Prólogo

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NARRADO EM 3°PESSOA

O que te destrói? O que tem o poder de te estilhaçar? Qual acontecimento foi capaz de rasgar o seu coração e os seus sentimentos como se fossem uma miséra folha de papel?

Algumas lembranças – sejam elas boas ou ruins –, tem um poder absurdo sobre nós. Ah, a dor, a dor parece ser capaz de te moer aos pedaços. Bem, posso dizer que um acontecimento ruim em uma vida que antes era boa, não vai te matar, mas parte de você morrera, e de lembrança ficara um mero coração partido.

O cemitério tinha um ar tão melancólico que seria capaz de arrancar lágrimas até mesmo daquele que se denomina forte.

Havia uma garota correndo seguindo na direção daquele mesmo cemitério sorumbático. Ela batia os pés contra as poças de água que a tempestade da noite anterior havia formado. O frio, ah o frio que fazia naquele dia era surreal. Me lembro de que a garota não estava agasalhada, mas estava encantadoramente vestida de bailarina, mesmo com o babado do vestido cor de rosa molhado e os cabelos desgrenhados e bagunçados em volta do que havia sobrado do coque que prendia os fios claros.

Ela passou pelos portões cinzas e altos como um relâmpago. A garota parecia estar perdida, os olhos atordoados e os lábios rosados trêmulos, entretanto, ela parecia saber para onde deveria ir. E depois de correr entre túmulos e mais túmulos ela conseguiu chegar na onde deveria estar.

O coração acelerou. As mãos começaram a suar. A boca secou e suas pernas tremeram. Ela tomou fôlego. Apertou o instrumento contra o peito e fechou os olhos com força, esperando que quando os abrisse se depararia com o quarto cor de rosa, e todo aquele pesadelo não passaria disso, um pesadelo. Mas isso não aconteceu, era real.

As pessoas presentes não ousaram dizer nada quando a figura encharcada de cabeça baixa com os cabelos pendendo sobre o rosto, parou próxima ao caixão.

Se bem me lembro, ela segurava um violino branco em uma das mãos, enquanto apertava o arco com força na outra. Quando ela levantou os olhos castanhos, todos puderam ver a maquiagem artística que antes enfeitava o seu rosto com tanta luz, agora não passava de borrões pretos e amarelos. Dava para notar que ao lado de seus olhos haviam sido feitas asas de borboletas.

O lugar soturno caiu em um silêncio torturante quando a garota levantou o violino e o apoiou sobre o ombro. As notas – perfeitamente –, afinadas foram ouvidas e contempladas por todos que estavam perto.

Nenhuma palavra foi ouvida ou dita, era como se o tempo tivesse parado.

O sofrimento voltou a tomar o lugar quando, Anna Liz Campbel arrancou as sapatilhas graciosas e as atirou para o outro lado. Ela jogou o arco na mesma direção e segurou o violino sobre as cravelhas e o bateu no chão. A visão estava borrada pelas lágrimas e ela se odiava por estar sendo fraca, odiava saber que tinha falhado. Ela odiava a dor, odiava a irmã por ter feito o que fez e se odiava por não ter sido capaz de evitar.

— Liz — a voz equilibrada e macia vinha do primeiro filho dos Collins.

O coração dele estava tão quebrado quanto o dela. Ele tirou o instrumento danificado das mãos dela com paciência, e só assim pode envolve-la em um abraço. Ela não lutou contra as lágrimas. Anna Liz se agarrou ao melhor amigo desejando que a dor fosse embora.

— Estou aqui com você — ele murmurava enquanto acalentava seus fios claros.

Queria poder dizer que ele continuou ali com ela. Queria poder dizer que a amizade deles durou anos e anos, até descobrirem o amor um no outro, mas isso não aconteceu.

Os Collins partiram, e a promessa de um nunca deixar o outro foi quebrada.

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