Capítulo 08

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Já era o começo da tarde de sábado quando as meninas chegaram aqui em casa. Nós íamos nos arrumar juntas para a festa da Letícia. Depois de separar os vestidos que compramos na terça-feira, fomos direto para a cozinha fazer o que mais gostamos: comer.

Eu e as meninas somos bem magrelas, mas a gente come pra caramba! Na verdade, a única que se salva entre nós é a Isadora, ela tem um corpo muito bonito, com tudo no lugar certo, nada de mais e nada de menos.

A festa começava as 21 horas, porém, assim que o relógio mostrou 18 horas começamos a nos revezar para tomar banho. Parece cedo demais? Agora imagina cinco meninas tendo que fazer maquiagem, fazer o cabelo, decidir se aquela roupa realmente ficou boa... O tempo passa rapidíssimo.

Estávamos todas em meu quarto quando a Laura começou a contar coisas recentes que aconteceram com ela. Nada demais, porém, todas começaram a falar sobre paqueras novas e fofoquinhas. Como eu fiquei calada, logo elas começaram a fazer várias perguntas.

Fiquei sem saber o que dizer. Não achei bom falar da Aline, muito menos do Rafael. Aqueles eram dois assuntos que eu queria manter apenas comigo. Até que acabei falando da noite passada, na pizzaria, com o João Lucas. Elas não ligaram muito, afinal, encontrar com o meu ex-namorado vai sempre ser algo comum, por causa da amizade das nossas famílias.

Já estávamos prontas, apenas retocando algumas coisinhas, enquanto meu pai terminava de tomar banho para nos levar. A Amanda usava um vestido vermelho, que combinava com o seu cabelo. Já a Isa, estava com um vestido justo, realçando suas curvas. A Laura e Flávia optaram por modelos pretos. Eu usava um vestido que ia até os joelhos, de cor azul marinho. Deixei meu cabelo solto, e escolhi um salto confortável.

A festa da Letícia merecia um prêmio de mais animada de todas. Além de a casa ser incrivelmente grande, nunca vi tanta gente feliz, dançando, conversando e comendo, em um mesmo lugar. Outra coisa que me deixou de queixo caído é que todas as pessoas estavam bonitas. Sim, todas. Até aqueles meninos bem feinhos que tem pela escola.

Nem preciso falar da aniversariante que estava uma verdadeira princesa. Contudo, havia uma pessoa mais linda que ela... Aline. A loira usava um vestido do mesmo modelo que o meu, mas ele era branco, e o decote realmente tinha o que valorizar. O cabelo dela estava com um coque bagunçado e o salto era enorme, fazendo com que ela fosse a mais elegante dali.

Já era bem tarde quando as minhas amigas se espalharam por aí, cada uma com um garoto. Fiquei bem chateada por ter ficado sozinha, mas não quis demostrar isso a elas. Não queria estragar a noite.

Não tinha se quer um menino que me agradasse ali. Não que eu estivesse me fazendo de difícil, porém, terminei um namoro naquela mesma semana, e acho que ainda não estou pronta nem para ficar com ninguém. Precisando me distrair com algo, fui retocar a maquiagem.

- Patrícia! - Aline falou, bem animada, assim que entrei no banheiro. - Não tinha te visto por aqui!

Eu até tentei responder no mesmo tom, porém, foi difícil esconder minha irritação.

- O que aconteceu? - Ela se aproximou parecendo curiosa.

- É... Nada não. Só um pouco de dor de cabeça.

- Eu tenho um remédio aqui na bolsa. Passa rapidinho.

Eu aceitei, afinal, a minha cabeça estava mesmo doendo. Depois que coloquei a pílula na boca, um silêncio desconfortável permaneceu entre nós.

- Sabe, aqui tem um lugar mais reservado pra gente conversar.

- Conversar sobre...?

- Quero esclarecer algumas coisas.

- Tudo bem, mas eu não conheço direito essa casa.

- Eu também não conheço quase nada, mas sei de um local perfeito - ela me puxou pelas mãos e me guiou para uma parte bem longe de onde a festa rolava.

Entramos em uma sala grande, com várias estantes cheias de... Livros! A Letícia tem uma biblioteca dentro de casa. Eu fiquei deslizando meus dedos pelos exemplares da estante mais próxima. Muitos ali eram histórias bem antigas, que eu nunca li, mas era bom apenas sentir o cheiro. Vi a Aline fazendo o mesmo.

- Cheiro perfeito, não é? - Ela perguntou.

- Sim, perfeito.

- Mas, então, como eu disse...

- Como você sabia desse lugar? - Interrompi antes que ela pudesse completar.

- Eu e a Letícia estamos no mesmo grupo de português, fizemos o trabalho aqui - ela se sentou em uma cadeira próxima e me convidou para fazer o mesmo. - Queria falar do João Lucas, Patrícia.

- Não precisa. Eu já superei essa história.

- Certo, mas sinto que devo te contar certas coisas.

- Tudo bem - eu não sabia se queria ouvir o que ela tinha para falar. Será que eu precisava saber a verdade? Se eu superei, então, não deveria deixar pra lá? Mesmo com essas dúvidas, permaneci ali. E ela começou a falar.

- Eu... Eu não sabia quem era você quando te encontrei na escola... - Sua voz vacilava. - Só queria fazer amigas e você me pareceu simpática. No momento que falou seu nome, eu fugi porque não queria dar uma de falsa. Eu nem mesmo sabia que o João tinha namorada. Quer dizer... Não desde sempre. Nós viramos amigos há algum tempo, e ele...

- Ele... O que?

- Sei que é difícil ouvir isso, mas ele nunca falou de você - senti meu peito apertar, mesmo já suspeitando disso, foi doloroso ouvir a confirmação através da Aline. - Se eu soubesse que ele tinha namorada, eu não teria deixado nós nos envolvermos tanto. Sabe, já passei por isso, então sei como é ruim. Só fui saber de você quando contei a ele que iria me mudar pra cá, por causa da minha avó.

- Ela está doente, não é?

- Sim, mas como você sabe disso?

- Facebook - já que ela estava sendo verdadeira comigo, eu iria ser com ela.

- Ah... Bem, ela está um pouco melhor agora.

- Ainda bem.

Até tentei entrar em outro assunto, falar da avó, da mudança, ou alguma coisa assim. Não queria mais me sentir triste ouvindo a verdade. Preferia fingir que ela não existia. Mas quando a Aline voltou ao assunto, continuei a ouvir.

- Eu sabia que ia virar alvo de fofoquinhas, por causa dessa história toda, assim que entrasse na escola. Mas decidi que iria tolerar, pela minha felicidade.

- Felicidade que foi roubada de mim.

Aline ficou boquiaberta e sem graça. É claro que ela não esperava que eu a respondesse assim, nem sabia que tinha coragem para falar aquilo. Talvez esse seja o lado bom de tudo que aconteceu... Me tornei corajosa. Já chega de esconder o que eu sinto.

- Patrícia... não sei o que dizer...

- Pois eu sei, Aline. Você pode ser muito simpática, mas não vou fingir que está tudo bem. É demais para mim ter que engolir essa história.

Saí de lá com a sensação de ter feito a coisa certa. Eu não iria odiar a menina, porém tentar uma amizade estava fora de cogitação.

O amor em 140 caracteres [completo]Where stories live. Discover now