Escolhida para lutar

Capítulo 6

𝔖𝔢𝔦𝔰 𝔪𝔢𝔰𝔢𝔰 𝔡𝔢𝔭𝔬𝔦𝔰

-Vamos, por favor. Só alguns minutos - insisto.

-Já sabe que não - Malvon responde sem me olhar.

Seis meses que eu tento fazer Malvon ir comigo até Sargenis, até minha casa. Mas ele diz que se eu mandei os funcionários do castelo para o cofre real, eles ficaram seguros por tempo suficiente até os rebeldes saírem do castelo.

-Podem ter voltado, e estarem à minha procura - eu argumento deixando o tecido do vestido que estava fazendo cair ao meu lado.

-Eu saberia - ele me olha de soslaio. - Pare e pense, Victoria, esse é o primeiro lugar para onde viriam, eles mais que ninguém sabem do meu acordo com seu pai.

Bufo voltando a costurar.

-Por favor - resmungo quase resignada.

-Vinte minutos - ele se dá por vencido e eu comemoro com um sorriso pequeno.

Corro até meu quarto colocando um vestido de inverno grosso e saio terminando de colocar a capa.

Chego na sala e o vejo  já pronto me esperando com o portal aberto e o cenho franzido.

Passo pelo portal e logo vejo o castelo que uma vez era incrivelmente lindo e brilhoso crescer diante de mim sem vida. Com janelas quebradas e portas escancaradas, e muito sujo. 

Os portões antes feitos de ouro, estavam quebrados e sujos. Malvon para ao meu lado e sem comentar, segue para a porta dos funcionários e adentra a ala serviçal. Faço o mesmo com um nó na garganta. 

Antes que eu pudesse passar para os dormitórios dos funcionários, Malvon me puxa para o lado cobrindo minha boca. Encaro-o confusa.

-Tem alguém no castelo - ele resmunga solenemente baixo.

-Inimigo? - sussurro ao afastar sua mão do meu rosto.

-Provavelmente - ele diz e prepara uma bola de magia na mão esquerda e eu faço o mesmo na direita.

Caminhamos silenciosamente pelos corredores prontos para qualquer ameaça. Meus olhos atentos exploravam cada canto do que um dia fora minha casa, meu refúgio, meu lar.

Então ouvimos um barulho vindo da cozinha. Corro até ela pronta para transformar em poeira quem quer que estivesse lá. 

-Não! Por favor, Vic. Sou eu!! - Elisabete berra quando me vê.

Minha madrinha, uma das mulheres que me ensinou a ser uma princesa estava ali. Seus olhos foscos e sem vida me encaravam com pesar. Seus cabelos um dia curtos e bem cuidados agora eram uma palha ressecada abaixo dos ombros. 

-Elis? - murmuro caminhando até ela e desfazendo a bola de magia ao abraça-la.

-Massacraram todos, a mamãe, a Ana... - ela chora.

-Como você... - Malvon murmura no batente da porta.

-Ele me deixaram para mandar um aviso para os herdeiros - ela suspira - seja lá quem tentar assumir o reino, vai morrer e vai ser lento e doloroso. O reino é dos rebeldes que se nomeiam Soratles.

-Justos em Lurmaz - digo me referindo à língua nativa dos lobos.

-Sim -ela suspira. -Pode me mandar para Nambler? - ela se refere ao Reino vizinho comandado pelo rei Danilo.

-Posso, claro -digo e abro um portal. Ela me abraça e manda um olhar agradecido para Malvon, e então passa pelo portal.

-Então? Podemos voltar? - Malvon pergunta entediado.