Capítulo 17

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-Então... - respiro uma vez. - Eu ficarei aqui, e não lutarei, não tentarei fugir ou matar alguém. Mas você vai deixar Ashley e Malvon irem, esquecerá a floresta Carmedash e se contentará comigo - digo sem rodeios e vejo o rei sorrir brevemente e Abbadon arquear as sobrancelhas.

-Acha que vale tudo isso? - Abbadon começa.

-Tenho certeza que sim - o interrompo ainda encarando o rei.

-Pagará por eles? - Thails pergunta desafiando-me.

-Sim - minha voz quase falha, mas ele sorri mais abertamente mostrando os dentes perfeitos.

-Tragam Malvon e a menininha - o rei berra e Abbadon sai bufando e pisando duro feito uma criança. - Será duro para você, Victoria Rebecca - ele avisa entortando a cabeça.

-Eu não ligo - digo secamente ainda encarando seus olhos foscos.

A porta do salão se abre revelando Ash vestindo um vestido vermelho, seus cabelos estavam curtos mas ela estava sorrindo quando me viu, sua expressão mudou assim que viu os grilhões e deu espaço não só para raiva como para culpa e tristeza, mas ela ficou sabiamente quieta.

Ao lado de Ash meu peito se apertou ao ver Malvon. Ele estava terrivelmente magro e ensanguentado, seu olho bom estava inchado e roxo, suas roupas estavam rasgadas e ele parecia mais morto que vivo.

Esse é o preço.

Observo Thails abrir um portal e os dois passarem por ele quase relutantes. Ash mandou-me um olhar de culpa mais uma vez, a tranquilizei com um sorriso fraco e observei eles desaparecerem.

-Vamos ao seu primeiro pagamento? - o rei pergunta sorrindo maldosamente. Ele olha para os soldados que estavam na porta e outros que estavam perto do trono e balança a cabeça lentamente. - Trinta - ele anuncia e sai do salão me deixando com Abbadon e sete soldados.

Dois deles seguram meus braços me deixando imóvel. Engulo seco e inspiro. O primeiro estalo do chicote reverberou pelo salão antes da dor me atingir e eu sufocar o grito em minha garganta. O mesmo processo dez vezes, até eu me entregar a dor, ser sustentada pelos soldados e deixar meus gritos ganharem lugar logo após o estalo.

Sabia que teria cicatrizes, e sabia que meus braços ficariam roxos pela pressão dos guardas, mas também sabia que estava protegendo minha família, a que me restou. É a minha vez de me sacrificar.

Só mais nove - ouço Carli murmurar para mim. Carli não sente dor se sou ferida na forma humana, mas sabe que fico mau humorada quando me machuco, e talvez ela saiba que estou me machucando para que minha família não se machuque, espero que ela me perdoe por nos colocar nessa situação e que saiba que é por quem eu amo, espero mais ainda que saiba que isso não significa que não a amo...

-Para a cela - ouço Abbadon murmurar.

-Ela vai sangrar até morrer se não cuidar disso - um dos guardas avisa.

-Problema dela - o garoto diz e caminha até a porta do salão e sai deixando-a aberta.

Nos momentos que se passaram eu vi muito pouco. Os grilhões deixavam minha cura lenta e a dor me fazia ver estrelas, ou eu realmente as via?

Me colocaram calmamente em um colchão frio de bruços, pude ver o guarda.

-Você... - sussurro com dificuldades.

-Vou acelerar o processo de cura, mas não posso fazer muito mais - o homem diz. Eu tinha um acordo com ele, lembro quando nossos sangues se uniram pingando na neve pouco antes de eu atravessar um portal até Leghonar.

Escolhida para lutarWhere stories live. Discover now