Capítulo 35

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Ethan estava deitado ao meu lado quando acordei. Ele dormia ruidosamente, com a boca levemente aberta e o cenho um pouco franzido.

Encaro a janela do meu quarto observando a Lua nos iluminar, ou para ser mais exata, me iluminar.

Meu pescoço doía, minhas costas e minhas pernas estava inúteis, eu estava quase completamente paralisada a não ser pelos meus olhos que se moviam avaliando o quarto em que dormi por centenas de noites.

Ethan se mexe e sua respiração o entrega, ele estava acordando.

Espero que ele desperte pacientemente até ele notar meus olhos o encarando, Ethan sorri e, com a mão envolvida por um brilho prateado, ele toca meu peito.

Logo sinto minhas pernas, e lentamente pude voltar a me mover.

-Eu espero que não se importe por tê-la ressuscitado - ele murmura e eu sorrio com os olhos.

-Só um pouquinho - respondo rouca e Ethan deita sobre mim em um abraço desajeitado.

E por mais que soubesse que hoje tinha sido cansativo para Ethan tanto quanto foi para mim, eu não conseguia pensar em nada, precisava sair, sentir o vento, respirar.

-Preciso ir - digo baixinho e ele ergue a cabeça se apoiando no cotovelo esquerdo com um sorrisinho.

-Tome cuidado e volte para o café - Ethan pede e eu assinto.

Me levanto devagar e noto que estou apenas com uma camisola branca, encaro meu companheiro que se remexia na cama com um olhar malicioso em minha direção.

Rio e mostro-lhe a língua enquanto caminhava até o closet pegando o vestido mais leve que achara, era de seda, rosa bebê e com mangas longas e bufantes.

Saio do quarto rapidamente e corro pelos corredores seguindo até o estábulo.

Na primeira noite de Ethan no castelo, ele me dera um presente de aniversário. Primeiro fiquei surpresa por ele saber que o dia da luta também era o dia do meu aniversário, e o aniversário de morte dos meus pais. Depois o agradeci muito bem. Apricity era o nome do seu presente.

A égua albina que Ethan me dera era domada e muito dócil, era forte e esbelta, linda.

Ao chegar em sua baia, a encontro me esperando. A monto sem cela, sem freio e sem sapatos. Nunca me sentira tão livre e essas coisas me faziam sentir presa, tanto eu quanto Apricity odiávamos essas coisas.

Corremos pelos campos nevados como se o horizonte nos chamasse, e de certa forma chamava.

Meus cabelos voavam junto ao meu vestido e a crina de Apricity, estávamos livres. Soltei as mãos e senti o vento frio do inverno me ressuscitar pela segunda vez, meus pulmões se enchiam de ar e eu não podia segurar o riso ao ver que começava a nevar.

Minha égua e eu paramos de correr aos primeiros raios de sol, paramos em um pequeno riacho, o mesmo onde Ethan me rejeitara, por coincidência.

Apricity tomava água calmamente enquanto eu deitava na grama sentindo cócegas pelas pequenas flores.

Eu estou viva.

Carli não estava falando mas eu a sentia implorando para sair.

Quando a égua parou de beber água, a mandei de volta para o castelo e me transformei.

Era diferente, branco, rosa, azul, verde, e branco de novo, depois preto. Era essa a minha visão, eram cores novas mas não pareciam novas, eram tão vivas e nem o preto parecia sombrio. Todas eram convidativas, o brilho do sol começou a me cegar e eu acordei.

Eu estava de volta a forma humana e não sabia o que acabara de acontecer.

Haviam milhares de olhos voltados para mim. Eu não estava mais no campo, estava na cidade, bem no meio dela. E todos me encaravam com sorrisos gigantes, eu devolvia um cenho franzido e confuso.

-O que? - sussurro para mim mesma quando um casal se aproximou com sorrisos calorosos, e se ajoelharam, curvando-se. - O que estão fazendo? - meus olhos começavam a marejar e eu ainda não entendia o que estava acontecendo. - Levantem - peço, mas cada vez mais pessoas assumiam a mesma posição.

Olho para trás encontrando Ethan e e meus irmãos, Ash e Julian, eles encaravam a cena perplexamente felizes.

-Peça a eles que parem - digo a Ben que ri. - Ethan!

Mas meu companheiro tem a mesma reação, ele ri e aponta para mim, apenas o repreendo com um olhar bravo.

Então Ash começa a se ajoelhar, e depois Julian e em seguida meus irmãos. Ethan me encarou com os olhos sorridentes enquanto se juntava a eles.

A vitrine ao meu lado me deu as respostas que eu precisava.

O vestido preto com prata de seda, a coroa enorme de diamantes e a tatuagem nas mãos.

Eu era a escolhida da Lua e meu povo confiava em mim.

Com mais alguns minutos, haviam milhares se curvando e eu não tinha reação senão segurar as lágrimas que teimavam em cair.

No momento em que o último Loxigano colocou o joelho no chão, o poder da Lua foi despejado em mim como um balde de água fria.

Eu era poder, era tudo e nada, podia me tornar a luz e ser escuridão, ser a lua e as estrelas, Ethan me fizera imortal e a Lua precisava que eu me recuperasse e que o poder dele se afundasse em mim para finalmente me tornar sua escolhida e ter o poder de ambos os Deuses.

A mais poderosa dos três, com o poder de dois Deuses.

Agora, eu, Victória Rebecca Glaviros Sargenis, era a mulher mais poderosa de Makai.

E me ajoelhei diante o meu povo. Ficando em apenas um joelho, com a cabeça baixa e a coroa pesando tanto quanto meu mais novo dever: unir os cinco reinos.

O povo se levantou e aplaudiu, assoviou e berrou para sua Escolhida, fiquei de pé novamente e encarei minha família que eu sentia estarem orgulhosos.

-Que se façam dos cinco, um - digo alto e claro vendo minhas palavras explodindo magia escura, sentindo-a abranger Loxigan com rapidez. Eu estava vendo, estava construindo e destruindo, os castelos em Nambler, Glaviros, Gorvalis e Thails estavam vindo a baixo, o castelo que permanecia era o de Sargenis, e seria doado ao povo para festividades. Nas pequenas colinas em Carmedash onde o clima era favorável, construí minha casa, minha e a de minha família.

Cada ser nesse continente ganhava um teto exatamente igual, com cores diferentes e com suas coisas já dentro. As linhas invisíveis que separavam os reinos foram destroçadas pela névoa escura e assim, nos tornávamos um só.

As arenas eram destruídas, as senzalas de Thails se tornavam pó e seus chicotes queimavam as mãos de seus donos.

Loxigan, agora, era um só reino, Açarak.

-É um belo nome - Ethan diz e minha família concorda.

-Companheiros - Ash traduz e eu sorrio.

-Bem vindos à nova Loxigan - digo e todos aplaudem. - Pelo poder que a Lua investiu em mim, eu vos aceito como meu povo e minha família, farei jus às suas estimativas e superarei suas expectativas. Protegerei seus filhos e netos, guardarei para vos, um lugar nas estrelas, no templo da Lua com uma cama nas nuvens. Na sua casa, na minha e em todo o lugar, tu és bem vinda, Lua, agora sua e amanhã minha, mas sempre nossa. Herdo agora de ti, todo o teu poder, clamando e prometendo justiça a todo ser dessa minha terra.

-Que a Lua esteja contigo em cada decisão, nosso destino é teu e agora tomamos tua mente como nossa, para reclamar e chorar, pedir e agradecer, receber e dar, Escolhe-nos como teus e te aceitaremos como nossa, até que a Lua se parta e desça para levarmo-nos até seu belo paraíso onde um dia, viveremos todos livres de tudo que um dia ameaçou nossa paz e onde poderemos ser leves como as nuvens, belos como a lua, quentes como o sol e iluminados como as estrelas. - O povo completa a oração.

-A nova vida começa agora.

FIM.

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