Depois de perder a irmã, algo dentro de Anna Liz mudou. A dor foi capaz de mudá-la exageradamente. Além de sentir que perdeu uma parte dela, pouco tempo depois Liz teve que lidar com o seu coração reduzido a pó, deixado pelo melhor amigo quando ele...
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Caminho ao lado de Ethan pelo campus. Enfio minhas mãos nos bolsos, pela primeira vez estava sem saber o que dizer.
— Minha mãe foi o motivo pra minha família ter se mudado — revelou com os ombros baixos.
Primeiro fico confusa, depois junto as sobrancelhas tentando compreender. Abro a boca e a fecho duas vezes seguidas quando as palavras parecem fugir da minha linha de raciocínio.
— Insuficiência renal — emitiu com a voz dolorosa. — Essa merda não tem cura — proferiu baixo com os olhos presos no gramado, os cabelos curtos balançavam com a brisa forte que corria entre as árvores. — Esse inferno — aponta para a nossa volta. —, é o único lugar onde não tenho que escutar vinte e quatro horas por dia que tudo vai ficar bem, quando eu sei que não vai.
Meu coração pareceu encolher diante da verdade excruciante. Meu peito apertou e minha respiração travou.
— Ela está morrendo, Anna Liz — as palavras secas me acertaram como um soco no estômago. — Estou vendo a minha mãe morrer e não posso fazer porra nenhuma — lamenta com irritação.
Coloco minhas mãos sobre a boca tentando conter o descontrole.
— Por isso vieram para Nova Iorque — suponho. — Por causa do tratamento.
Ethan respirou fundo, passando as mãos entre os cabelos.
— A hemodiálise parece deixar tudo pior — alegou com a voz baixa. — Tem dias que ela não consegue levantar da cama e outros que chega a gritar de dor — fecho os olhos com força, imaginando uma pessoa boa como a Beatriz tendo que passar por isso. — Estou te contando porque não quero que você pense que fui embora por pouca coisa.
Anuo ainda tentando digerir tudo o que havia me dito.
— Deveria ter me contado — alego. — Eu deveria ter estado com você, deve...
— Não te contei porque não queria ver você mais quebrada do que já estava — me interrompeu, parando a minha frente e segurando meus ombros. — Droga, você tinha acabado de perder a Helena — era a primeira vez em muito tempo que escutava o nome da minha irmã mais velha ser dito em voz alta. — Nunca tinha visto você chorar, até aquele dia no cemitério — suas mãos deixaram os meus ombros com calma. — Aquela tarde me assombrou por anos. Ver você presa naquela angústia foi o que me fez tomar a decisão de não te contar sobre a minha mãe.
As palavras pareciam ter desaparecido. Queria poder dizer algo reconfortante ou racional. Não sou boa com as palavras, não sou boa em dizer o que estou sentindo, e – aparentemente –, não fui uma boa amiga. Ethan estava comigo quando precisei dele, ele esteve comigo quando recebi uma das piores notícias da minha vida, mas não estive com ele quando precisou de mim.
Deus! Como não consegui perceber que havia algo errado acontecendo com ele, acontecendo com a Beatriz, a mulher que ousava dizer que era minha segunda mãe. Beatriz Collins está morrendo, a frase ficou ainda mais torturante quando a repeti em minha mente.
