Capítulo 13

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Nada melhor do que começar um novo dia com disposição, animação e coragem. Eu estava tentando ficar com pensamentos positivos para encarar esta manhã. Hoje a programação da escola é diferente. Nada de aulas normais, e sim o projeto de Educação Física, onde eu teria que dançar na frente de boa parte do ensino médio.

Pelo menos o meu irmão estava distraindo não só a mim, mas a minha família e as minhas amigas, contando sobre o encontro da noite passada. Nós estávamos na mesa da cozinha, tomando café, e ele falava, todo bobo, da garota que se chamava Isabela.

Nem me dei o trabalho de prestar atenção no que ele dizia, eu já sabia de tudo (ele havia me acordado de madrugada para contar todos os detalhes), então apenas peguei o celular e pela milésima vez fiquei olhando para o contato do Rafael.

Me sentia uma idiota por esperar alguma mensagem e por estar morrendo de vontade de mandar algo também.

- E você, Patrícia? Está de papinho com alguém? - Mamãe perguntou com o seu famoso olhar desconfiado.

- Por que a pergunta? - Eu sabia que ela suspeitava de algo, e estava disposta a responder todas as suas dúvidas com mais perguntas.

- Porque você vive olhando para esse celular, e quando não faz isso está com a cabeça em qualquer lugar, menos na terra.

- É verdade, tia, a gente percebeu isso, não foi meninas?! - A Amanda tinha que se meter. Ela fez isso fazendo a maior cara de desentendida. As meninas mexeram a cabeça afirmando. Eu tinha as melhores amigas do mundo mesmo.

- Ah, Patrícia, agora sou eu que fiquei curioso - Gustavo indagou. - Vai, pode contar!

Depois de tentar omitir o assunto "Rafael" e não obter nem um sucesso (sem falar a insistência de todas as pessoas presentes naquela cozinha), tive que contar.

- Tá bom. O nome dele é Rafael. Vai fazer apenas um mês que a gente se conhece, mas parece que isso aconteceu há bastante tempo. Sei lá, ele me entende, me diz coisas que me deixam mesmo bem...

Parei um pouco de falar e corei quando vi todos me encarando. O Gustavo parecia querer rir, minha mãe e minhas amigas pareciam dizer com o olhar "conta mais". E o meu pai... Bem, ele era um pouco ciumento, e um tanto preocupado. Foi o primeiro a quebrar o silêncio.

- Então, vocês se conheceram onde, filha?

Eu hesitei. Sabia que se respondesse "internet" ele iria me encher de perguntas também. E justamente naquela manhã eu não merecia isso.

- Aí pai, depois eu falo disso. É que e-eu... - Claro, eu tinha que gaguejar tentando inventar algum motivo cabível.

- É que a gente ter que ir pra escola, não é? Já vai dar oito horas - meu irmão, como sempre, me salvando. - Beleza, pai?

Ele concordou com a cabeça, fechou o jornal que tinha nas mãos, e foi tirar o carro da garagem.

Então, todo o nervosismo, a ansiedade e o frio na barriga voltaram com tudo.

Nós descemos em frente a quadra esportiva da escola. Assim que entramos fui surpreendida por um João Lucas muito animado. Tudo aconteceu rápido demais. Ele disse apenas "oi" e em seguida deu um beijo em meu rosto. Isso mesmo, um b e i j o.

- Pati, o que foi isso? - Flavia perguntou. Eu não tinha sido a única a ficar surpresa com a atitude dele.

- Não sei... Nós conversamos ontem e ele falou algo sobre sentir saudades de conversar comigo... Mas não achei que faria isso, ainda mais na escola!

Tive que contar todas as palavras da nossa conversa, porque eu tenho amigas curiosas demais. Enquanto falava, fiquei olhando para o João. O cabelo curto fazia ele parecer mais velho, o seu short e a camiseta eram uma mistura de azul escuro e preto, um uniforme personalizado especialmente para aquele dia. Meu ex não iria dançar, e sim fazer o que ele mais gosta: jogar futebol.

Outra pessoa que observei foi a Aline. O João não poderia estar fazendo isso, sem que ela soubesse. Ou poderia?

O fato é que eles estavam distantes. Quando o João Lucas caminhou perto dela, percebi que os dois se estranharam. A Aline mantinha um olhar triste, e então notei que o João também. Mas ele escondia tentando parecer animado, e estava conseguindo.

Talvez aquela aproximação repentina tinha mesmo um motivo específico. Não era saudade, ele queria fazer ciúmes pra ela. Mesmo que tenha parecido verdadeiro, só pode ser essa a razão...

Ok, Pati, nem pensa nisso agora.

Tentei me concentrar lembrando os passos da minha dança. O mais difícil seria fazer aquilo tudo no tempo certo da música, e eu não era nem um pouco boa nisso.

Nem percebi o tempo passar, e a hora mais temida chegou. O professor anunciou os nossos nomes no microfone e tive que ir. Nos poucos segundos que caminhei do lugar onde estava, até o palco improvisado na quadra, fiquei pensando: dançar no último ano do ensino médio? Por que isso?

Pena que os meus pensamos foram cortados assim que a música Eye of the tiger, da banda Survivor, começou a tocar. Claro que esqueci todos os meus questionamentos e apenas aproveitei o momento.

Só fui perceber que a apresentação acabou quando todos estavam aplaudindo. Valeu mesmo a pena.

Agora os nomes anunciados foram os das meninas da outra turma. Era a vez da Aline. Todas usavam regatas pretas e bermudas jeans rasgadas. A música era da Lady Gaga, e a maioria das garotas estava dançando incrivelmente bem. Exceto a Aline. Ela errava a todo momento, e não conseguia acompanhar as outras.

Vários murmurinhos começaram a rolar, e até o momento eu pensava que era sobre a dança, mas muita gente olhava para o celular, como se todos estivessem recebido alguma mensagem ao mesmo tempo.

- Aí, eu vou ver o que tá acontecendo - Amanda falou, mas antes que ela pudesse sair, os nossos celulares vibraram e fizeram barulho.

Eram mensagens de um número desconhecido. Eu as abri e encarei a Aline que agora saia da quadra chorando. As mensagens mostravam várias fotos dela... sem roupa alguma. Totalmente nua.

O amor em 140 caracteres [completo]Where stories live. Discover now