Capítulo 06

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Acordei no horário certo e tive tanto tempo para me arrumar que meu humor estava melhor do que nunca. Na escola, eu admiti a Amanda que ela estava certa sobre eu ter ficado com inveja da "loira", e pedi desculpas pela minha reação exagerada.

Nós cinco tivemos que formar um grupo na aula de educação física, o tema era danças, e fomos sorteadas com o estilo kombat. O lado bom disso é que é mais um motivo para eu e minhas amigas nos reunirmos toda tarde, o lado ruim é que eu sou uma péssima dançarina.

As aulas de hoje tinham sido tão envolventes que nem trisquei no celular. No intervalo, enquanto minhas amigas magricelas entupiam-se de batatas e bebiam refrigerantes, peguei o aparelho e abri o aplicativo do Twitter.

Queria ver se o desconhecido tinha mandado algo de volta. E não me surpreendi ao ver mais uma resposta irônica.

@rafa_the_dark:

@patriciamnzs não gostou da minha reply, menina sofrimento? Sua resposta foi muito mau :'(

Não fazia ideia quem era essa pessoa, mas consegui imaginar uma voz masculina falando essa frase de forma muito sarcástica. Eu podia me irritar, podia responder, ou até bloquear ele. Mas escolhi vasculhar o perfil.

A foto não mostrava seu rosto, apenas a camiseta da banda Slipknot e o cabelo bem escuro. O nome era Rafael. E isso era tudo. Não havia mais nem uma informação.

- Ei,  Flávia, o que significa the dark? - Perguntei mostrando o celular para ela. Eu não sabia quase nada de inglês.

- Pode ser o sombrio ou o escuro - ela respondeu.

O que passava pela minha cabeça é que o garoto era muito estranho e eu não deveria dar bola, porém, ao mesmo tempo eu me sentia curiosa em relação a ele.

Ainda fiquei lendo alguns de seus tweets. Muitos eram em inglês, e a Flávia, minha amiga bilíngue, preguiçosamente ia traduzindo algumas coisas para mim. O que era em português eu também não entendia direito, pois eram sobre animes e vídeo games.

A questão é que ele só falava mesmo com as pessoas que viviam no "mesmo mundo" que ele. Não havia razão nem uma para implicar comigo.

@patriciamnzs:

Menina sofrimento? Quem você pensa que é para falar assim comigo, @rafa_the_dark?

@rafa_the_dark:

Sou apenas um usuário irritado com garotinhas mimadas que vem postar frases melancólicas no twitter, @patriciamnzs.

@patriciamnzs:

Escrevo o que sinto e penso, @rafa_the_dark. Caso não saiba, é essa a proposta da rede social. Já disse que não precisa ler o que posto.

- Patrícia! - Ouvi meu nome ser chamado em coro.

- O que? - Respondi com um tom de voz irritado.

- Nossa, por que essa mudança de humor? - Amanda perguntou desconfiada.

- Estou apenas lendo umas coisas no Twitter. Nada demais.

Elas não pareceram convencidas com a resposta, mas era isso mesmo. Não era nada demais.

- Então, hoje nós vamos ver os vestidos para o aniversário da Letícia, certo? - Laura mudou de assunto.

- Eu tinha até esquecido disso! - Falei enquanto guardava o celular.

Letícia era uma menina simpática que estudava na classe ao lado da nossa. Era bem conhecida por todo mundo, então, todas as turmas de terceiro ano provavelmente iriam estar lá. Nós ainda continuamos falando sobre a festa, até que percebi um olhar sobre mim. Desviei os olhos das minhas amigas que falavam gesticulando com as mãos, e virei para encarar a Aline.

Ela estava de mãos dadas com o João Lucas. Ele conversava com alguns meninos, mas parecia todo bobo por ter aquela garota ao seu lado. Eu disse as meninas que precisava devolver um livro a biblioteca, e fui até a nossa sala de aula.

Depois de pegar o que queria, encarei novamente a Aline, tentando fazer um sinal apenas com o olhar. Acho que ela entendeu, pois largou a mão do João e me seguiu, mantendo uma distancia, até a biblioteca.

- Olha, a sua bolsinha com maquiagens, você a deixou comigo – falei, assim que paramos na porta da biblioteca, entregando a bolsa rosa a ela.

O cheiro de livros me agradava e transmitia calmaria. Aquela parte da escola era boa para ter um diálogo. Não era muito frequentada.

- Obrigada... E eu queria mesmo falar com você - a campa do intervalo soou e senti o meu celular vibrar no bolso - a gente podia combinar alguma coisa.

- Tudo bem.

- Mas é sério, Patrícia. Não estou falando daqueles "podíamos combinar" que nunca acontecem. - ela falou sorrindo.

Eu também sorri e passei meu número a ela. Como que eu vou odiar uma garota tão simpática? Não dá!

Depois de anotar seu número, abri a nova mensagem do meu celular, enquanto andava até a primeira sala do corredor mais próximo.

@rafa_the_dark:

Escreve o que pensa e sente, @patriciamnzs? Isso soou tão profundo, que eu vou até sair daqui, vai que é contagioso...

Mas que idiota, meu!

O amor em 140 caracteres [completo]Where stories live. Discover now