Capítulo 16

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Comecei o mês ouvindo músicas lentas, sorrindo à toa, lendo e relendo mensagens e, principalmente, inspirada para escrever em meu blog. Minhas seguidoras deveriam agradecer ao Rafael.

Eu estava tão "zen" que nem me importei com os dias passando lentamente. Só fui acordar do meu estado de espírito (cheio de energias e forças positivas) na noite anterior ao dia três. Quando passou pela minha cabeça que eu precisava da autorização do seu Ricardo e da dona Cláudia, vulgo meus pais, para ir receber o Rafa no aeroporto.

Os dois estavam no quintal de casa, com o Gu, conversando sobre um filme que eu não conheço. Me aproximei lentamente, como quem não quer nada, e fiquei calada, tentando encontrar palavras certas e convincentes.

Meus pais são um amor de pessoa. Sério mesmo. Eles sempre tem um tempinho para uma conversa. Sei que posso falar com eles sobre qualquer coisa. Porém, também sei que são super protetores e preocupados, e que pedir para me encontrar com um garoto que conheci na internet, seria o mesmo que pedir para eles brigarem comigo.

Tá vai, até que eu entendo o lado deles. Com tantas notícias sobre encontros que resultaram em coisas horríveis é quase impossível não ficar preocupado.

Mas o Rafa... Ele não é nada disso. De uma forma assustadora ou mágica parece que a gente se conhece há muito mais tempo que um mês.

- Pai? Mãe? - Murmurei baixinho.

- Que foi, Pati? - Os dois perguntaram juntos.

- Vocês lembram do Rafael?

- Aquele que te entende, te deixa bem, e que você está perdidamente apaixonada? - Meu irmão se intrometeu, caçoando.

- É, esse mesmo - respondi revirando os olhos.

- O que tem ele, meu amor? - Mamãe quis saber.

- Eu queria saber se podia me encontrar com ele amanhã.

O clima, que estava tão calmo, mudou assim que eu pronunciei essas palavras. Era hora de apelar para o meu dom de persuasão.

- Mas, Patrícia, nós nem conhecemos esse menino. Você mal falou dele! - Meu pai disse, com tom de voz bem nervoso.

- Se é esse o problema, seu Ricardo, pode deixar que eu falo.

- Tudo bem. Pode começar.

- Essa eu quero ver! - De novo meu irmão se meteu na conversa, com um sorriso divertido nos lábios.

- Eu conheci ele na internet.

- Pedófilo!

- Cala a boca, Gustavo!

- Continua, Pati... - Minha mãe falou enquanto reprimia o Gu apenas com o olhar.

- Então, a gente começou a conversar, e ele é um pouco fechado, sabe? Ele não gosta de falar muito sobre a vida dele e...

- Pedófilo mesmo!

- Gustavo, fica quieto, caramba! - Meu irmão murmurou um ok, e disse que eu não tinha senso de humor.

- Como ia dizendo... Ele não gosta de falar sobre a vida dele e eu acabei descobrindo o porquê. Na verdade, é uma coisa bem triste mesmo. O Rafa perdeu a mãe dele ano passado. Acho que desde aí ele se tornou assim.

- E isso é apenas uma suposição ou ele te falou? - Mamãe perguntou.

- É uma suposição.

- E como é mesmo o nome dele, filha? - Meu pai se manifestou.

- É Rafael. Rafael Meireles.

- Mei-Meireles?

- É pai, por quê?

- Nada não... E qual o nome da mãe dele?

- Susana.

O que aconteceu depois foi bastante intrigante. Meu pai parecia estar bem assustado com a história do Rafael. Os olhos dele se arregalaram com todas as informações que eu contei sobre o acidente da mãe do Rafa. O mais estranho foi ele permanecer com uma ansiedade e aflição até o jantar.

Claro que eu não fui a única que percebeu isso. Minha mãe lançava olhares desentendidos e ele apenas desviava. Antes de dormir o Gu veio para o meu quarto tentar entender a reação do papai.

- Por que será que ele ficou assim?

- Sei não, maninho... E, pelo visto, mamãe não sabia também.

- Esta história tá meio confusa... Será que ele conhecia a tal Susana?

- Como assim?

- Ué. Ela pode ter sido uma namorada dele, sei lá. E ele ficou surpreso com a notícia.

Nós ainda continuamos tentando achar um motivo para isso. Sem sucesso. O pior de tudo é que nem meu pai, nem minha mãe, falaram "sim filha, você pode encontrar o Rafa".

O jeito é rezar para que amanhã tudo de certo. Eu já podia sentir o meu coração acelerado e ansioso esperando pelo dia seguinte. Faz dias que fico pensando e me imaginando assistindo filmes com o Rafa no sofá, fazendo guerra de pipoca, e depois abraçando ele, beijando... Tomara que tudo isso se torne verdade mesmo.

O amor em 140 caracteres [completo]Where stories live. Discover now