Capítulo 4: Novelas mexicanas

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Natasha ficou de frente para a TV o dia todo. Assistiu todos os programas, até um programa em espanhol.

- Você está entendendo alguma coisa? - perguntei, deitado no outro sofá com um livro na mão.

- Pensé que los humanos hablaban todos los idiomas. - ela disse, rápida e perfeitamente, me fazendo arregalar os olhos.

- Você fala espanhol. Okay, isso é novo. Já está lembrando das coisas, viu?

Não me respondeu, então voltei a ler. Eu estava me acostumando com o jeito estranho e fechado dela, embora esperasse que ela se abrisse em breve. Assim tudo ficaria mais fácil.

Mas mesmo assim eu tinha uma impressão boa sobre ela, parecia uma mulher geniosa e ao mesmo tempo calma. Mais profunda que a Fossa das Marianas. Mas mesmo assim nem tenho ideia da confusão que sua mente deve estar agora.

Li por mais alguns minutos e senti o meu celular vibrando. Vinte minutos para o pôr do sol. Me levantei, fazendo Natasha desviar os olhos para mim pela primeira vez em horas.

- Está na hora de ligar o farol. Quer ir comigo?

Ela pensou por alguns segundos antes de assentir. Saímos da casa e fiquei ao lado de Natasha olhando fixamente para Dodger, um claro aviso de que se ele atacasse Natasha de novo ia ficar preso. Ele entendeu o recado, abaixando a cabeça e caminhamos até o farol.

- A melhor vista da cidade é a desse farol. - sorri para Natasha, que pareceu intrigada. Abri a porta, fazendo o sensor de luz acender e deixei-a entrar primeiro. Fechei a pesada porta, subindo as escadas na frente.

Natasha parou para respirar algumas vezes e eu sorri, recebendo um olhar mortalmente fofo de resposta. Ela tropeçou, quase caíndo, mas eu segurei suas costas, rápido.

Ela olhou para mim, com as bochechas corando.

- Não é por nada, mas se você cair daqui vai provavelmente rolar até morrer. - sorri e ela revirou os olhos.

E finalmente chegamos lá em cima. Ela estava ofegante, mas seu descontentamento passou quando viu a vista. O céu alaranjado refletindo no mar lá embaixo, as ondas se quebrando nas colossais pedras.

- Wow. - ela murmurou.

- É lindo, não é? - ela assentiu. Ficamos em silêncio, esperando até ela murmurar.

- O mar é parte de mim. - disse.

A observei por alguns segundos, completamente encantado em como ela ficava linda com o sol dourado refletindo em seus cabelos de fogo, os olhos verdes como algumas partes do mar e aquela beleza insuportávelmente extraordinária. Eu estava hipnotizado, e desviei os olhos quando senti algo estranho.

- Acho que de mim também, de certo modo. - abri um sorriso triste, e ela percebeu.

- Você perdeu alguém pro mar. - constatou, rápida como um tiro.

- Você é boa em ler emoções específicas. - cruzei os braços, tentando despistar o assunto mas não funcionou. - Bem... Meu pai era biólogo marinho. Ele fazia muitas pesquisas. Eu era pequeno, não entendia. Mas quando cresci percebi que ele procurava algo. Nunca entendi o que exatamente, porque ele passou a esconder de mim as pesquisas. E eu não ligava. Comecei a fazer faculdade de biologia para seguir seus passos, e um dia quando cheguei de Jacksonville seu escritório na garagem estava vazio.

Natasha franziu o cenho.

- Ele disse que ia sair por uma semana de barco, para procurar um segredo. E que me contaria depois que voltasse. Ele era muito aventureiro. E depois de uma semana eu esperei ele voltar. E ele não voltou. Não liguei o farol naquela noite. E a cidade inteira soube que algo havia acontecido.

I Sea You - RomanogersOnde histórias criam vida. Descubra agora