Capítulo 15

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Metas e listas são, normalmente, coisas que as pessoas fazem quando estão iniciando um novo ano. Prefiro fazer um pouco antes de um mês começar. Faço listas de desejos, de objetivos, de sonhos... Acredito que quando elas estão escritas em um papel, realizá-las se torna uma tarefa um pouco mais fácil. 

Tudo mentira. Sempre acabo esquecendo, adiando, e deixando de lado.

Reservei a última semana de agosto para pensar e escrever a nova lista. Setembro estava chegando, e com ele o meu aniversário. Eu iria fazer dezessete anos e nem sabia o que ia querer para meu futuro.

Eu podia passar o dia todo pensando qual faculdade escolher, só que a minha cabeça estava ocupada com outras coisas. Juro que peguei o notebook e tentei pesquisar alguns cursos, mas até a formiguinha que andava pelo meu quarto era mais interessante que isso.

O único assunto que estava sendo prioridade para mim envolvia meu coração. O namoro com o João Lucas já era passado e eu estava preparada para encarar um amor. Um novo amor.

Eu podia conversar com aquele menino que está de olho em mim há algum tempo, sair com o primo da Isadora que eu conheci um dia desses, ou apenas ficar na minha, esperando algum cara tomar atitude. Mas não. O meu novo amor tinha nome, sobrenome, endereço e é tão fechado que é impossível saber se ele quer alguma coisa comigo ou não.

As vezes me sinto tão idiota por pensar nessas coisas. Mas continuo fazendo isso porque talvez eu seja uma idiota mesmo.

Minhas conversas com o Rafael tinham se tornado cada vez mais raras. Quer dizer, nós ficamos nos falando por algumas horas, e quando deixo escapar alguma mensagem mostrando que eu gosto dele, ele simplesmente recua, foge, e passa mais algum tempo sem mandar nada.

Queria entender qual é a desse garoto. E queria agora.

Peguei o meu celular, e mandei mensagem para o Rafa the dark.

Eu: Rafael?

Ele: Oi, Patrícia ;)

Eu: Queria te perguntar uma coisa. E você tem que prometer que vai responder.

Ele: Por quê?

Eu: Porque se não responder eu nunca mais falo contigo.

Ele: Hahah agora que eu não respondo mesmo. Iria ser um milagre ;)

Eu: Estou falando sério, Rafael.

Ele: Tá bom, pergunta aí...

Eu: Você ainda não prometeu.

Ele: Eu prometo.

Vamos lá, Pati, coragem.

Eu: Eu contei sobre mim, permiti que você entrasse na minha vida e... Como você consegue ser tão frio comigo?

Ele: Não é que eu seja frio com você. É o meu jeito. Eu não falo tudo para qualquer pessoa.

Eu: Então eu sou qualquer pessoa?

Ele: Não é isso, Patrícia.

Acho que eu deveria começar a seguir os conselhos e questionamentos que faço para as minhas amigas. Será que vale a pena tentar algo que provavelmente não iria dar certo?

Fechei o aplicativo de mensagens e antes que pudesse ligar a televisão para me distrair, meu celular tocou. Atendi sem nem prestar atenção no número que me ligava.

- Sabia que os homens naturalmente falam menos que as mulheres? - Uma voz grave soou na outra linha. - Isso é algo cultural. Fomos educados para ser forte e não para falar de sentimentos e outras bobagens. Já as mulheres podem chorar e falar o que sentem de forma livre. Pode pesquisar, está no Google, querida Patrícia melancólica.

- Rafael? É você?

- Sim. Achou que fosse quem?

A voz dele era tão familiar. Era como se eu tivesse escutado ela a vida toda. Me lembrava muito a voz do João Lucas.

- Patrícia? Ainda está aí?

- Aham. To sim... O-oi.

- O-oi pra você também. Então, já pesquisou no Google pra ter certeza que a minha afirmação está certa?

- Que afirmação? Ah... Aquela... É até que faz sentido.

- Você está com sono? Ou fala desse jeito sonso?

Ainda não tinha caído a ficha de que eu estava falando com o Rafael no celular e, pra variar, eu agia como uma sonsa mesmo.

- É, é sono. Eu acho.

- Se você quiser ir dormir, tudo bem.

- Não! Não quero não!

- Então tá... Não sabia que você era tão dramática assim, "permiti que você entrasse na minha vida. Como você consegue ser tão frio?"- Ele falava imitando a minha voz e rindo. - Qual é, Patrícia!

Ainda bem que estávamos falando apenas pelo celular, porque se ele me visse agora iria fazer mais graça ainda com meu rosto super vermelho de vergonha.

- Af, esquece isso.

- Ok. Ah, não te liguei apenas para explicar a cultura dos homens. Seu aniversário está chegando, não é?

- Aham. Como você sabe?

- Você me contou ué.

- Não me lembro disso.

- Mas eu lembro. E queria te comunicar que vou te ver.

- Como assim me ver?

- Eu vou aí, Patrícia. Tenho umas coisas pra resolver e vou aproveitar pra te conhecer pessoalmente.

É indescritível, inexplicável, surreal, a felicidade que senti ouvindo isso. Mas, graças a Deus, consegui me controlar e agir como uma pessoal relativamente normal.

- O que você vem resolver nesse fim de mundo? E onde vai ficar?

- Coisas particulares. E sou bem grandinho para me hospedar em um hotel, Patrícia.

- Ah, esqueci que você é maior de idade.

- Pois é, te vejo dia três então?

Minha vontade era falar: Sim! Claro! Seria um prazer! Uma maravilha! Mas optei pela melhor resposta de todas.

- Pode ser.

Eu estou mesmo aprendendo essa coisa de se controlar.

- Combinado. Dia três estou em terras do norte. Ok, Patrícia Menezes?

- Ok, Rafa the dark...

- Isso soou muito A culpa é das estrelas.

- Você já leu?

- Não! Claro que não.

- Por quê?

- Além de ser um livro para menininhas, é melancólico demais, e também não tem brigas, sangues e morte brutal.

- Tem morte sim!

Era inevitável mencionar esse assunto e não pensar na mãe dele.

- Qual a parte de morte brutal você não entendeu?

- Mas, para alguém que nunca leu, você até que conhece bem a história.

- Tá, eu li, admito. Li apenas para saber se era mesmo tudo isso que as pessoas falavam.

- Eu acho lindo.

- O que?

- O livro né!

- Até que não é tão ruim assim.

Ouvi o meu pai me chamar no andar de baixo.

- Vou ter que desligar, garoto sombrio.

- Tudo bem. Até depois.

- Até.

Desci as escadas e fui em direção a cozinha onde minha família já estava jantando. Era impossível esconder o sorriso no meu rosto enquanto minha mente processava tudo que havia acontecido.

Eu tinha ouvido a voz do Rafa! E ia conhecer ele pessoalmente! Alguém me belisca, por favor! Isso só pode ser um sonho...

O amor em 140 caracteres [completo]Where stories live. Discover now