O amor em 140 caracteres [completo]

Capítulo 10

Ele estava de costas. Eu podia ver a camiseta preta, o corpo forte, a pele pálida, a postura rígida, e o cabelo escuro. Mesmo distante, eu sabia que era ele.

Fui andando em sua direção, minha respiração estava ofegante, mas não me importei. Apenas queria chegar até ele. E queria logo.

Como se fosse a cena de um filme, assim que coloquei minha mão magra em seu ombro, começou a chuviscar.

- Rafael? - Sussurrei, com os pingos de chuva caindo em meu rosto.

Ele se virou para me encarar. No momento que fez isso, começou a chover e ventar muito forte. Sons de trovão atingiam meu ouvido. Em meio aquela tempestade toda, o rosto diante de mim, me avaliou com olhos castanhos.

Espera... Não, não era o Rafael...

- João Lucas?

Acordei assustada, deixando cair o notebook que estava em meu colo. Olhei para o relógio e vi que eram duas horas da madrugada. Que sonho maluco foi esse?

Como uma fiel fã de significados de sonhos, tentei ligar os acontecimentos para decifrá-los. Eu estava parada no meio do nada e vi um garoto muito distante. Quanto mais me aproximava, mais ansiosa eu me sentia. Até que, finalmente eu chegava até ele, e começava a chover. Eu jurava que o garoto era o Rafael. Mas assim que ele se virou, e uma tempestade começou, vi que quem estava ali era o meu ex-namorado.

Depois de refletir por alguns segundos, cheguei a conclusão que eu não faço a menor ideia do que isso significa, e tentei voltar a dormir.

Quando olhei para o notebook no chão a tela mostrava uma imagem com vários garotos. Lembro que antes de pegar no sono, eu estava caçando informações sobre o Rafa e havia encontrado uma pista. Um usuário do Twitter havia mencionado ele em uma foto.

Rapidamente, coloquei o aparelho em meu colo de novo e observei a imagem. Tinha muitos meninos ali. E eu não sabia como era o rosto do Rafael. Mesmo assim, fiquei analisando cada um.

Alguns minutos depois, eu já estava quase desistindo. Como iria achar alguém que nem sei como é? Até que de repente um rosto no canto direito da tela me chamou atenção. Cabelo escuro, olhar frio, e sorriso misterioso...

É o Rafael.

Talvez fosse apenas a vontade de achar alguém para dizer que é ele. Mas, de alguma forma, eu sentia que aquele rosto pertencia ao garoto que me perturbava no Twitter. Comecei a observar os detalhes da foto. Era um grupo grande de garotos, em um parque, todos com camisetas de bandas, jogos, animes e livros. Parecia um festival, ou algo assim.

Cliquei no perfil do usuário que havia mencionado o Rafa, e achei mais imagens. Eram de um mês atrás. O rosto que me chamou atenção esta em muitas delas. E como ele é lindo!

Até que vi uma foto do suposto Rafael com uma garota... Ela usava um vestido preto, tênis da mesma cor, e tinha cabelo longo e ruivo. Ela olhava para o Rafa com um sorriso nos lábios. Um sorriso apaixonado.

Eu tive certeza que o garoto era mesmo o Rafael assim que senti meu coração apertar. Ciúmes. Não adianta esconder, eu estou sentindo algo por esse irritante. É mesmo incrível como você pode gostar tanto de uma pessoa em um curto período de tempo.

Até que noto, pela primeira vez, que ele usava algo pendurado no pescoço. Parecia um crachá. Salvei a foto em meu notebook, cortei a menina ruiva, e aproximei a imagem para ver o que está escrito nesse tal crachá.

Festival geek. Rafael Meireles. Coordenador.

Meireles? Eu achei o seu sobrenome?! Fiquei tão feliz com a minha descoberta que imediatamente comecei a pesquisar no Google.

Uma hora depois, a infinidade de Rafael Meireles que existe me deixou cansada e com sono novamente. Eu não achei absolutamente nada de relevante. Tem Rafael Meireles cantor, ator, empresário, médico... Mas não tem um Rafael Meireles jovem misterioso e sombrio. E nem lembro mais a senha do meu Facebook falso para procurar por lá.

Antes de desistir, ainda pesquiso um pouco mais. Tem um site de notícias que apareceu em quase todas as pesquisas, mas eu ainda não havia procurado nele. Decidi fazer isso agora. A notícia era antiga, mas mesmo assim eu li.

Acidente entre carros leva uma dona de casa a morte.

Na noite de sexta-feira (02/08/13) dois carros se chocaram em uma rua pouco movimentada. Segundo relatos, a dona de casa Susana Meireles dirigia em alta velocidade, com seu filho mais velho, Rafael Meireles, no banco traseiro. Até que seu carro se chocou com o de um comerciante, que vinha conduzindo na mesma direção.

A família conta que Susana dirigia as pressas, pois seu filho estava passando mal e o hospital é afastado da pequena cidade. O garoto teve ferimentos graves, assim como o comerciante. Os dois foram socorridos e estão em observação.

Susana Meireles faleceu antes que a ambulância pudesse chegar. Além de Rafael Meireles, ela tinha outro filho, o caçula, único fruto de seu casamento com o famoso empresário Augusto Nóbrega.

Eu li aquilo com espanto. Lágrimas começaram a cair assim que olhei para as fotos acima da notícia. Além de imagens do acidente, havia uma que mostrava o Rafael, um pouco mais novo, junto com a mãe, que tinha cabelo bem escuro, assim como o dele. O filho menor era mais parecido com o pai, e os dois sorriam no canto esquerdo da imagem.

Então o Rafael havia passado por tudo isso... Talvez seja esse o motivo de tamanha frieza. Ele realmente tinha razão quando falava que o que me deixa triste era bobo. Perder o namorado torna-se tão fútil quando você lê que alguém perdeu a mãe. Pela data, deduzi que já iria fazer um ano que ela se foi.

Não é como se eu não entendesse a dor dele. Sei como é difícil aceitar que uma das pessoas que você mais ama foi embora, para nunca mais voltar. Afinal, perdi meu avô. E ele era como um pai.

Também sei que uma hora a dor vai embora, não por completo, mas ela para de atormentar tanto. Você começa a senti-la apenas algumas vezes... O que fica mesmo são as lembranças e a saudade. E tudo se torna mais fácil quando se tem pessoas que você gosta por perto.

Decidi que iria tentar sempre fazer o Rafael sorrir. Queria que ele tivesse o mesmo apoio que tive. Eu estava mesmo gostando dele. Não precisava mais mentir para mim mesma. E não foi porque vi como ele é incrivelmente perfeito. Muito mesmo por pena. Sabia que gostava dele porque, há algum tempo, as nossas conversas tem sido o motivo do meu sorriso mais lindo.