Capítulo 20

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Apesar de estressante, as semanas seguintes até que tiveram bons resultados. Foram exatamente catorze dias tentando convencer o João Lucas de que ele não queria namorar comigo novamente, que era uma ilusão da cabeça dele e que não podia existir mais nada entre nós, além de amizade.

Eu: Lucas, é bem óbvio que a nossa aproximação acabaria levando a isso. Esse negócio de ser amigo de ex-namorado é estranho. Então, tenta fingir que a gente nunca namorou. E você é complicado demais! Tá na cara que é caidinho pela Aline. Sabe o que tem que fazer? Crescer! Já chega de tantas atitudes imaturas, tem que parar de agir sem pensar.

Depois dessa mensagem o garoto refletiu e percebeu que tudo que eu tinha escrito era verdade. E após essa história ter finalmente acabado, ele voltou para os braços da Aline, que também já havia superado as fotos espalhadas e resolvido o assunto, legalmente, com o ex-namorado.

Como eu sabia disso tudo? Simples! Era amiga do casal. Isso aí. Parabéns pra mim que consegue não guardar mágoas e sentimentos ruins.

O João faz parte da família e eu sinto que vou aturar ele a vida toda. Falando nisso, ainda passei alguns dias com a ilustre companhia dele fazendo o trabalho de biologia. Até que enfim nós acabamos e já apresentamos.

E agora, entrando no assunto "Rafael", também foram catorze longos dias sem falar com ele.

Quer dizer, eu tentei, e como tentei... Mandei mensagens e liguei a beça. Só não fui até o hotel que ele estava porque eu não sabia onde havia se hospedado.

Depois de alguns dias, desisti de procurar por ele. Eu insisti muito, mas tem que ter aquele momento que você diz "chega!".

Mas, em uma tarde na casa da Amanda, o pensamento de que o Rafael poderia ter ido embora, sem se despedir, começou a perturbar a minha cabeça.

Agora já se passou duas semanas e cinco dias. Em um sábado eu fiz uma lista com todos os possíveis hotéis que ele poderia estar.

Como a minha cidade é pequena, não seria tão difícil achá-lo. Mesmo assim liguei para as meninas e elas toparam na mesma hora me ajudar nessa procura.

Entretanto, após ouvir vários "não podemos dar informação sobre os hóspedes", estávamos quase desistindo.

- Pati, tenta lembrar alguma coisa que ele te disse. Alguma pista, sei lá - Isadora sugeriu quando fomos barradas pela quinta vez.

- Ele disse que ficou em um lugar calmo, eu acho...

- Pode ser o hotel IG. É o mais calmo da região.

- Quando a gente se encontrou no parque ele estava com uma sacola de um supermercado próximo a esse lugar!

- Bingo! - Amanda comemorou. - Só pode ser lá!

Corremos até o tal hotel. Assim que chegamos, Laura lamentou-se:

- Ah, as minhas pernas estão doendo... E não sei se perceberam, mas nós já viemos aqui.

- É verdade - Flávia concordou. - Como vamos entrar lá e saber qual o quarto do Rafael?

- Nós não vamos entrar, queridas. Apenas a Pati - Amanda falou decidida. Sua expressão mostrava que ela já tinha uma ideia em mente. - Iremos apelar para o truque mais velho de todos.

Alguns minutos mais tarde, eu usava uma roupa e um boné de garçonete que a Isadora conseguiu emprestado. Com a sua beleza e uma pitada de persuasão ela arranjou os trajes com o funcionário de uma pizzaria próxima.

- Em filmes sempre dá certo, Pati. Sei que você consegue ser uma ótima atriz, digna de filmes americanos.

- Isso aí, você vai conseguir! Qualquer coisa vamos estar aqui do lado de fora. Boa sorte!

Minhas amigas me apoiavam enquanto eu reunia coragem para executar o truque perfeitamente.

Com as pernas bambas, segurando uma caixa de pizza, me dirigi a recepcionista do hotel. Era uma mulher jovem, com olhos cansados. Ela havia acabado de digitar algo no computador quando eu me aproximei.

- O-oi - não gagueja, Pati - um rapaz fez esse pedido na lanchonete aqui perto. Eu vim entregar. Ela me avaliou da cabeça aos pés, me deixando mais nervosa.

- Ok. Qual o nome do hóspede, e o número do quarto em que ele está?

- Ele se chama Rafael Meireles. E o quarto... Oh, céus! Eu esqueci.

Espero que a minha cena esteja funcionando.

- Essas informações são necessárias para que eu possa deixá-la fazer a entrega.

- Perdão, moça. Entende o meu lado. Sou nova nesse emprego... - Tentei ser o mais dramática possível. - Se eu chegar na lanchonete falando que não anotei o endereço corretamente serei despedida antes mesmo de ganhar meu primeiro salário. Eu preciso tanto desse dinheiro para pagar a faculdade e...

- Basta! - Ela me interrompeu ríspida. - Vou ligar para o quarto do senhor Rafael.

A mulher discou o número um e em seguida o nove. Fez isso mais duas vezes e não recebeu nem uma resposta. Para mim já era um alívio saber que o Rafa, pelo menos, ainda estava por aqui.

- Ele não está atendendo. Mas, como não o vi saindo, suponho que esteja na suíte. Vou deixar você ir, não demore.

Subi as escadas tentando controlar minha ansiedade. O plano tinha dado certo, eu ia conseguir ver o Rafa. Mas o que iria falar pra ele? Ele me ignorou por todos esses dias, então, qual seria sua reação ao me ver na porta do quarto?

Senti medo, contudo, continuei andando a procura do quarto dezenove. Era no final de um corredor.

Parei em frente a porta e ouvi gritos desesperados. Era a voz dele. Só não conseguia entender o que o Rafael falava.

Tentei chamá-lo algumas vezes, mas ele não me ouviu. Eu estava assustada e preocupada demais para ir embora sem saber o que acontecia lá dentro.

Abri a porta lentamente e vi um Rafael com olhos inchados, encarando o próprio rosto em um espelho. Ele parecia atordoado e perdido enquanto falava no celular.

- Eu não devia me apaixonar pela Patrícia! Ela é minha irmã, caramba!

Assim que gritou essas palavras eu também encarei seu rosto através do espelho. Ele deixou o celular cair no chão e me olhou perplexo.

Lágrimas caíam dos meus olhos, por um momento eu senti que não ia conseguir me mexer e sair dali.

- O que você está fazendo aqui? Como entrou? - Ele estava tão assustado quanto eu.

Sem responder suas perguntas, saí correndo do quarto. Tropecei nas escadas e pude ouvir Rafael chamando pelo meu nome. Levantei-me e corri mais ainda.

- Espera. Me ouve! - Ele segurou meus pulsos com força. - A gente precisava conversar. Isso é sério.

Eu não queria o ouvir. E, pra variar, também não conseguia dizer uma palavra. Sussurrei um "me larga" desesperada, e foi exatamente isso que ele fez.

Caminhei com passos mais rápidos ainda. As palavras dele soavam repetidamente nos meus pensamentos. "Ela é minha irmã. Ela é minha irmã. Ela é minha irmã...".

Não, isso não podia ser verdade...

O amor em 140 caracteres [completo]Where stories live. Discover now