Capítulo 03

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A campa do intervalo tocou, me deixando mais nervosa ainda. Todos saíram apressados da sala. Estamos no último ano da escola, mas aqueles minutinhos de descanso continuavam sendo uma bagunça total.

Eu permaneci sentada em minha cadeira. Era bem longe do João, porém, tinha uma vista maravilhosa dele. Ajeitei a fita rosa no cabelo e passei as mãos suadas na calça azul da escola.

Decidi eu mesma tomar a atitude de iniciar uma conversa. Já que nós éramos os únicos naquela sala enorme, e ele permanecia sentado em sua carteira.

Era agora ou nunca.

Parecia que meu coração ia sair pela boca, sério, eu nunca havia sentido algo assim antes. Também podia sentir o choro preso na garganta. Me aproximei e, antes que pudesse falar algo, ele começou:

- Oi, Pati - eu só consegui sussurrar uma resposta. - Acho melhor a gente ir para um lugar mais reservado - apenas balancei a cabeça, e o segui com as pernas bambas. Ele me guiava para um lugar que eu conhecia bem. Que nós conhecíamos bem.

Nosso cantinho.

Era um local bem afastado de todas as salas daquela escola. Havia uns banquinhos velhos e algumas flores mortas. Mas o cheiro era agradável, e batia um vento relaxante.

Sentei em um banquinho e ele no outro, bem a minha frente. Estávamos próximos demais. Por um segundo parecia que nada tinha acontecido, e que nós tínhamos ido até ali para fazer o de sempre: nos beijar e ficar abraçados até a próxima aula.

- Patrícia... Não sei bem como te dizer isso - ele falou, com uma voz rouca, enquanto se afastava - mas, já faz algum tempo que eu sinto que foi um erro a gente ter deixado isso acontecer. Acho que confundimos as coisas...

Eu apenas fiquei o encarando. O que eu poderia responder? Certamente muitas coisas. Mas parecia que alguém tinha ativado um modo boneca em mim. Eu só conseguia mexer a cabeça. Pelo menos eu não estava chorando.

- Eu não queria te deixar triste, nem te magoar... - ele continuou.

- Você já está me magoando, cara! - Coloquei na minha cabeça que era só o João Lucas, o menino que conheço desde pequena, e que eu não deveria ter medo algum, e assim consegui dizer tudo que estava preso. - Eu passei todo esse tempo tentando te compreender, tentando ser paciente com você, engoli meu orgulho, e muitas vezes tive que me fingir de forte... Pra quê? Pra depois de cinco meses você perceber que foi um erro? Fala sério!

Ele me fitou, em silêncio, por um tempo. Quanto a mim? Bem, eu não estava chorando. Não estava mais triste. Nem com raiva. Não sei o que exatamente eu sentia, mas foi como se eu tivesse acabado de perceber que namorei um completo idiota. E ele confirmou meu pensamento quando disse:

- Olha, era isso que eu tinha pra falar. Sabe... Não é você, sou eu. - Assim, levantou do banco, virou as costas, e foi embora.

Não é você, sou eu. Sério isso? Não aguentei e comecei a rir da frase mais tosca que eu poderia ouvir.

O amor em 140 caracteres [completo]Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin