Natasha ficou de frente para a TV o dia todo. Assistiu todos os programas, até um programa em espanhol.
- Você está entendendo alguma coisa? - perguntei, deitado no outro sofá com um livro na mão.
- Pensé que los humanos hablaban todos los idiomas. - ela disse, rápida e perfeitamente, me fazendo arregalar os olhos.
- Você fala espanhol. Okay, isso é novo. Já está lembrando das coisas, viu?
Não me respondeu, então voltei a ler. Eu estava me acostumando com o jeito estranho e fechado dela, embora esperasse que ela se abrisse em breve. Assim tudo ficaria mais fácil.
Mas mesmo assim eu tinha uma impressão boa sobre ela, parecia uma mulher geniosa e ao mesmo tempo calma. Mais profunda que a Fossa das Marianas. Mas mesmo assim nem tenho ideia da confusão que sua mente deve estar agora.
Li por mais alguns minutos e senti o meu celular vibrando. Vinte minutos para o pôr do sol. Me levantei, fazendo Natasha desviar os olhos para mim pela primeira vez em horas.
- Está na hora de ligar o farol. Quer ir comigo?
Ela pensou por alguns segundos antes de assentir. Saímos da casa e fiquei ao lado de Natasha olhando fixamente para Dodger, um claro aviso de que se ele atacasse Natasha de novo ia ficar preso. Ele entendeu o recado, abaixando a cabeça e caminhamos até o farol.
- A melhor vista da cidade é a desse farol. - sorri para Natasha, que pareceu intrigada. Abri a porta, fazendo o sensor de luz acender e deixei-a entrar primeiro. Fechei a pesada porta, subindo as escadas na frente.
Natasha parou para respirar algumas vezes e eu sorri, recebendo um olhar mortalmente fofo de resposta. Ela tropeçou, quase caíndo, mas eu segurei suas costas, rápido.
Ela olhou para mim, com as bochechas corando.
- Não é por nada, mas se você cair daqui vai provavelmente rolar até morrer. - sorri e ela revirou os olhos.
E finalmente chegamos lá em cima. Ela estava ofegante, mas seu descontentamento passou quando viu a vista. O céu alaranjado refletindo no mar lá embaixo, as ondas se quebrando nas colossais pedras.
- Wow. - ela murmurou.
- É lindo, não é? - ela assentiu. Ficamos em silêncio, esperando até ela murmurar.
- O mar é parte de mim. - disse.
A observei por alguns segundos, completamente encantado em como ela ficava linda com o sol dourado refletindo em seus cabelos de fogo, os olhos verdes como algumas partes do mar e aquela beleza insuportávelmente extraordinária. Eu estava hipnotizado, e desviei os olhos quando senti algo estranho.
- Acho que de mim também, de certo modo. - abri um sorriso triste, e ela percebeu.
- Você perdeu alguém pro mar. - constatou, rápida como um tiro.
- Você é boa em ler emoções específicas. - cruzei os braços, tentando despistar o assunto mas não funcionou. - Bem... Meu pai era biólogo marinho. Ele fazia muitas pesquisas. Eu era pequeno, não entendia. Mas quando cresci percebi que ele procurava algo. Nunca entendi o que exatamente, porque ele passou a esconder de mim as pesquisas. E eu não ligava. Comecei a fazer faculdade de biologia para seguir seus passos, e um dia quando cheguei de Jacksonville seu escritório na garagem estava vazio.
Natasha franziu o cenho.
- Ele disse que ia sair por uma semana de barco, para procurar um segredo. E que me contaria depois que voltasse. Ele era muito aventureiro. E depois de uma semana eu esperei ele voltar. E ele não voltou. Não liguei o farol naquela noite. E a cidade inteira soube que algo havia acontecido.
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I Sea You - Romanogers
RomanceSteve Rogers tem uma profissão muito incomum: ele é o faroleiro de Stone Bay, cidadezinha da Flórida, vizinha do temido Triângulo das Bermudas. Steve desistiu da faculdade há cinco anos atrás, após seu pai desaparecer no mar de forma misteriosa e se...