Capítulo 02

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- Beleza, Patrícia, agora me conta o que está acontecendo. Primeiro você fica meia hora se olhando no espelho com cara de protagonista de filme de terror, depois chora na frente dos nossos pais, e agora o João Lucas...

- Ei, espera aí, como você sabe que eu fiquei tanto tempo assim me olhando no espelho, Gustavo?

- Isso não interessa agora. Vai, me diz, o que houve?

- É que... - eu sabia que estava prestes a lagrimar de novo. - É... O João ele... Aí, Gustavo, não dá pra contar, se não é capaz de eu cair no choro aqui na frente.

- Está bem, vem comigo - ele me puxou até a sombra de uma árvore, afastada de qualquer olhar curioso. - Faz o seguinte, conta bem rápido que assim não dá vontade de chorar.

- O João Lucas simplesmente passou as férias sem falar comigo não mandava nem uma mensagem mal respondia e quando eu ligava ele inventava mil desculpas e hoje de madrugada ele mandou uma mensagem dizendo que precisava conversar comigo.

Assim que parei de falar, precisei tomar fôlego. O conselho do meu irmão é realmente bom. Falar algo triste, sem pausas, faz com que você não chore.

- Mas que otário! Eu vou ter que falar com ele, Patrícia. Qualquer coisa vou partir para a força física mesmo.

Eu ri vendo o Gustavo estufar o peito e se fazer de forte. Só em sonhos que ele iria conseguir vencer a força do João. Sempre era bonitinha essa atitude dele de irmão protetor. Nem parecia que alguns minutinhos atrás estávamos brigando feito cão e gato.

- Não precisa não, maninho, eu sei me cuidar. Além disso, meu horóscopo disse que eu precisava encarar a situação com bom humor, então...

- Horóscopo, Patrícia? Fala sério!

- Sim, eu estou falando muito sério.

Ouvimos a campa tocar e seguimos para o portão. Eu fui tentando convencer meu irmão a virar fã de horóscopos, até comentei coisas sobre seu signo, mas a única resposta que consegui dele foi risadas.

- Hoje estava escrito no site que eu iria encontrar dinheiro, e olha só... - apanhei uma nota de cinco reais que estava no chão - encontrei!

Fiz a maior cara de "eu não disse?!", fazendo meu irmão ficar boquiaberto e surpreso. Corri para sala de aula enquanto ele passava as mãos pelo bolso. O dinheiro havia caído de lá sim, mas de qualquer forma eu achei...

Assim que entrei na sala de aula a Amanda, que tinha os cabelos ruivos mais lindo que existem, me puxou em direção as nossas outras amigas.

Em um canto da sala estavam a Laura, a Flávia e a Isadora. Todas mostravam feições aflitas.

- O que aconteceu com vocês? Viram uma assombração? Fantasmas? Espíritos?

- Para de brincadeira, Patrícia, conta logo o que está havendo - Laura falou, com uma voz ao mesmo tempo irritada e preocupada. Ela estava com os cabelos loiros bem bagunçados, e os olhos verdes me fitavam tanto, que me senti incomodada.

- Contar o que, meninas? Não estou entendendo essa reação de vocês - elas me olharam agora desentendidas. Continuei: - Estão sabendo de algo que não sei?

- Você tá falando sério, Patrícia? - Flavia, que tinha uma beleza bem simples, perguntou.

- Ou só quer fugir do assunto mesmo? - Isadora interrogou-me, enquanto mexia nos cachos com uma mão, e ajeitava a franja lisa com a outra.

Eu sabia que elas estavam falando do João Lucas. Claro que sabia. Mas, desde que vi aquela cena, não parei para pensar direito. E estou fugindo do assunto sim, não quero falar disso agora. Quero apenas me distrair com qualquer conversa boba.

- Vai, amiga, fala logo! Estamos preocupadas com você, caramba! - Amanda, que não aguentava mais toda aquela enrolação, me persuadiu a contar o que houve.

Todas sabiam como meu namorado havia me tratado durante o mês passado, de modo que, não precisei falar muita coisa. Apenas contei sobre a mensagem que recebi de manhã e a cena que presenciei.

O professor ainda não havia entrado na sala, assim como o João. Notei que várias pessoas me fitavam. Alguns pareciam com pena, e outros apenas curiosos. O motivo eu já sabia. Mas a Isadora reforçou:

- Pati, todo mundo viu quando o João saiu da sala e foi cumprimentar a tal loira... E começou a rolar a maior fofoquinha.

Ótimo, era tudo o que eu precisava. Eu era o centro das atenções no momento. O sentimento de tristeza havia dado lugar a raiva. E isso ficou ainda mais forte quando minhas amigas começaram a apontar o quão o João Lucas tinha sido infantil e idiota comigo. Provavelmente a menina loira, que ninguém sabia o nome (por enquanto), era a nova paixãozinha dele.

Ele havia sido o meu primeiro namorado, então eu não sabia direito como agir naquela situação, mesmo tendo lido várias revistas teen durante toda minha adolescência. As meninas também não estavam muito certas do que eu deveria fazer.

Nós somos um grupo de cinco meninas, no terceiro ano escolar, entre os dezesseis e dezessete anos, que nunca namoraram sério. A primeira a ter um relacionamento duradouro foi eu. Não que sejamos santinhas ou algo do tipo. Mas é que "ficar" é bem mais fácil.

Finalmente, o professor de geografia entrou na classe. Os alunos que estavam lá fora vieram logo em seguida. Meu peito doeu. Entre eles estava o João... E o pior de tudo: incrivelmente lindo!

De longe eu não havia notado que o cabelo estava mais curto, deixando o rosto bem visível. Ele parecia mais forte também. Os olhos castanhos me encararam rapidamente, mas logo foram desviados. Eu continuei o admirando até que a Flávia, que estava sentada atrás de mim, me deu um cutucão. Acho que disfarçar não era o meu forte.

Passei a aula toda de geografia, e a de química, que veio logo em seguida, pensando no meu relacionamento, de cinco meses, que estava prestes a ter um fim definitivo.

Conheci o meu namorado quando ainda éramos crianças. A nossa aproximação era inevitável já que nossos pais cresceram juntos, trabalhavam juntos e até tinham o mesmo nome.

Na escola a gente não se falava muito, mas, nos churrascos de família, ficávamos bem colados. Todo mundo dizia que ainda ia acontecer alguma coisa entre nós. Mas, pra mim, a razão de ficarmos sempre juntos era bem simples: nossa idade. Enquanto os mais velhos conversavam sobre o passado em uma mesa, as crianças brincavam em todos os lugares, nós dois sobrávamos.

Bem, era essa a razão até eu senti algo diferente. E ele retribuir esse sentimento. Nós começamos a namorar e era tudo lindo, até essa maldita viagem que ele fez nas férias. Foi para a casa de alguns primos em outro estado, parou de me mandar mensagens e de ligar, e agora age como se não fossemos mais nada.

O amor em 140 caracteres [completo]Donde viven las historias. Descúbrelo ahora