao se lembrar da maneira como Joshua a agradecera e tentou esconder o rosto atrás do cabideiro que guardava os vestidos de algodão.

— Por que você enrubesceu?

— Não estou enrubescida. Estou apenas separando os vestidos por tamanho de manequim. É incrível como as pessoas conseguem misturá-los.

Joalin se aproximou e tocou em um dos braços de Any.

— Aconteceu alguma coisa que não me contou? Sabe que pode confiar em mim.

A preocupação nos olhos da amiga provocou uma espécie de culpa na consciência de Any. Contudo, não conseguia ter a coragem de contar para Joalin o que havia acontecido. Ela sabia que tinha se atirado nos braços de Joshua sem o mínimo pudor. Mas, quem não teria feito o mesmo
naquelas circunstâncias? Passara a noite inteira próxima de um homem nu e esplendorosamente bonito. E o fato de compartilhar dos momentos de vulnerabilidade dele criara uma falsa ilusão de cumplicidade. E ele não fizera nenhuma objeção quando ela insinuou que fizessem amor. No entanto, Any jamais seria tola o suficiente para criar ilusões a respeito de um homem como Joshua Beauchamp. Um homem que era exatamente o oposto da pessoa calma e estável que ela precisava. Por isso, o que acontecera naquela manhã apenas significava que eles haviam conseguido um bom desempenho sexual. E sexo não significava amor, por mais estupendo que pudesse ter sido.

Só existiam duas coisas que Any se arrependia de ter feito: tê-lo tratado de modo grosseiro depois que fizeram amor e ter depreciado o caráter dele apenas por ser rico e bonito. E, para ser honesta consigo mesma, tinha de admitir que ficara ressentida pelo fato de ter tentado uma aproximação com ele e Joshua simplesmente tê-la ignorado. E o orgulho teria sido a causa principal de ela tê-lo seduzido e depois o abandonado. O pobre homem deveria ter-se sentido como um objeto descartável. E o mínimo que ela deveria fazer era pedir-lhe desculpas.

Percebendo Any distraída em pensamentos, Joalin interveio:

— Estou começando a me preocupar com você. Se aquele homem a magoou, prometo que o farei pagar.

Any deu um meio sorriso divertido diante da ameaça que a amiga fazia. Joalin era ainda mais baixa e miúda do que ela.

— Não, Joalin. Ao contrário. Eu o magoei.

— Como assim?

Any abriu a gaveta da antiga caixa registradora e apanhou os invólucros onde acondicionara as moedas que deveriam servir de troco e começou a abri-las.

— Eu agi muito mal quando disse todas aquelas coisas ruins a respeito dele para todos que eu conhecia.

— E o que a faz pensar que ele se importa com isso?

— O caso é que eu me importo!

— Você vivia dizendo que ele não passava de um rico arrogante. O que há de tão terrível nisso?

— Acontece que ele pode ser rico, mas não é arrogante. Bem... Talvez um pouco. Mas isso é pelo motivo de estar acostumado a ver as mulheres se jogando aos pés dele.

— E daí? Isso não dá o direito de ele querer tirar vantagem...

Any pressionou dois dedos nos lábios de Joalin para impedi-la de prosseguir.

— Ele não fez nada disso. O que aconteceu foi por minha culpa.

— E o que exatamente aconteceu? — Joalin perguntou, estreitando o olhar. — Está querendo dizer que dormiu com ele?

Any corou. Como é que explicaria para a amiga algo que nem ela mesma saberia dizer como havia acontecido?

— Olá, senhoritas! — A voz grave com sotaque irlandês fez com que ambas girassem a cabeça ao mesmo tempo na direção do balcão do estande.

Any sentiu o coração disparar. Joshua ostentava um sorriso devastador. Trajava o mesmo jeans e a camiseta que ela o vira despir pela manhã e parecia bem-humorado.

— Detesto interromper uma boa conversa entre amigas, mas gostaria de falar um minuto com você, Any. Se possível, em particular.

— Ela está muito ocupada — adiantou-se Joalin.

— E você, por acaso, é a procuradora dela? — Joshua desafiou.

— Talvez — Joalin respondeu, colocando-se nas pontas dos pés e empinando o nariz. — E você, quem é?

Any apressou-se em acalmar os ânimos:

— Está tudo bem, Joalin. Deixe comigo. Será que poderia tomar conta do estande sozinha por mais ou menos uma hora?

— Certo — a amiga concordou, lançando um olhar censurado para Joshua. — Mas, se não estiver de volta depois disso, eu irei procurá-la.

— Combinado — Any murmurou e apanhou a bolsa que escondera atrás do balcão. Depois, olhou para Joshua e sugeriu: — Conheço um Café na esquina da Cambridge Gardens que faz um excelente cappuccino. Por que não vamos até lá?

Charme Fatal  *beauanyWhere stories live. Discover now