Capítulo 19

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𝑉𝑖𝑐𝑡𝑜𝑟𝑖𝑎 𝑛𝑎𝑟𝑟𝑎𝑛𝑑𝑜

Já faz quase uma semana que estou em Thails. Presenciei outras seis mortes além daquele homem... Dois lobos, três carmedashes e um feiticeiro. Eu não durmo como antes, não como como antes, tenho certeza que perdi alguns poucos quilos. Mas sei que logo me matarão, por quê? Simples: quase matei sete guardas. E o rei não sabe mais como me castigar, a parte das ameaças sobre minha família não têm mais efeito pois chegou no castelo a notícia de que os quatro reinos se uniram contra o rei então... ele só pode me matar.

-Vá logo - um guarda diz ao abrir minha jaula. As caças não tem mais o mesmo "efeito" pois quase não tem mais o que caçar, além de eu nem ter mais fome.

Saio correndo logo depois de me transformar e corro muito, tanto que quando parei quase rezei para que não tivesse saído do reino. Mas não, eu estava em uma clareira nos limites de Thails.

Deito-me no gramado voltando a forma humana. A possível companheira do meu pai deixou meus pensamentos quando aquele homem falou da própria família. Na noite passada algo estranho aconteceu: Carli falou comigo, coisa que ela não fazia desde as primeiras chibatadas:

Vic? - a voz da minha loba soava cansada e baixa, quase hesitante.

Oi Carli.

Eu andei pensando bastante ultimamente - ela faz uma pausa.

Sobre o que?

Nossa morte - ela diz baixo e eu prendo a respiração. Victória eu não quero morrer sem falar com ele.

Sem chance - respondo. Eu não vou dar o braço a torcer por ele.

Ele é meu - ela implora.

Era - eu digo e antes de silenciá-la ouço seu choro.

Ele sempre será uma parte minha, e quando eu morrer... parte dele morre também, você sabe disso - ela chora.

Tudo bem, vou desbloqueá-lo, você tem uma hora - digo por fim deixando o ar sair.

Assim que desfiz o bloqueio as sensações ruins voltaram, a sensação da rejeição. Algo no meu peito voltava a doer como se fosse a primeira vez, mas me forcei a continuar neutra enquanto o guarda me encarava durante o que ele chamava de tortura.

Companheiro - Carli o chama.

A resposta demora para chegar, mas quando chega, a voz melodiosa que soa em minha mente quase me faz fechar os olhos.

Achei que me odiaria para sempre - ele sussurra.

Eu não odeio, minha humana odeia - ela responde com a voz entupida de dor, a dor da rejeição ela sente quase em dobro.

Deixarei ela conversar com o meu humano se ela quiser - o lobo diz em um suspiro. Onde está?

Não importa - Carli responde desanimada. Não sei quanto tempo eu e minha humana temos... Espero que nos perdoe por nunca termos ido atrás de vocês quando começamos a desenhar o símbolo.

Permita-nos ajudá-las - ele pede com pesar.

Já tem pessoas demais em risco - Carli finaliza. Queria que tivéssemos mais tempo, Rae.

Eu também, minha Carli - ele quase chora.

Engulo o nó que se formara em minha garganta e esperei que a ligação se quebrasse, mas ela não quebrou.

Quero sentir você até seus últimos momentos, se não posso salvá-la - uma voz igualmente melodiosa soa em minha cabeça. Eu soube que não era mais Rae que falava, e Carli já se isolara novamente.

Escolhida para lutarOnde as histórias ganham vida. Descobre agora