Capítulo 22

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Nunca tinha me sentindo tão ansiosa antes de entrar em minha própria casa. Após a segunda batida na porta, mamãe a abriu sorridente.

- Oi, mãe. Esse aqui é o Rafa. Ele vai... Hum... Assistir Fantástico com a gente - Rafael me encarou com um olhar estranho, enquanto minha mãe me lançava um sorriso desentendido. - Ele é totalmente viciado - ok, essa era a desculpa mais idiota que eu já tinha inventado - sabe, ele assiste todos os domingos..

- Certo - mamãe murmurou. - Pode entrar, Rafael.

Eu não pude deixar de notar que ela permanecia desconfortável com a situação. E, com o Rafael parecendo um boneco, o clima ficou mais estranho ainda. Puxei ele pelas mãos e o conduzi até a sala de estar.

- Que foi? - Perguntei sussurrando, enquanto sentava em uma poltrona.

- Acho que isso não foi uma boa ideia... - Ele respondeu aos sussurros, se sentando também.

Claro que eu queria dizer que não era mesmo uma boa ideia, que seria bem melhor ele conviver com essa incerteza, assim nós poderíamos nos beijar sem culpa. Mas, no fundo, eu sentia que aquilo era importante não só para ele, mas para mim também...

- Acho que o papai chegou - falei, ouvindo a porta da frente ser aberta.

Rafael permaneceu calado, assumindo uma postura e ficando em pé, de costas para o meu pai, que se aproximava.

- João Lucas! - Papai exclamou, ainda olhando para um Rafael de costas. - Eu ainda não tinha reparado como o seu cabelo cresceu.

- João Lucas? - Rafa pareceu desentendido, virando-se para o meu pai, que agora o olhava assustado.

- Oh... Pensei que fosse outra pessoa.

Mamãe saiu da cozinha imediatamente e se pôs perto do meu pai.

- Esse é o Rafael, querido. Aquele amiguinho da Pati.

- Ah... Oi - papai o cumprimentou.

- Rafael! - Gustavo disse empolgado, descendo as escadas. - Veio conhecer o sogrão?! - Num instante o Rafa e o meu pai assumiram uma expressão mais assustada ainda no rosto. O Gu apenas riu. - Qual é, foi só uma piada!

Eu mereço mesmo o irmão que tenho.

Gustavo se atirou no sofá, parecendo não perceber o clima estranho na sala.

- Vão ficar em pé se olhando? - Ele perguntou tranquilamente.

- Não! - Respondi alto demais. - Acho que é legal sentar! Sentar é super divertido! Senta, gente!

Agora todo mundo me olhava como se eu fosse maluca. Acho que o nervosismo estava atrapalhando um pouco a minha sanidade...

Meus pais ficaram ao lado do meu irmão, enquanto eu e o Rafa permanecemos nas poltronas.

- O que vocês querem assistir? - Gu perguntou com os olhos na televisão.

- Fantástico - minha mãe exclamou olhando para o Rafael.

Eu não conseguia prestar atenção na TV, esperando algum sinal do Rafa. Olhei várias vezes para ele e sempre era ignorada.

- Bem, vou servir o jantar - mamãe pronunciou, parecendo aliviada por sair dali. - Quer me ajudar? - Perguntou, com os olhos suplicantes, ao meu pai.

Parecia que ela sabia da história, ou por que motivo estaria tão nervosa assim? Então, por impulso, eu disse "não" bem alto novamente e todas as atenções se voltaram para mim.

- Eu e o Rafael temos algo a dizer - falei, decidida a acabar com essa dúvida agora mesmo.

- Será que você... Pode começar...? - Ele me perguntou com a voz falhando.

- Claro - respondi incerta.

- Patrícia, você tá grávida? - Gustavo perguntou, fazendo graça.

- Claro que não, idiota! Fica calado aí.

Como sempre, meu irmão murmurou algo sobre eu não ter senso de humor e ficou quieto.

- Como vocês já sabem, o Rafael perdeu a mãe ano passado - comecei, sem olhar para o Rafa enquanto contava - e, o que provavelmente não sabem, é que ele nunca conheceu o pai...

- Minha mãe não gostava de falar dele - Rafael disse de repente, encarando meu pai. - Mas, como todo adolescente, eu ansiava por respostas.

Meus pais pareciam estar com pena dele, porém, de alguma forma, eu sentia que eles já conheciam essa história.

- Depois que ela se foi, meus avós me disseram o que sabiam sobre ele. Contaram que ele mora nessa cidade, que tem um escritório de advocacia, e que... Se chama Ricardo.

- Ei, o papai também tem um escritório de advocacia talvez ele conheça... Espera, você disse que ele se chama Ricardo? - Gustavo perguntou, com olhos arregalados, como se pela primeira vez percebesse que o nome do papai não era "pai" e sim "Ricardo". - Você é o pai dele?

- Não, óbvio que não! - Papai exclamou incrédulo.

- Filho, não é isso - minha mãe tentou acalmar o Gustavo.

- Você não vai admitir que sou seu filho? - Rafa gritou com meu pai.

- Pai, diz logo a verdade! - Gritei também.

- Espera, você também acha que ele é meu filho? Vocês ficaram loucos? O pai dele é o Ricardo!

Eu precisei de alguns minutos para processar aquilo tudo... Como eu nunca havia pensado nisso?

- Você quer dizer o tio Ricardo? - Perguntei apenas para ter certeza.

- Sim, o pai do João Lucas!

Então algumas coisas começaram a fazer sentido... A semelhança física entre o Rafael e o Lucas e a voz extremamente igual. Sem contar que o tio Ricardo também morava na cidade, tinha o escritório junto com o meu pai e obviamente tinha o mesmo nome.

De repente, em meio as gritarias, ouvimos batidas na porta de casa.

- Deve ser algum vizinho preocupado com os gritos - mamãe especulou. - Tentem parecer pessoas normais, por favor.

Quando ela abriu a porta, ouvi duas vozes familiares perguntando se tinha acontecido algo. Minha mãe respondeu que sim e o João Lucas veio até a sala que estávamos.

- Oi, João Lucas... - Falei tensa.

- Quem é esse? - Ele perguntou apontando para o Rafa. Todos ficamos calados.

- Prazer, Rafael. Seu irmão.

- Irmão? - João franziu a testa e me olhou confuso.

Eu podia ver meus pais cochichando algo para o tio Ricardo, ainda na entrada de casa. O rosto dele exibia uma feição perplexa.

Instantaneamente ele apareceu na sala e admirou o Rafa. Através da emoção em seus olhos, todos tivemos certeza de que aquela era a verdade.

O amor em 140 caracteres [completo]Where stories live. Discover now