prólogo

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   Minha vida nem sempre foi assim, essa rotina enlouquecedora. Não passo por simples problemas como uma briga de família, falta de dinheiro ou pessoas morrendo.. bom, com a falta que sinto da minha mãe posso reconsiderar a última parte.

   Passo muita merda aqui em casa, quando meu padrasto não se sustenta no puteiro corre á minha procura. Até correria dele, se não ameaçasse á matar seu próprio filho, que hoje o amo e o protejo como meu verdadeiro irmão. Nem mesmo ele sabe sobre tudo, acho que se ele não souber é mais fácil, se soubesse ficaria relutante demais quando tranco ele dentro do meu quarto ao ouvir gritos á minha procura, ele pensa que seu pai "simplesmente" chega e me bate (tomando o devido cuidado de não acertar o rosto para ninguém ver), mas não sabe que sou agredida sexualmente desde os meus 13 anos. Não são todas as noites, as vezes fico semanas sem o sentir, o que não melhora muito a situação, mas me deixa livre dele por algum tempo. 

    Já percebi que alguns me acham patricinha, ganho algumas roupas de marca do meu pai quando o encontro em alguma praça ou lanchonete mais longe de casa, sempre disse que não queria ver eles se encontrando por não me sentir confortável e achar estranho, na verdade, não quero correr o risco de ele descobrir sobre tudo, nem sobre o Gabriel eu contei. Não gosto que me chamem de patricinha e filinha de papai e mamãe. Acho que eles pensam que tenho uma vida perfeita, o que eu dou a entender. Mas já matei, acho que uma patricinha nunca teria uma vida tão fodida quanto a minha, sim, já matei, não lembro com quantos anos, só lembro de dois homens igualmente bêbados e drogados entrarem na minha casa... ou melhor, onde vivo, e ameaçaram meu irmão, mas por algum motivo não consegui na terceira vez, aquela que me faria me livrar do meu padrasto. O mesmo me agrediu e tirou a arma que meu pai me deu e escondeu.

    Logo que minha mãe morreu quis falar para meu pai, mas o medo me dominava.. não passou, mas me sinto mais forte de tal maneira. Pedi para meu pai uma arma, estranhou, mas só falei que era para proteger quem eu amo se alguma coisa acontecesse e que achava legal. Quando meu pai toca em alguma parte do meu corpo que doa muito por causa de hematomas faço o que posso para ele não perceber minha dor, mesmo me retraindo as vezes, acho que consigo enganar. Quando me trouxe a arma me ensinou a destravar e apertar o gatilho. Em outro mês me levou para atirar em um lugar liberado. Perguntei o porque se eu já sabia como tudo funcionava e me lembro de ele falando "Quando lidamos com uma arma não é só saber atirar, e sim ter o domínio por completo dela".

   Voltei lá mais e mais para treinar, levei até o Gabriel algumas vezes. Diz meu pai e o JP que dominei e que viraria uma das melhore atiradoras do morro, que só não passava do meu pai porque ele é o meu professor.

  O JP é o único que me conhece lá do morro, assim como minha mãe, pedi para meu pai manter discrição sobre ele me ter como filha, mas o JP é confiável e é como se fosse um melhor amigo, mas não tão próximo, ele tem que ficar ajudando o sub do morro na maior parte do tempo.

   Saindo da parte mórbida da minha vida, terminei o colégio no ano passado, um ano antes por me adiantar em tudo, gostava de estudar mas não vejo a faculdade como uma opção para mim e nem saberia o que cursar. Desde que terminei consigo trabalhar mais tempo, assim recebendo mais e mais gorjetas. Sim eu trabalho. Preciso do dinheiro, não para agora, mas estou economizando para quando me mandar daqui com o Gabriel, ele também trabalha, começou á três anos. Achei que ninguém me aceitaria, mas procurei por não ter que me preocupar se algum dia faltaria comida, não para mim, mas pra ele, desde a minha mãe nunca mais fiz as coisas por mim, mas pra ele, prometi o proteger sempre e cumprirei a promessa nem que seja nessa porra de vida. 

   Bom.. a dona Gleice me trata como uma filha já que não teve a sua. Ela aceitou que eu trabalhasse em sua lanchonete e depois de um mês só aprendendo como tudo funcionava, comecei á receber quase um salário mínimo, mesmo tendo só 13, meu horário de aula era na parte da manhã assim como o de Gabriel, quando só eu trabalhava o trazia junto e deixava ele sentado em uma mesa, que ficava estudando as coisas do dia, ele puxou a querida aqui na parte do estudo. Não durou muito tempo nessa, aos onze ele já quis trabalhar para me ajudar se necessário, só era menos tempo assim como o salário. Agora ele sabe, mas até completar 13 anos não era para ter sido aceito em qualquer trabalho, mas a Dona Gleice quis tanto ajudar que só impôs condições de tempo, agora é igualzinho á mim.

   Ele assim como eu, paga suas coisas materiais. Comida é meio relativo, nos dividimos toda hora e discutimos para ver quem vai ganhar para pagar, não quero que ele tenha que trabalhar para pagar as coisas, quero fazer isso por ele, mas diz ele que gosta.

   Hoje.. finalmente estou fazendo 18 anos. Ninguém sabe ainda, mas vou sair dessa merda de vida logo e quero só ver no que vai dar a partir de agora. Quero poder tomar conta da minha vida.

☆☆
•não esqueçam de:
-deixar a estrelinha e
-comentar.

Morro Do AlemãoOù les histoires vivent. Découvrez maintenant