Capítulo 23

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Sabe aquelas madrugadas que você para pra pensar em tudo que já aconteceu em sua pequena trajetória pela vida? É assustador, eu sei. Na verdade, é assustadoramente incrível.

Já passou das quatro horas da madrugada e continuo aqui, lembrando das diversas fases que tive na minha adolescência, de como fui uma garota diferente em todas elas e como sempre, sempre mesmo, eu escondia a mágoa por trás de um sorriso e preferia fugir dos meus próprios problemas.

Problemas... Sinto vontade de rir ao recordar como eles eram tão bobos, e como nem um se iguala ao que eu presenciei hoje.

Ótima hora para pensar nisso, Patrícia. Só que não!

Apesar de ter visto apenas a expressão de confusão e emoção no rosto do tio Ricardo, e a raiva no do João Lucas, consigo sentir o clima pesado daquele momento até agora. Não vi mais nada além disso. Mamãe definitivamente expulsou o Gustavo e eu da sala de estar. Não sei exatamente o que aconteceu, mas o Lucas e o pai dele foram para casa uma hora depois, enquanto o Rafa acabou dormindo aqui, no quarto do meu irmão, é claro.

Além desse turbilhão de sentimentos dentro de mim, ainda tenho que lutar contra a vontade de mandar uma mensagem para o Rafael. Tenho quase certeza que ele está igual a mim: deitado, olhando para o nada e pensando em tudo. O que eu mais quero agora é ter ele bem perto de mim e dizer que tudo vai ficar bem.

Não vou mentir, estou completamente apaixonada por esse menino. Acho que só agora caiu a ficha de verdade. Está bem, vai... Ela já caiu há muito tempo!

Começo a achar que talvez eu deva voltar a ser mais corajosa e impulsiva, e esse pensamento é suficiente para eu levantar da cama, alcançar o celular e sair do quarto.

@patriciamnzs:

Está acordado @rafa_the_dark?

Mando apenas isso enquanto me dirijo até a cozinha. Abro a geladeira. Fecho. Tomo um copo de água. Como um biscoito. Ouço um barulho, mas é apenas o Bochecha andando pela casa. Um minuto, dois minutos, três... E nem uma resposta do Rafael. Por que o tempo parece estar passando mais devagar? De repente consigo ver a sombra de alguém descendo as escadas, ao mesmo tempo sinto o celular vibrar em minhas mãos.

@rafa_the_dark:

@patriciamnzs quer conversar?

@patriciamnzs:

@rafa_the_dark o que você acha?

Assim, sem falar nem uma palavra, apenas digitando, nós vamos até o quintal de casa. Ele ajeita umas almofadas e as coloca no chão. Eu faço o mesmo e me sento.

- Oi, garotinha sentimental - ele diz bem baixinho, quase sussurrando.

- Oi, garoto sombrio.

- Insônia? - Ele pergunta agora com uma voz rouca.

- Sim - respondo distraída.

Após isso ficamos em silencio. Rafa se distrai com algo no celular e eu aproveito para dar uma boa olhada nele. Calças jeans, camiseta preta, cabelos bagunçados... Exatamente como no dia em que eu o conheci.

- Dia maluco, não é? - Ele diz de repente.

- Nem me fala... Não dá pra acreditar que em um só dia quase morro achando que o cara que gosto é meu irmão, ajo como idiota na frente da minha família e acabo descobrindo que na verdade ele é irmão do meu ex-namorado! E se eu fiquei assim, imagina você que... - E esse é o momento que percebo que estou falando muito. Respiro e vejo um Rafael com um sorriso malicioso no canto da boca. Essa não...

- O cara que você gosta é? - Ele fala, fazendo graça. Nossa senhora, eu falei demais mesmo! Sinto minhas bochechas ficarem da cor de um tomate e resolvo tentar mudar de assunto. - Então, como foi a conversa com o tio Ricardo?

- É... Não foi tão ruim... - Rafa responde. Assim que ele assume uma feição triste me arrependo de ter perguntado e estragado o clima. Mesmo assim, ele continua. - O Ricardo é legal, sabe. Ele foi, hum... Atencioso. Eu consigo entender o lado dele. Minha mãe quis me criar sozinha e, por ser jovem, ele aceitou isso. Mesmo que dois anos depois tenha casado e tido outro filho...

- Eu te admiro, Rafael.

- Por quê? - Ele pergunta confuso.

- Por causa da sua maturidade, da sua segurança...Você é determinado. Veio para um estado que não conhecia, procurou por um pai que nunca havia tido contato, conseguiu perdoá-lo por isso... Enfim, mesmo com um momento de fraqueza, você correu atrás do que queria.

Assim, o garoto sombrio, irritante e sem coração me mostra que têm sentimentos sim e faz algo que eu queria muito, mas não estava esperando. Ele me encara com os olhos escuros, põe as mãos em minha cintura, aproxima seu rosto do meu e me beija devagar, como se quisesse aproveitar cada segundo... Ficamos assim até o dia clarear.

Quando sentimos que as pessoas da minha casa estavam prestes a acordar, levantamos do quintal e voltamos para a cozinha. Resolvi fazer um café, enquanto o Rafa preparava sanduíches. A minha barriga estava roncando e eu não via a hora de devorar tudo aquilo, até que percebi que meu the dark parecia meio estranho.

- O que foi? - Perguntei me aproximando.

- Eu esqueci de te contar uma coisa.

- Então conta agora, ué.

- Vou ter que ir embora - ele disse sério.

- Como assim? - Indaguei confusa.

- Vou ter que ir, Pati. Voltar para a casa dos meus avós.

- Ma-mas e o tio Ricardo? E... - Tive vontade de perguntar "e eu?", contudo, me contive.

- Patrícia, - ele começou com a voz calma - eu faço faculdade, tenho os meus avós e meu irmão caçula. Tenho uma vida.

- Mas você se aproximou de mim, achou que eu era sua irmã, procurou por seu pai... Foi tudo em vão? Aliás, você fez isso tudo para quê? - Ok, eu estava falando alto demais, minha cabeça permanecia confusa e eu sentia que a qualquer momento ia começar a lagrimar ali mesmo. Muito dramática? Eu sei, esse é o meu jeito.

- Eu precisava conhecer ele, faz parte da minha história, caramba! - Rafa quase gritou.

Após isso, o silencio reinou na cozinha. Eu estava esperando que ele falasse mais alguma coisa, e ele também esperava por mim. Terminamos de comer e enfim resolvi dizer algo.

- Vou subir. Bom dia para você - fui até as escadas, subi um degrau, dois, três... Eu repetia desesperadamente em minha cabeça "me chama, por favor. Me chama, por favor".

- Pati? - Ufa! Ele chamou! Claro que fiz aquela típica ceninha de filme, onde a mocinha para, finge estar pensando se olha para trás ou não, e depois vai até o mocinho. - Me perdoa - Rafa disse assim que cheguei bem perto dele. - Eu não queria ter falado com você desse jeito. Me exaltei, foi mal - mostrei um sorriso torto e ele continuou - Olha, um lado de mim não quer ir também. Queria muito ficar com você, sério. Nem sei o que estou sentido, só sei que é forte... - Essa é a hora em que eu me derreto. - Foge comigo?

- Tá louco? - Eu ri.

- Ah, seria igual aos romances que você gosta de ler - Rafael disse todo fofo e me puxou para um abraço.

- Sabe, compreendi o que você disse - sussurrei em seu ouvido. Saí dos seus braços e o olhei. - Acho melhor a gente não falar disso até a sua viagem e aproveitar esse tempo que estamos juntos.

- Tudo bem - ele me deu um selinho. Que vontade de agarrar esse cara e não largar mais! - Agora vamos subir e fingir que nada aconteceu. Não quero problemas com seu pai - eu apenas sorri. Iria ser difícil fingir que nada aconteceu...



O amor em 140 caracteres [completo]Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang